Sexta-feira da Semana
Santa. Dia de silenciar. Silenciar para que
possamos cair em nós mesmos, sem nos deixarmos envolver pelos barulhos
dispersivos, alienantes. O voltar-se para si próprio nos desmascara. A
experiência necessária do “conhecer-se como se é conhecido” para ultrapassar
preconceitos, oferecer-se ao saber ouvir e dispor-se à revisão de atos e
condutas. Não somos seres imutáveis, acabados, monolíticos. Não! Somos, na
medida em que nos abrimos, nos revelamos, vale dizer, tiramos os véus que nos
aprisionam e, assim, partilhamos a construção cotidiana do bem comum.
Sexta-feira da Semana
Santa. Dia de meditar. Meditar sobre o porquê de tantos acontecimentos de
tempos recentes para cá, em nosso Brasil, tão estarrecedores. Por que a vida
humana, mesmo no seu desabrochar, crianças, são assassinadas, brutalmente? Por
que a postura de apregoar que todos nos armemos? Por que a difusão de gestos a
mostrar revólveres, que matam? Por que enunciarmos palavras e considerarmos
irmãs e irmãos nossos, porque todas e todos, brasileiras e brasileiros, como
inimigos a serem destruídos?
Respondo com palavras
tão exatas do Papa Francisco, lidas na sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, e
postas sob o título: “Recuperar a Amabilidade”:
“222. O
individualismo consumista provoca muitos abusos. Os outros tornam-se meros
obstáculos para a agradável tranquilidade própria e, assim, acaba-se por tratá-los
como incômodos, o que aumenta a agressividade. Isso acentua-se e atinge níveis
exasperantes em períodos de crise, situações catastróficas, momentos difíceis
quando aflora o espírito do salve-se
quem puder. Contudo, ainda é possível optar pelo cultivo da amabilidade. Há
pessoas que fazem isso, tornando-se estrelas
no meio da escuridão”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti – nº 222 – pg. 115 –
grifos do original e meus).
Acrescento: a
insensibilidade perene, característica peculiar de quem em tudo vê-se em campo
de batalha, e em todas e em todos, que não estão no seu círculo, os têm como
inimigos a serem abatidos, essa insensibilidade glacial, manipuladora através
de bem orquestrado manejo das fake news,
certamente é a causa de situações e fatos, que nos dilaceram.
Sexta-feira da Semana
Santa. Dia de motivar. Motivar para que não nos deixemos letargiar por esse
estado de coisas e adotemos cotidianos comportamentos que o superem,
dissolvendo-o, para que não mais volte, tal estado de coisas, a acontecer em
nosso Brasil.
Mais uma vez, o
ensinamento do Papa Francisco:
“223. São Paulo designa
um fruto do Espírito Santo com a palavra grega chrestotes (Gl 5, 22), que expressa um estado de ânimo não áspero,
rude, duro, mas benigno, suave, que sustenta e conforta. A pessoa que possui
essa qualidade ajuda os outros para que a sua existência seja mais suportável,
sobretudo quando sobrecarregados com o peso dos seus problemas, urgências e
angústias. É um modo de tratar os outros que se manifesta de diferentes formas:
amabilidade no trato, cuidado para não magoar com as palavras ou os gestos, como
tentativa de aliviar o peso dos outros. Supõe “dizer palavras de incentivo, que
reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam” em vez de “palavras que humilham,
angustiam, irritam, desprezam” (AL. nº 100) ... O exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante, nem uma
atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura em uma sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as
relações sociais, o modo de debater e confrontar as ideias. Facilita a busca de
consensos e abre caminhos onde a exasperação destrói todas as pontes”. (Carta
Encíclica Fratelli Tutti – nº 223/224 – pg. 115/116 – grifos do original e
meus).
Que nós, brasileiras e
brasileiros, possamos recuperar a amabilidade.
Assim, a Páscoa faz,
eficazmente, sentido em nosso viver.
5 comentários:
Reflexão importante Claudio, obrigada pelas palavras.
Alice
Precisamos recuperar a amabilidade.
Obrigada, Claudio!
Excelente a reflexão Cláudio. Texto extremamente oportuno. Sou o genro do Sérgio e Lúcia. Parabéns e uma Páscoa abençoada pra você e sua família.
Olá, Marcelo: tanto agradecido por suas palavras. Envio afetuoso abraço para a Lúcia e para o Sergio. Favor transmitir-lhes. Para você e sua família, toda a Paz e todo o Bem.
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