quarta-feira, 27 de julho de 2016

HARMONIA

  
HARMONIA

Na revista Mundo e Missão, publicação do PIME – Pontifício Instituto das Missões -, da qual, em boa hora, tornei-me assinante, leio depoimento da irmã Silvia Leoni, missionária da Imaculada, de saída para Bangladesh:

“É a harmonia que está na base da vida do cristão e que permite a convivência do negativo com o positivo, pois confiança sem medo seria apenas ilusão, enquanto o medo sem confiança seria só destruição.” (Revista Mundo e Missão – nº 204 – agosto 2016 – pg. 43).
Detenho-me a refletir sobre essas palavras, que aguçaram o meu ser, tão logo as li.
A mensagem de Jesus centra-se na harmonia.
E por que assim?
Porque enquanto existir este mundo, em que estamos, é fantasia concluirmos que tragédias não acontecerão, que os sofrimentos cessarão.
É realidade inexorável que os dois polos por entre os quais nos conduzimos – a alegria e a dor – coexistam, dada a imperfeita condição humana.
A harmonia, expressão da paz e do amor, é que promove a reconciliação do nosso ser, quando fragmentado em si mesmo e dilacerado na relação com o outro, e porque nos reconciliamos lugar não há para divisões pessoais e coletivas.
Mas o que é a paz, pergunta-me, quem sabe em tom de desafio, o cético, como há alguns decênios vi e ouvi um cético, por esse mesmo modo, indagar o filósofo Alceu de Amoroso Lima?
Sereno, Alceu de Amoroso Lima simplesmente ensinou: “A paz é o equilíbrio no movimento”.
Sim, a paz não é a ausência de conflitos, não é o alheiar-se dos conflitos, não é o retirar-se dos conflitos. A paz, porque convive com os conflitos, é o mover-se incessantemente e jamais deprimir-se ante situações e fatos, ordinários ou extraordinários, movendo-se conscientemente, como bem orienta São Paulo – “examinai tudo e guardai o que é bom” (1 Tessalonicenses 5, 21) -, eis que movimentar-se é por-se, permanentemente, em missão; nunca recluir-se.
E o amor, o que se dirá do amor? Veja o que nos informa, sempre espalhafatosamente, a comunicação midiática e como ainda dizer do amor, continuará objetando nosso irmão cético?
Aqui, desenvolvo as ideias da irmã Silvia Leoni.
Amor não é sonho, não é idealização, não é ilusão. Porque é confiança, o amor é doação concreta e entrega real; é por-se em harmonia que, se negada, não nos conduzirá ao desistir porque, se desistimos, então o medo venceu a confiança e a consequência fatal é mesmo a destruição. Todo extremista, porque não confia absolutamente, é derrotado pelo medo e destrói, absolutamente.
No próximo dia 2 de agosto, os franciscanos, ordenados e seculares, e as irmãs clarissas, e irmãs e irmãos das terceiras ordens religiosas, celebrarão o “Perdão de Assis”, por seus 800 anos.
Em 1216, Francisco de Assis, na humilde Porciúncula, em oração, teve por Deus concedido o perdão, em indulgências, a todos quantos se arrependessem e, portanto, confessassem suas faltas.
Orar, ou seja, conversar sinceramente, é harmonizar-se com Deus. A harmonia é a sinfonia das criaturas, assim todas convergindo para Deus.
Termino com palavras do que se convencionou chamar a “Oração da Despedida”, de Jesus Cristo, a dizer, na celebração da unidade perfeita:


“Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pelas palavras deles. Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós, a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste, para que eles sejam um, como  nós somos um: eu neles, e tu em mim, para que sejam perfeitamente unidos, e o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim”. (Evangelho de São João 17, 20-23).