sexta-feira, 7 de abril de 2023

SEXTA-FEIRA DA SEMANA SANTA

 

                           

 

Sexta-feira da Semana Santa. Dia de silenciar. Silenciar para que  possamos cair em nós mesmos, sem nos deixarmos envolver pelos barulhos dispersivos, alienantes. O voltar-se para si próprio nos desmascara. A experiência necessária do “conhecer-se como se é conhecido” para ultrapassar preconceitos, oferecer-se ao saber ouvir e dispor-se à revisão de atos e condutas. Não somos seres imutáveis, acabados, monolíticos. Não! Somos, na medida em que nos abrimos, nos revelamos, vale dizer, tiramos os véus que nos aprisionam e, assim, partilhamos a construção cotidiana do bem comum.

Sexta-feira da Semana Santa. Dia de meditar. Meditar sobre o porquê de tantos acontecimentos de tempos recentes para cá, em nosso Brasil, tão estarrecedores. Por que a vida humana, mesmo no seu desabrochar, crianças, são assassinadas, brutalmente? Por que a postura de apregoar que todos nos armemos? Por que a difusão de gestos a mostrar revólveres, que matam? Por que enunciarmos palavras e considerarmos irmãs e irmãos nossos, porque todas e todos, brasileiras e brasileiros, como inimigos a serem destruídos?

Respondo com palavras tão exatas do Papa Francisco, lidas na sua Carta Encíclica Fratelli Tutti, e postas sob o título: “Recuperar a Amabilidade”:

222. O individualismo consumista provoca muitos abusos. Os outros tornam-se meros obstáculos para a agradável tranquilidade própria e, assim, acaba-se por tratá-los como incômodos, o que aumenta a agressividade. Isso acentua-se e atinge níveis exasperantes em períodos de crise, situações catastróficas, momentos difíceis quando aflora o espírito do salve-se quem puder. Contudo, ainda é possível optar pelo cultivo da amabilidade. Há pessoas que fazem isso, tornando-se estrelas no meio da escuridão”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti – nº 222 – pg. 115 – grifos do original e meus).

Acrescento: a insensibilidade perene, característica peculiar de quem em tudo vê-se em campo de batalha, e em todas e em todos, que não estão no seu círculo, os têm como inimigos a serem abatidos, essa insensibilidade glacial, manipuladora através de bem orquestrado manejo das fake news, certamente é a causa de situações e fatos, que nos dilaceram.

Sexta-feira da Semana Santa. Dia de motivar. Motivar para que não nos deixemos letargiar por esse estado de coisas e adotemos cotidianos comportamentos que o superem, dissolvendo-o, para que não mais volte, tal estado de coisas, a acontecer em nosso Brasil.

Mais uma vez, o ensinamento do Papa Francisco:

223. São Paulo designa um fruto do Espírito Santo com a palavra grega chrestotes (Gl 5, 22), que expressa um estado de ânimo não áspero, rude, duro, mas benigno, suave, que sustenta e conforta. A pessoa que possui essa qualidade ajuda os outros para que a sua existência seja mais suportável, sobretudo quando sobrecarregados com o peso dos seus problemas, urgências e angústias. É um modo de tratar os outros que se manifesta de diferentes formas: amabilidade no trato, cuidado para não magoar com as palavras ou os gestos, como tentativa de aliviar o peso dos outros. Supõe “dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam” em vez de “palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam” (AL. nº 100) ... O exercício da amabilidade não é um detalhe insignificante, nem uma atitude superficial ou burguesa. Dado que pressupõe estima e respeito, quando se torna cultura em uma sociedade, transforma profundamente o estilo de vida, as relações sociais, o modo de debater e confrontar as ideias. Facilita a busca de consensos e abre caminhos onde a exasperação destrói todas as pontes”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti – nº 223/224 – pg. 115/116 – grifos do original e meus).

Que nós, brasileiras e brasileiros, possamos recuperar a amabilidade.

Assim, a Páscoa faz, eficazmente, sentido em nosso viver.