sábado, 31 de agosto de 2019

A LUZ SEMPRE IMPERA SOBRE AS TREVAS


                          

Acabo de escrever artigo, realçando algumas frases a nos indicar modo de viver em paz, para que construamos sociedade verdadeiramente humanista, capaz de promover a mulher e o homem em sua integralidade.
Uma dessas frases, do jornalista Albert Camus, diz em seu primeiro momento:
“A lucidez supõe a resistência às tentações do ódio”.
Pois bem, deparo-me agora com condutas de procuradoras e procuradores da República do chamado “círculo da lava-jato” a expressar brutal insensibilidade e menosprezo para com episódios de tanta tristeza que, recentemente, marcaram a vida do Presidente Luis Inácio Lula da Silva: a morte de sua esposa; a morte de seu irmão; a morte de seu neto.
Por que tamanho ódio?
Perdem-se, por completo, e gravemente tisnam o seu exercício funcional esses servidores públicos quando, subvertendo totalmente a razão de ser do processo criminal, que é a busca da verdade real do fato que apresentam na peça acusatória a iniciar o processo de tal natureza, ao invés de se aterem à objetividade dos autos, que propicia o debate sereno, ainda que contundente, tudo desnaturam, transmudando-se de acusadores em perseguidores.
Um membro do “círculo da lava-jato” esta semana disse que:
“Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada: o ex-presidente Lula”. (procuradora da República Jerusa Viecili).
Logo a seguir preocupou-se ante o reconhecimento, assim explícito, da veracidade dos conteúdos das demais mensagens que o “círculo da lava-jato” com imensa desenvoltura encetou com o, à época juiz federal, Sergio Moro, afirmando então Jerusa que as outras mensagens “foram descontextualizadas ou deturpadas”, como se se pudesse estabelecer a verdade circunscrita à mera opinião pessoal, inclusive a lhe favorecer, posto que ao dizer que as demais mensagens “foram descontextualizadas ou deturpadas”, a procuradora Jerusa cai no vazio do dizer, sem demonstrar. Lastimável atitude, mormente por parte de quem desde os bancos universitários aprende, como elementar, que o que se diz deve ser provado.
O sectarismo, no “círculo da lava-jato” é eloquente.
Abdica-se de outra frase, que apresentei no mencionado artigo, agora de São Paulo:
“Importa tudo ponderar para reter o que é bom”.
O ato de acusar não deve espelhar preconceitos, emocionalismos, exacerbações.
O ato de acusar a conferir relevo à descrição fática ordenada e coerente é, por tal razão, objetivo e sóbrio.
A trilha, ainda que titubeante, aberta pela procuradora Jerusa deve ser percorrida por ela e por quem mais se disponha à revisão de condutas tão desumanas no plano pessoal e, certamente, ilegais, no pleno profissional.
“Não se ponha o sol sobre vossa ira” é o lúcido ensinamento de São Paulo aos efésios (Ef. 4, 26 b).
Os tempos de agora são sombrios porque carregados de ressentimentos e violência.
O ressentimento e a violência expressam a incapacidade de discernir e, no entanto, o discernimento é vital para o convívio civilizatório.
Discernir é atingir o cerne: a existência e a essência do que se examina.
A tanto alcançar – e também já o disse antes em artigo escrito em conjunto com três amigos meus – necessitamos firmar e afirmar princípios.
Em tempos sombrios, os princípios, mesmo os que têm natureza constitucional, são furiosamente atropelados por orquestração ensandecida em redes sociais: o ódio tudo alimenta; nada é ponderado.
Basta!
E o basta a esse estado de coisas só pode acontecer, e deve acontecer, com comportamentos concretos em defesa do convívio democrático; de atitudes de quem não se amedronta em encarar o grave erro, que se estabelece, assumindo, com independência, iniciativas e decisões que resgatem os princípios, que jamais podem ser postergados: a imparcialidade do juiz e o zelo na observância do processo judicial que nasce; se desenvolve e define-se preservada a igualdade das partes no litígio posto em Juízo: o fair trial.
Resistamos ao culto da fatalidade – segundo momento da frase de Albert Camus – porque a luz sempre impera sobre as trevas.

ÁLVARO AUGUSTO RIBEIRO COSTA – ex-Procurador Federal dos Direitos do Cidadão.
CLAUDIO LEMOS FONTELES – ex-Procurador Geral da República.
MANOEL LAURO VOLKMER DE CASTILHO – Juiz do Tribunal Regional da 4ª Região aposentado.
WAGNER GONÇALVES – ex- Procurador Federal dos Direitos do Cidadão.


terça-feira, 27 de agosto de 2019

SÃO PAULO e ALBERT CAMUS: frases ditas.


                  SÃO PAULO E ALBERT CAMUS: frases ditas.

“Examinai tudo e guardai o que for bom”.
É a orientação de São Paulo aos Tessalonicenses, na primeira carta que escreveu para essa comunidade (1 Ts. 5, 21).
“Examinai tudo”.
Examinando tudo, de plano pomo-nos em desacordo com qualquer atitude sectária.
Abdicamos, assim, de nossos preconceitos e nos colocamos abertos à disposição de ouvir e refletir sobre o que se ouve.
Nada de incessante loquacidade; nada de usarmos palavras e expressões chulas na ilusão de agradar público caracterizadamente medíocre por, justamente, alimentar-se de palavras e expressões chulas.
Examinando tudo havemos de afirmar princípios, que nos permitem estabelecer critérios e, então, assumirmos posicionamentos sérios porque embasados e fundamentados.
Examinando tudo as fake news não resistem e se evaporam.
A superficialidade, tônica da comunicação nos dias de hoje, é superada por manifestações culturais, que trazem consistência no que expressam e, portanto, apresentam – indicando que não se tem diante bando amorfo de indivíduos – pessoas capazes de revelarem, porque se revelam sem subterfúgios, o para onde caminhar e como assim fazer sua história pessoal e comunitária.
“A lucidez supõe a resistência às tentações do ódio e ao culto da fatalidade”.
É a orientação de Albert Camus no responder à sistemática censura ao exercício de sua profissão de jornalista empenhado em libertar seu país, a Argélia, da subjugação colonial.
Resistir às tentações do ódio é renunciar à violência, sobrepujando-a com a serenidade e a paz. É despir-se do comando autoritário, grosseiro, truculento, assumindo a acolhida, a gentileza, a fraternidade.
Resistir às tentações do ódio é educar-se na perseverança da mística de ser para e com o outro como compromisso irrenunciável porque não se pode tergiversar na construção cotidiana do bem comum.
Resistir, em segundo momento, ao culto da fatalidade é ser livre.
Expressa-o, muito bem, São Paulo quando diz em carta aos Gálatas:
“É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (GL. 5, 1).
Sim, a liberdade cristã radica na possibilidade infinita, enquanto vivermos, de conhecer o desconhecido; iluminar o que está oculto; movimentar o que se tornou imóvel; desamarrar o que está manietado.
Como acrescenta o padre jesuíta Jean Yves Calvez no seu artigo “Utopia Social” sobre o significado de ser cristão:
“Vivem no presente e é a partir do presente que procuram construir, mas não aceitam satisfazer-se com ele. Para eles, não há fim da história”. (in- Fonteles, Claudio – Três Momentos da Doutrina Social da Igreja – pg. 15).
Não podemos nos fechar em estruturas hierarquizadas. Não podemos nos reduzir a seres de começo, meio e fim. Devemos transcender; ultrapassarmo-nos; deixar que as surpresas aconteçam, percebendo o imperceptível. Assim, então, tudo ponderamos; ao ódio resistimos; não nos cabe a fatalidade; o bem alcançamos.