domingo, 17 de fevereiro de 2013

PAPA BENTO XVI


          O noticiário, em enxurrada, sobre a positiva e determinada atitude do Papa Bento XVI, como tudo que se faz, em enxurrada, impossibilita a serena avaliação sobre seu comportamento.
          Velhos, e mal abordados, temas são avivados; midiáticas vozes são chamadas a, em uníssono, repetirem a desgastada tecla: líder conservador, retrógrado, fechado em esquema pensamental ultrapassado e, assim, arrastando a Igreja católica a descompasso em relação ao mundo.
          Repito: a enxurrada leva tudo, de roldão; compraz-se no incapacitar a análise racional e, portanto, fundamentada.
          O Papa Bento XVI não é nada disso com que o carimbou o esquema midiático.
          Eu me permito, aqui, sugerir aos que têm diante dos olhos o que escrevo, a leitura de “Luz do Mundo – o Papa, a Igreja e os sinais do tempo”, proveitosíssimo diálogo do Papa Bento XVI, porque o revela tal qual é, com o arguto jornalista Peter Seewald.
          Destaco, de todo modo, alguns trechos a embasar meu posicionamento.
          O Papa Bento XVI bem apresenta o significado do ser cristão, ao dizer:
“Toda a minha vida sempre foi atravessada por um fio condutor, este: o cristianismo confere alegria, alarga os horizontes. Definitivamente, uma experiência vivida sempre e somente contra seria insuportável”. ( livro citado – pg. 27 ).
Por isso, e com coerência, linhas adiante disse na entrevista:
“Hoje, sobretudo, o Papa tem o dever de lutar em toda parte pelo respeito aos direitos humanos, como íntima conseqüência da fé no fato de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, e que tem uma vocação divina. O Papa tem o dever de empenhar-se pela liberdade, contra a violência e contra as ameaças de guerra. Do profundo de seu coração, está obrigado a lutar pela conservação do criado, a opor-se a sua destruição.” ( livro citado – pg. 37 ).
         O alegrar-se só é possível, realmente, quando abrimos horizontes em nossa existência, porque a tristeza advém do fechamento, da obliteração, da desunião. A liberdade abre-nos os horizontes e nos impulsiona ao outro – alteridade -, vocacionados todos à comunhão, porque o ato de amar sempre é proposta à integração, jamais imposição cuja conseqüência fatal é a desintegração, realidade vivida por tantas mulheres e tantos homens de nosso tempo.
        Tornando ao Papa Bento XVI, quando questionado por Seewald a respeito do tema da pedofilia, deixou por bem claro que:
“O senhor tem razão é um pecado muito grave se alguém que, na realidade, deveria ajudar as pessoas a encontrar o caminho para Deus, alguém a quem se confia uma criança, um adolescente, a fim de encontrar o Senhor, ao contrário, abusa deles e os distancia do Senhor. Dessa forma, a fé, como tal, fica desacreditada, a Igreja já não pode colocar-se de maneira convincente como anunciadora do Senhor. Tudo isso nos perturbou, ainda hoje me convulsiona interiormente.” ( livro citado – pg. 43 ).
Para concluir:
“Ademais, faz parte também da verdade o fato de que devo punir quem pecou contra o verdadeiro amor.”  (livro citado – pg. 44).
Como falar-se de atitudes de acobertamento do Papa Bento XVI?
Exposto em raciocínio límpido e seguro, o Papa Bento XVI trata dos chamados temas atuais com primorosa argumentação. Disse:
“Quando, por exemplo, em nome da não discriminação quer-se constranger a Igreja Católica a mudar a própria posição no que tange à homossexualidade ou à ordenação sacerdotal das mulheres, isto significa que já não lhe é permitido viver a própria identidade, erigindo, ao contrário, uma abstrata religião negativa como critério tirânico último, ao qual todos devem dobrar-se. E essa seria a liberdade, pelo simples fato de que nos livraria de tudo o que veio antes.” ( livro citado – pg. 73/74 ).
E definitivo:
“Há o perigo de que a razão, a chamada razão ocidental, afirme ter finalmente descoberto o que é justo e apresente uma pretensão de totalidade que é inimiga da liberdade. Creio ser necessário denunciar com força esta ameaça. Ninguém é obrigado a ser cristão. Contudo, ninguém deve ser constrangido a viver segundo a nova religião como se fosse a única e verdadeira, vinculante para toda a humanidade.” ( livro citado – pg. 74 ).
Realmente, o confinar-se o componente espiritual da pessoa à ínfima órbita da intimidade secreta, agigantando-se o espaço racional-material do stablishment, centrado no relativismo egocêntrico, é a sentença totalitária do politicamente correto.
O texto já se faz longo.
Melhor, e para que não incidamos, também, na atitude de enxurrada a tudo tragar que, em momento próximo, permaneçamos desenvolvendo o conhecimento da pessoa do Papa Bento XVI por essa insuspeita literatura: “Luz do Mundo – o Papa, a Igreja e os sinais do tempo.”