Meditando sobre o significado do
Natal, detive-me no porquê de sempre acontecer e escrevi essas palavras:
“O Deus-Amor nasce, a cada ano, justo para nos ensinar que
não há ponto final porque somos seres extáticos, sempre saindo de nós mesmos
para o encontro com os outros, todas e todos, irmãs e irmãos, e não seres
estáticos, imobilizados e centrados em preconceitos de toda natureza”.
O Deus-Amor não
permanece no mais alto dos céus.
Não.
Ele vem até nós; nos
procura; nos chama; precisa de nós porque todo amor é comunicação, jamais
solidão, e, assim, já nos ensina a viver.
Sua missão é ensinar,
propondo-se a nós, jamais impondo-se porque todo amor é proposta, convite, e
não imposição, comando.
Ensina-nos que “não há
ponto final” daí porque seu nascimento acontece, e sempre acontecerá, enquanto
vida humana houver sobre a face da terra.
Também “não há ponto
final” porque “todo amor é extático” como disse um dia, num belo dia, o padre
Paul Eugène Charbonneau. Com efeito, quem ama, verdadeiramente, não se contém.
Necessita abrir-se; necessita oferecer-se; necessita envolver-se em família, em
grupo, em sociedade.
O êxtase nos impele a
sair de nós mesmos.
Gosto de dizer que
“Jesus é o êxtase de Deus para a humanidade”, para nós, suas criaturas, assim
tão eloquentemente por Ele amadas.
E “saímos de nós mesmos
para o encontro com os outros, todas e todos, irmãs e irmãos” porque a
fraternidade é a nossa meta, principalmente como cristãos.
Extraio de Piero Coda,
no seu artigo “Por uma fundamentação teológica da categoria política da
fraternidade”, essas palavras:
“1. A fraternidade é uma categoria essencialmente cristã, no
sentido de que aprofunda suas raízes no evento de Jesus Cristo e, a partir
desse evento, abre caminho na história. Na realidade, é impressionante a
marcada presença de termos como adelphós
(irmão), adelphótes (fraternidade), philadelphia (amor fraterno) no Novo
Testamento. Chama a atenção, de modo especial, que adelphói (irmãos) seja o termo com o qual os próprios discípulos de
Cristo se denominam e que o substantivo adelphótes
(fraternidade; cf. 1Pd 2, 17; 5,9) não signifique um ideal a ser conquistado,
mas uma realidade alcançada, uma dádiva recebida com a qual a existência e as
relações entre os cristãos se identificam. Em outras palavras, a fraternidade é
a peculiaridade da comunidade cristã, a atuação da novidade realizada por Jesus
e, com isso, o fermento chamado a levedar, internamente, a massa de toda a
humanidade”. (leia-se: O Princípio Esquecido – pg. 77, grifos do original).
E, pontuando perspectiva sociopolítica da fraternidade,
afirma:
“A segunda consequência é que Jesus crucificado e abandonado
mostra o único lugar a partir do qual pode nascer e se articular uma autêntica
prática de fraternidade: a partilha com quem, de algum modo, é marginalizado e
excluído. Expressões como “bem-aventurados os pobres...” e “o que fizeste ao
menor, a mim o fizeste” não são simples modos de dizer. Pelo contrário, indicam
que a fraternidade nasce somente a partir
de baixo, do identificar-se, fazer-se um com os menores, porque Cristo se
colocou nessa posição. E seria completamente ilusório e historicamente ineficaz
acreditar que se possa estabelecer uma fraternidade prescindindo dessa medida,
sempre de novo confrontada com o aspecto concreto do semblante de quem sofre”.
(livro citado – pg. 81 – grifos do original).
O autocrata se
imobiliza. Centra-se hermeticamente. Manipula e disfarça. É um mito, portanto
uma mentira.
Abomina o ensino, a
cultura, a arte, a ciência.
Não dialoga porque é
parco de ideias e de palavras.
Refletindo sobre o que
chamou “Uma Nova Cultura”, o Papa Francisco, e principiando por rememorar frase
tão lúcida de nosso poeta Vinicius de Moraes –“A vida é a arte do encontro
embora haja tanto desencontro pela vida” -, bem ensina:
“215. “A vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro na vida”. Já várias vezes convidei a desenvolver uma cultura do
encontro que supere as dialéticas que colocam um contra o outro. É um estilo de
vida que tende a formar aquele poliedro que tem muitas faces, muitos lados, mas
todos compõem uma unidade rica de matizes, porque “o todo é superior à parte”
(EG n. 273). O poliedro representa uma sociedade em que as diferenças convivem
integrando-se, enriquecendo-se e iluminando-se reciprocamente, embora isso
envolva discussões e desconfianças. Na realidade, de todos se pode aprender
alguma coisa, ninguém é inútil, ninguém é supérfluo. Isso implica incluir as
periferias. Quem vive nelas tem outro ponto de vista, vê aspectos da realidade
que não se descobrem a partir dos centros de poder onde se tomam as decisões
mais determinantes”. (leia-se: Carta Encíclica Fratelli Tutti sobre a
Fraternidade e a Amizade Social – pg. 112).
O fim do ano de 2022, em
nosso Brasil, marca o fim de um ciclo quadrienal que há de ser lembrado para
ser esquecido.
Que renasça em nós,
brasileiras e brasileiros, a alegria sadia, a firme leveza no acontecer diário,
o diálogo respeitoso e fundamentado nas posições divergentes, enfim que a fraternidade
não seja palavra escrita, ou dita, mas que vivida seja.
Paz e Bem. Feliz Natal!
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