“... o que ouvimos, o que vimos com
os nossos olhos, o que contemplamos...”, valho-me dessas expressões de São João
evangelista, que iniciam sua Primeira Carta, para dizer dos dias na cidade de
Aparecida para o Capítulo Nacional das Esteiras – 2017, da Ordem Franciscana,
no Brasil.
Mulheres e homens de várias gerações
irmanaram-se
E quando, verdadeiramente, nos
irmanamos somos dóceis e, assim, pacientes; somos alegres e, assim, “esperamos
contra toda a esperança”; somos construtores da paz e do bem e, assim, não nos
intimidamos em tempos de desordem e fragmentação.
Preferimos, Ângela e eu, as 38 horas
de ônibus – o percurso Brasília-Aparecida-Brasília- e o singelo hotel, com o
sintomático nome de Libertador, em cenário que, para nós, equivaleu ao
caminhar, carregando e repousar, estendendo, as esteiras.
Ouvimos as vozes femininas e
masculinas a dizer de si, no sair de si, e realizar o encontro fraterno, que
testemunha o envolvimento consciente e firme para marcar a adesão contínua ao
convite de Deus para o acolher e cuidar de nós mesmos; de nós com o nosso outro
eu, ou seja, nossas irmãs e nossos irmãos, todas e todos, sem distinções; de
nossa casa, portanto, comum na reverência aos elementos que a compõem: a terra, que é sempre caminho; o ar, que é sempre impulso; a água, que é sempre mergulho e o fogo, que é sempre superação.
Ouvimos vozes femininas e masculinas
em cantos de celebrar, de agradecer, de conduzir. Aqui, na proposta a que nos
conduzamos no, e para, o mundo na exatidão das palavras de refrão, cantado com
tanto entusiasmo:
“Vamos todos voltar a Assis
Reviver o que Francisco viveu
Para então espalharmos pelo mundo
Paz e Bem e a Misericórdia de Deus”.
Sim, num mundo que nos centra no aqui
e agora; na absolutização do momento presente; no circunscrever-se ao que se
pode ter e ganhar, a qualquer preço; num mundo que não admite volta, devemos voltar.
Voltar e ver e
voltar a ver que é o que acontece
quando o passado se atualiza no presente, vale dizer, quando tornamos à nossa “fonte de água viva” que, jamais
secando, é guia permanente nessa nossa travessia.
Jesus,
transeunte, é a Palavra que não
passa.
Francisco,
transeunte, é a Ação que dinamiza.
Clara,
transeunte, é a Oração que sustenta.
Não nos é dado esmorecer; não nos é
dado desistir.
O cansaço há de gerar a pausa, para
recomeçar; não se faz em ponto final.
Esse é o sentido das palavras de
Francisco, plenas de entusiasmo, ainda que proferidas no ocaso de sua vida,
como registradas por Tomás de Celano.
“Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos porque até agora
fizemos pouco, ou nada”. (Tomás de Celano – Primeira Vida de São Francisco –
Fontes Franciscanas – pg. 256).
Com
efeito, a perfeita adesão a Deus, por Jesus Cristo, é o caminhar infinito
porque só caminhando nos encontramos conosco; encontramos a irmã e o irmão;
encontramos nossa casa comum; e, então, encontramos o próprio Deus.
“O que ouvimos, o que
vimos, o que contemplamos” em Aparecida é a certeza de que
“o acontecer humano não é circuito fechado. Percorrendo-o,
movimentamos; movimentando, existimos em possibilidade infinita.” (Claudio
Fonteles – Três Momentos da Doutrina Social da Igreja – p15).
Encerro com o que está
posto no Compêndio da Doutrina Social da Igreja – nº 47 – pg. 39:
“Por isso, alienado é o homem que recusa transcender-se a si
próprio e viver a experiência do dom de si e da formação de uma autêntica
comunidade humana, orientada para o seu destino último, que é Deus. Alienada é
a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de
consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa
solidariedade inter-humana”.
Paz e Bem.
3 comentários:
Obrigado Dr. Fonteles
Prezado Claudio,
Obrigado por tantas palavras proféticas. Por favor, escreva sempre sobre o nosso carisma francisclariano.
abcs,
Dr. Fonteles!!!!! Que saudade do senhor!! É a Yvone, da PGR! Que alegria vê-lo escrevendo e nos enchendo, cada vez mais, de sabedoria! Um grande abraço e tudo de maravilhoso para o senhor e para os que ama!
Paz e bem!!!
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