terça-feira, 20 de dezembro de 2022

POR QUE SEMPRE ACONTECE O NATAL?

 

                  

 

Meditando sobre o significado do Natal, detive-me no porquê de sempre acontecer e escrevi essas palavras:

“O Deus-Amor nasce, a cada ano, justo para nos ensinar que não há ponto final porque somos seres extáticos, sempre saindo de nós mesmos para o encontro com os outros, todas e todos, irmãs e irmãos, e não seres estáticos, imobilizados e centrados em preconceitos de toda natureza”.

O Deus-Amor não permanece no mais alto dos céus.

Não.

Ele vem até nós; nos procura; nos chama; precisa de nós porque todo amor é comunicação, jamais solidão, e, assim, já nos ensina a viver.

Sua missão é ensinar, propondo-se a nós, jamais impondo-se porque todo amor é proposta, convite, e não imposição, comando.

Ensina-nos que “não há ponto final” daí porque seu nascimento acontece, e sempre acontecerá, enquanto vida humana houver sobre a face da terra.

Também “não há ponto final” porque “todo amor é extático” como disse um dia, num belo dia, o padre Paul Eugène Charbonneau. Com efeito, quem ama, verdadeiramente, não se contém. Necessita abrir-se; necessita oferecer-se; necessita envolver-se em família, em grupo, em sociedade.

O êxtase nos impele a sair de nós mesmos.

Gosto de dizer que “Jesus é o êxtase de Deus para a humanidade”, para nós, suas criaturas, assim tão eloquentemente por Ele amadas.

E “saímos de nós mesmos para o encontro com os outros, todas e todos, irmãs e irmãos” porque a fraternidade é a nossa meta, principalmente como cristãos.

Extraio de Piero Coda, no seu artigo “Por uma fundamentação teológica da categoria política da fraternidade”, essas palavras:

 

“1. A fraternidade é uma categoria essencialmente cristã, no sentido de que aprofunda suas raízes no evento de Jesus Cristo e, a partir desse evento, abre caminho na história. Na realidade, é impressionante a marcada presença de termos como adelphós (irmão), adelphótes (fraternidade), philadelphia (amor fraterno) no Novo Testamento. Chama a atenção, de modo especial, que adelphói (irmãos) seja o termo com o qual os próprios discípulos de Cristo se denominam e que o substantivo adelphótes (fraternidade; cf. 1Pd 2, 17; 5,9) não signifique um ideal a ser conquistado, mas uma realidade alcançada, uma dádiva recebida com a qual a existência e as relações entre os cristãos se identificam. Em outras palavras, a fraternidade é a peculiaridade da comunidade cristã, a atuação da novidade realizada por Jesus e, com isso, o fermento chamado a levedar, internamente, a massa de toda a humanidade”. (leia-se: O Princípio Esquecido – pg. 77, grifos do original).

E, pontuando perspectiva sociopolítica da fraternidade, afirma:

“A segunda consequência é que Jesus crucificado e abandonado mostra o único lugar a partir do qual pode nascer e se articular uma autêntica prática de fraternidade: a partilha com quem, de algum modo, é marginalizado e excluído. Expressões como “bem-aventurados os pobres...” e “o que fizeste ao menor, a mim o fizeste” não são simples modos de dizer. Pelo contrário, indicam que a fraternidade nasce somente a partir de baixo, do identificar-se, fazer-se um com os menores, porque Cristo se colocou nessa posição. E seria completamente ilusório e historicamente ineficaz acreditar que se possa estabelecer uma fraternidade prescindindo dessa medida, sempre de novo confrontada com o aspecto concreto do semblante de quem sofre”. (livro citado – pg. 81 – grifos do original).

O autocrata se imobiliza. Centra-se hermeticamente. Manipula e disfarça. É um mito, portanto uma mentira.

Abomina o ensino, a cultura, a arte, a ciência.

 

 

Não dialoga porque é parco de ideias e de palavras.

Refletindo sobre o que chamou “Uma Nova Cultura”, o Papa Francisco, e principiando por rememorar frase tão lúcida de nosso poeta Vinicius de Moraes –“A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida” -, bem ensina:

“215. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida”. Já várias vezes convidei a desenvolver uma cultura do encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas todos compõem uma unidade rica de matizes, porque “o todo é superior à parte” (EG n. 273). O poliedro representa uma sociedade em que as diferenças convivem integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Isso implica incluir as periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspectos da realidade que não se descobrem a partir dos centros de poder onde se tomam as decisões mais determinantes”. (leia-se: Carta Encíclica Fratelli Tutti sobre a Fraternidade e a Amizade Social – pg. 112).

O fim do ano de 2022, em nosso Brasil, marca o fim de um ciclo quadrienal que há de ser lembrado para ser esquecido.

Que renasça em nós, brasileiras e brasileiros, a alegria sadia, a firme leveza no acontecer diário, o diálogo respeitoso e fundamentado nas posições divergentes, enfim que a fraternidade não seja palavra escrita, ou dita, mas que vivida seja.

 

                                                                  Paz e Bem. Feliz Natal!