sexta-feira, 10 de junho de 2011

VASCO DA GAMA






              Rio de Janeiro, bairro da Tijuca, 6 anos de idade e a voz do meu avô, Domingos Joaquim de Azevedo Lemos, português firme e discreto: “Ó menino, vamos a São Januário a vibrar com o Vasco da Gama.”

              Lá ia eu, todo feliz, e São Januário atmosfera de puro encanto. Até hoje, neste instante em que escrevo, sensação de encanto do gramado, da arquibancada, do foguetório, da torcida, do grito e dos pulos de gol, tantas e tantas vezes vivido e repetido.

              Ser vascaíno é ser vibração e empenho.

              Vibração e empenho que encaram e se opõem à discriminação racial, e de classe.

              Quebrar tabus e ser campeão com time de irmãos negros e operários.

              Vibração e empenho que enaltecem a pessoa do atleta, o protagonista maior do clube.

              Quebrar tabus e eleger Presidente do Vasco da Gama, Roberto Dinamite ídolo maior do futebol.

              Vibração e empenho que nos momentos difíceis que nos conduziram à mentalidade truculenta e arbitrária, ao descalabro administrativo-financeiro, ao comprometimento do que é, verdadeiramente, ser agremiação esportiva, não nos permitiu sucumbir, fez-nos acreditar, perseverar, porque o “Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor” e, por isso, “o sentimento não pode parar”, nunca.

              Brasília, bairro do Lago Norte, 64 anos de idade, e a voz do meu avô, Domingos Joaquim de Azevedo Lemos, português firme e discreto, não mais audível, mas agora no mais íntimo espaço do meu coração: “Ó menino, vamos a São Januário a vibrar com o Vasco da Gama.”

              Eu vou, sim, meu vovô. E um dia, por certo, e por toda a eternidade, nós dois e multidão incalculável de vascaínas e vascaínos, aí de cima, faremos parte da torcida: “Vascaínos no Paraíso, sempre”.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

24 horas, só por hoje, funciona

         “24 horas, só por hoje, funciona” não significa, em absoluto, novo “slogan” para que nos enquadremos, todos, tão ao gosto da mídia novelesca, no comportamento mundano de curtir, desvairadamente, a vida, gozando-a, a nosso bel prazer, com quem quisermos, quando quisermos, como quisermos.

         “24 horas, só por hoje, funciona” é expressão forte, quase prece, de minhas irmãs, de meus irmãos, e eu com elas e com eles, todos, na luta pessoal, e comunitária, contra a escravidão da droga e da dependência ao álcool.

         “24 horas, só por hoje, funciona” é a afirmação de que nós não nos bastamos; de que é preciso reconhecer limites, cuja prova mais eloqüente é a certeza de que nosso viver, no mundo, tem fim inexorável.

         “24 horas, só por hoje, funciona” se quebramos o preconceito e, então, acolhemos a irmã e o irmão dependente, como a nós mesmos, porque somos todos dependentes, de alguém, ou de algo, sempre. A questão está em primeiro isso admitir e, assim exposta a nossa vulnerabilidade, buscarmos socorro e irmos socorrer na oferta sincera de nossas misérias e de nossas alegrias.

         “24 horas, só por hoje funciona”, portanto, é a experiência da libertação pessoal e comunitária, porque ninguém se liberta por si só, ou para si só. O libertar-se, necessariamente, o é libertar-se com, para a vivência do outro: a alteridade. Deus é comunhão trinitária, não é solidão. Nós, que somos de filiação divina, porque tudo nos foi revelado por Jesus ( Evangelho de S. João, capítulo 10, versículo 15 ), somos libertados para o amor, porque o verdadeiro amor é oferta incondicional de si para o próximo. Ou como diz, magnificamente, o padre José Comblin, no seu livro “A Liberdade Cristã”, de leitura obrigatória para quem quer que almeje aprofundamento na fé:

“Jesus não se propõe agir sobre a lei ou as estruturas nem por meio da violência, nem por meio da persuasão ou do prestígio, nem pela entrada política, nem pela entrada ideológica, nem pela força das armas, nem pela força das idéias. A ação de Jesus consiste em uma abertura às pessoas. Agir é, para Jesus, ir ao encontro do próximo, fazer com que o próximo exista, reconhecer a presença dele, fazer com que entre no mundo como pessoa ativa. Agir é, por meio desse encontro ativo, tirar a pessoa do próximo da inexistência, da marginalização.
( pg. 126, grifei. )

         “24 horas, só por hoje, funciona”.