O noticiário,
em enxurrada, sobre a positiva e determinada atitude do Papa Bento XVI, como
tudo que se faz, em enxurrada, impossibilita a serena avaliação sobre seu
comportamento.
Velhos, e mal
abordados, temas são avivados; midiáticas vozes são chamadas a, em uníssono,
repetirem a desgastada tecla: líder conservador, retrógrado, fechado em esquema
pensamental ultrapassado e, assim, arrastando a Igreja católica a descompasso
em relação ao mundo.
Repito: a
enxurrada leva tudo, de roldão; compraz-se no incapacitar a análise racional e,
portanto, fundamentada.
O Papa Bento
XVI não é nada disso com que o carimbou o esquema midiático.
Eu me permito,
aqui, sugerir aos que têm diante dos olhos o que escrevo, a leitura de “Luz do
Mundo – o Papa, a Igreja e os sinais do tempo”, proveitosíssimo diálogo do Papa
Bento XVI, porque o revela tal qual é, com o arguto jornalista Peter Seewald.
Destaco, de
todo modo, alguns trechos a embasar meu posicionamento.
O Papa Bento
XVI bem apresenta o significado do ser cristão, ao dizer:
“Toda a minha vida sempre foi atravessada por um fio
condutor, este: o cristianismo confere
alegria, alarga os horizontes. Definitivamente, uma experiência vivida
sempre e somente contra seria
insuportável”. ( livro citado – pg. 27 ).
Por isso, e com
coerência, linhas adiante disse na entrevista:
“Hoje, sobretudo, o Papa tem o dever de lutar em toda parte
pelo respeito aos direitos humanos,
como íntima conseqüência da fé no fato de que o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus, e que tem uma
vocação divina. O Papa tem o dever de empenhar-se pela liberdade, contra a violência e contra as ameaças de guerra. Do profundo
de seu coração, está obrigado a lutar pela conservação do criado, a opor-se a
sua destruição.” ( livro citado – pg. 37 ).
O alegrar-se só é possível, realmente,
quando abrimos horizontes em nossa existência, porque a tristeza advém do
fechamento, da obliteração, da desunião. A liberdade abre-nos os horizontes e
nos impulsiona ao outro – alteridade -,
vocacionados todos à comunhão, porque o
ato de amar sempre é proposta à integração, jamais imposição cuja
conseqüência fatal é a desintegração, realidade vivida por tantas mulheres e
tantos homens de nosso tempo.
Tornando ao Papa Bento XVI, quando
questionado por Seewald a respeito do tema da pedofilia, deixou por bem claro
que:
“O senhor tem razão é um pecado muito grave se alguém que, na
realidade, deveria ajudar as pessoas a encontrar o caminho para Deus, alguém a
quem se confia uma criança, um adolescente, a fim de encontrar o Senhor, ao
contrário, abusa deles e os distancia do Senhor. Dessa forma, a fé, como tal, fica desacreditada, a Igreja já não pode
colocar-se de maneira convincente como anunciadora do Senhor. Tudo isso nos
perturbou, ainda hoje me convulsiona
interiormente.” ( livro citado – pg. 43 ).
Para concluir:
“Ademais, faz parte
também da verdade o fato de que devo punir quem pecou contra o verdadeiro
amor.” (livro citado – pg. 44).
Como falar-se de
atitudes de acobertamento do Papa Bento XVI?
Exposto em raciocínio
límpido e seguro, o Papa Bento XVI trata dos chamados temas atuais com
primorosa argumentação. Disse:
“Quando, por exemplo, em nome da não discriminação quer-se
constranger a Igreja Católica a mudar a própria posição no que tange à
homossexualidade ou à ordenação sacerdotal das mulheres, isto significa que já não lhe é permitido viver a própria identidade,
erigindo, ao contrário, uma abstrata religião negativa como critério tirânico último, ao qual todos devem dobrar-se. E essa
seria a liberdade, pelo simples fato de que nos livraria de tudo o que veio
antes.” ( livro citado – pg. 73/74 ).
E definitivo:
“Há o perigo de que a razão, a chamada razão ocidental,
afirme ter finalmente descoberto o que é justo e apresente uma pretensão de totalidade que é inimiga da liberdade.
Creio ser necessário denunciar com força esta ameaça. Ninguém é obrigado a ser cristão. Contudo, ninguém deve ser
constrangido a viver segundo a nova religião como se fosse a única e
verdadeira, vinculante para toda a humanidade.” ( livro citado – pg. 74 ).
Realmente, o confinar-se o componente espiritual da
pessoa à ínfima órbita da intimidade secreta, agigantando-se o espaço
racional-material do stablishment,
centrado no relativismo egocêntrico, é a
sentença totalitária do politicamente correto.
O texto já se faz longo.
Melhor, e para que não
incidamos, também, na atitude de enxurrada a tudo tragar que, em momento próximo,
permaneçamos desenvolvendo o conhecimento da pessoa do Papa Bento XVI por essa
insuspeita literatura: “Luz do Mundo – o Papa, a Igreja e os sinais do tempo.”