sexta-feira, 12 de outubro de 2012

TEMPO DE INICIAR e TEMPO DE FINALIZAR

                   São ganhadores do prêmio Nobel de Medicina, para este ano de 2012, dois cientistas: John Gurden e Shinya Yamanaka.

                E o que fizeram para a humanidade esses pesquisadores?

                Descobriram que células maduras, células que estão por toda a parte do nosso corpo, as chamadas células-tronco adultas, podem ser reprogramadas para regredir ao seu estágio inicial, aptas, assim, a adquirir todas as potencialidades.

                Por isso, a nota da Academia que os laureia diz: “Suas descobertas revolucionaram nosso conhecimento de como as células se organizam e se desenvolvem”.

                Com efeito, insistia-se e ainda se insiste – e os órgãos de informação não cuidam de esclarecer que há dois ( 2 ) tipos de pesquisa: as que usam embriões humanos ( células-tronco embrionárias ), matando a vida já presente no útero, e as que usam as células do próprio corpo, já formado, sem eliminar a vida ( células-tronco adultas ) – na pesquisa com células-tronco do embrião humano, que nunca apresentou resultado, sequer confiável, e, reitero, propicia a criação de abjeto mercado obscuro, descontrolado, de compra e venda de embriões humanos, desnaturando o ser humano, transformado que é em mercadoria de uso, realidade tão típica da sociedade insensível, glacial, que tudo reduz a concepções relativistas e mecanicistas.

                Gurden e Yamanaka sepultam essa linha de pesquisa.

                Com efeito, se do próprio corpo humano, vivo, extraem-se células, que se reprogramam, como disse, ao estágio inicial de amplas potencialidades – e as células são do próprio corpo do paciente o que, por óbvio, diminui, caracterizadamente, o índice de rejeição – por que permanecer na matança de embriões humanos, fazendo perdurar quadro de verdadeiro holocausto?

                A vida humana jamais pode ser manipulada, torturada, trucidada, assassinada!

               Nos dias de hoje, de tanta superficialidade, de tanta massificação, de tanta violência precisamos assumir comportamentos claros e concretos contra esse estado de coisas.

                Precisamos testemunhar, com ações, o empenho na formação de sociedade verdadeiramente humanista, importando então, aqui e agora, reviver palavras tão lúcidas de Emmanuel Mounier:

“A idéia de um gênero humano com uma história e destinos coletivos, donde não pode ser separado nenhum destino individual, é uma idéia básica para os Padres da Igreja. Laicizada, vai animar o cosmopolitismo do século XVIII e mais tarde o marxismo. Opõe-se à idéia de uma descontinuidade absoluta entre as liberdades ( Sartre ) ou entre as civilizações ( Malraux, Frobenius ). Opõe-se a todas as formas de racismos ou castas, à eliminação dos anormais, ao desprezo pelo estrangeiro, à totalitária negação do adversário político, numa palavra e em geral, à constituição de homens à parte: um homem mesmo diferente, mesmo degradado, é sempre um homem, a quem devemos permitir que viva como homem.”
( consulte-se: O Personalismo – pg. 55, grifei ).

                O próprio existencialismo de Jean Paul Sartre não deixa de abordar o componente transcendente no humanismo, encarando-o, todavia, na subjetividade humana. Diz Sartre:

 “Existe, no entanto, outro sentido para o humanismo, que significa, no fundo, o seguinte: o homem está constantemente fora de si mesmo; é projetando-se e perdendo-se fora de si que ele faz o homem existir e, por outro lado, é perseguindo fins transcendentes que ele é capaz de existir; sendo essa superação e apropriando-se dos objetos apenas em relação a essa superação, o homem está no coração, no centro dessa superação. Não há outro universo senão um universo humano, um universo da subjetividade humana. Essa ligação da transcendência, como constitutiva do homem – não no sentido em que Deus é transcendente, mas no sentido da superação – e da subjetividade no sentido em que o homem não se encontra encerrado nele mesmo, mas sempre presente num universo humano, é o que denominamos de humanismo existencialista.”
( consulte-se: O existencialismo é um humanismo – 9g. 43-44, grifei ).

                Todavia, aqui pondero com Mounier:

O ultrapassar da pessoa por si própria não é somente projeto, é elevação ( Jaspers ), passar para além de. O ser pessoal é um ser feito para se ultrapassar. Tal como a bicicleta ou o avião só se equilibram quando se movem para lá de uma dada força, o homem só se mantém de pé com um mínimo de força ascensional. Quando perde altura não se rebaixa ao plano de uma qualquer humanidade moderada, ou, como foi dito, da animalidade, mas muito abaixo do animal: nenhum ser vivo, a não ser o homem, inventou as crueldades e baixezas em que este ainda se compraz.”
( consulte-se: O Personalismo – pg. 87, grifei ).

                Que a leitora e o leitor me perdoem esses devaneios.

                Saúdo, porque em coerência plena com tudo o que até aqui disse, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB – que, justamente ao ensejo das discussões travadas sobre a morte de embriões humanos para – já o afirmei e repito – o tratamento fracassado e infrutífero das doenças degenerativas, saúdo a CNBB, enfatizo, porque criou a Semana Nacional em Defesa da Vida, que celebramos de 1º a 7 de outubro, anualmente, e destacou o dia 8 de outubro, como o Dia do Nascituro.

                Que o Parlamento brasileiro não se acovarde diante da tremenda manipulação com que esse tema é tratado e, expressando firme compromisso com a sociedade humanista, aprove, enviando à sanção presidencial, o Estatuto do Nascituro, a que componha, com o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso, o quadro normativo capaz de garantir a vida humana nos seus momentos mais frágeis: o tempo de iniciar e o tempo de finalizar.