Nessa semana, que findou,
aproveitei-a, e bem, para silenciar, no cotidiano.
Há tanto ruído, tanto barulho, tanta
velocidade.
Estamos todos centrados na mera
informação. Os dedos, nervosos e agitados, não param de teclar. Deglutimos as
notícias, sistematicamente bombásticas, produzidas aos borbotões, em
avassaladora superficialidade, por isso que delas somos meros repetidores,
incapazes de formular juízos críticos e fundamentados.
Como peixes, amontoados nas redes
televisivas e digitais, somos espectadores passivos do desenlace fatal: as
redes nos apanham, nos fascinam e nos prendem inexoravelmente.
As redes nos uniformizam e nos
contingenciam: tudo é relativizado; não há mais certezas de coisa alguma;
faz-se o que quiser, quando quiser, onde quiser, conquanto eu me sinta feliz e,
assim, tudo se justifica no vago, porque sempre inútil e provisório, sentimento
do bem-estar.
Despedaço-me em queda nos Alpes,
mesmo que arraste mais de cem pessoas, comigo, nessa insana trajetória, porque
já estou despedaçado e tudo o que faço é mentira para mim mesmo.
Disparo, frenética e insistentemente,
armas que me chegam às mãos por parte daqueles, que as fabricam, mas contra o
sistema dos quais digo combater, e promovo a brutalidade da morte, que me leva
à destruição pela destruição, porque já não enxergo crianças, mulheres, idosos:
mato porque já estou morto.
Corrompo e compro, corrompo e
vendo-me porque me inebrio nas orgias dos sentidos, desfigurados, alçando-me - number
one – por sobre todos e tudo, alimentando-me dos esquemas de poder e
vassalagem: os sonhos que na juventude sonhei ou os pesadelos que na juventude
pesaram-me, aos primeiros aboli, dos segundos vinguei-me extasiando-me na
ilusão de que tudo posso.
Há tanto ruído, tanto barulho, tanta
velocidade.
Alguém um dia disse: “foi para a
liberdade que eu vos fiz livres”.
Nessa semana, que findou, com o
irmão-amigo Elmo fui levar alimentos para pequena comunidade de mulheres – as
clarissas – e jovem mulher, com sua tez clara, sorriso franco, doçura no falar
e o hábito singelo nos fez viver fraternidade.
Nessa semana, que findou, com a amada
e companheira Ângela vivemos episódios tão marcantes, porque tão espontâneos,
simples e pobres em humilde comunidade.
Nessa semana, que findou, na singela
gruta, no jardim daqui de casa, onde São Francisco, de joelhos, abre-me os
braços, abraçamo-nos minha mãe Maria, Ângela, filhas e genros, filho, netos,
sobrinha e sobrinhos, e sorrimos, e cantamos: a família no encontro das
gerações.
Nessa semana, que findou, dentro de
mim, a me mover, a frase de São Paulo: “É para a liberdade que Cristo nos
libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”
(Gl. 5,1).