Os autocratas de todos
os matizes, centrados no egocentrismo doentio, fingem escutar, quer só
escutando os que lhe são subservientes, quer não escutando os que se lhes
apresentam para o diálogo seguro e construtivo.
Não respeitam,
menosprezam. Atacam e satanizam, fazendo do opositor não o adversário a ser
ouvido, mas o inimigo a ser destruído.
Apontando,
objetivamente, caminhos, disse o Papa Francisco:
“Sublinhei a vocação do Cazaquistão a ser País do encontro:
com efeito, nele convivem cerca de cento e cinquenta grupos étnicos e falam-se
mais de oitenta línguas. Esta vocação, que se deve às suas características
geográficas e à sua história – esta vocação de ser país de encontro, de
cultura, de línguas – foi acolhida e abraçada como um caminho, que merece ser
encorajado e apoiado. Também formulei votos para que ela possa prosseguir a
construção de uma democracia cada vez mais madura, capaz de responder
eficazmente às necessidades da sociedade como um todo. É uma tarefa árdua, que
leva tempo, mas já se deve reconhecer que o Cazaquistão fez escolhas muito
positivas como a dizer não às armas
nucleares e a de boas políticas energéticas e ambientais. Isto foi corajoso.
Num momento desta trágica guerra onde alguns pensam em armas nucleares – uma
loucura – este país já desde o início disse
não às armas nucleares”. (Palavras do Papa Francisco na Audiência Geral do
dia 21 de setembro passado, na Praça de São Pedro, grifos do original).
“Fazer escolhas muito positivas,
como dizer não às armas nucleares e a de boas práticas energéticas e
ambientais”.
Sim, o encontro propicia
o abandono das táticas de supremacia belingerante e a inserção no convívio
enriquecedor da alteridade. O encontro também nos ensina que habitamos a casa
comum, presente do Deus-Amor, presente que se descobre no perene cuidado para
com os cenários vivos da natureza, que nos acolhe, abriga e alimenta.
Recordo-me, aqui, das
estrofes iniciais da canção “Irmão Sol, Irmã Lua”, ode à pessoa maravilhosa que
foi, é e sempre será em nossos corações, Francisco de Assis, estrofes assim
apresentadas:
“Doce é sentir
em meu coração
humildemente
vai nascendo o amor
Doce é saber
não estou sozinho
sou uma parte
de uma imensa vida
que generosa
reluz em torno a mim”.
No entanto, estamos a
presenciar a estupidez da guerra Rússia-Ucrânia.
O mais grave: passado o
momento da comoção coletiva, dita guerra cristalizou-se no nosso cotidiano e
famílias continuamente despedaçadas, vidas seguidamente desfeitas, êxodo permanentemente
dilacerante não nos incomodam porque não mais motivam o noticiário e,
descuidados com o que acontece, simplesmente deletamos o que não nos atinge.
Como dizer que a guerra,
ou conflitos aos pedaços, não nos atinge porque, geograficamente, longe de nós,
ou mesmo restrita a espaço delimitado?
Eis a mais nítida
constatação da insensibilidade, expressa no fechamento xenófobo, que dissemina
o preconceito, o ódio, a violência a caracterizar comportamentos pessoais e
coletivos.
Mais uma vez as palavras
do Papa Francisco, na Audiência já aqui mencionada, como que partilhando a
experiência que viveu por ocasião do 7º Congresso de Líderes das religiões
mundiais e tradicionais, acontecido no Cazaquistão:
Disse o Papa:
“Esta iniciativa realiza-se há vinte anos pelas Autoridades
do país, que se apresenta ao mundo como lugar de encontro e de diálogo, neste
caso a nível religioso e, portanto, como protagonista na promoção da paz e da
fraternidade humana. Foi a sétima edição deste congresso: um país que tem 30 anos
de independência, realizou já 7 edições destes congressos, um a cada três anos.
Isto significa colocar as religiões no centro do compromisso para a construção
de um mundo onde nos escutamos e respeitamos na diversidade. E isto não é
relativismo, não: é escutar e respeitar
(trecho lido na Audiência Geral de 21 de setembro – grifos meus).
É fundamental que
mulheres e homens de boa vontade, congregados, ou não, em religiões, mas todas
e todos congregados, vocalizem e atuem em congressos, declarações, passeatas
celebrativas, exercitando e assumindo, portanto e concretamente, comportamentos
e atitudes que resgatem, realçando e comprometendo-se, também em protagonismo,
com o destino da humanidade, que não pode ser monopolizado pelo poder
econômico-tecnocrático, que instrumentaliza, sobrepondo-se e servindo-se, a
atividade política, assim amesquinhada.
Encerro, transcrevendo,
muito a propósito, a conclusão da Declaração firmada pelo Papa Francisco e por
Ahmed Al-Tayyeb, Grão Iman de Al-Azhar, em Abu Dabhi, no dia 4 de fevereiro de
2019:
“Ao concluir, almejamos que esta Declaração:
Seja um convite à
reconciliação e à fraternidade
entre todos os crentes, mas ainda entre os crentes e os não-crentes, e entre
todas as pessoas de boa vontade;
Seja um apelo a toda consciência viva que repudia a violência aberrante e o
extremismo cego; um apelo a quem ama os valores da tolerância e da
fraternidade, promovidos e encorajados pelas religiões;
Seja um testemunho da grandeza da fé em Deus, que une os
corações e eleva a alma humana;
Seja um símbolo do abraço entre o Oriente e o Ocidente,
entre o Norte e o Sul e entre todos aqueles que acreditam que Deus nos criou
para nos conhecermos, cooperarmos entre nós e vivermos como irmãos que se amam.
Isto é o que esperamos e tentaremos realizar a fim de
alcançar uma paz universal de que gozem todos os homens nesta vida. (grifos do
original).
Paz e Bem.