terça-feira, 15 de agosto de 2017

CAPÍTULO DAS ESTEIRAS

                             

“... o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos...”, valho-me dessas expressões de São João evangelista, que iniciam sua Primeira Carta, para dizer dos dias na cidade de Aparecida para o Capítulo Nacional das Esteiras – 2017, da Ordem Franciscana, no Brasil.
Mulheres e homens de várias gerações irmanaram-se
E quando, verdadeiramente, nos irmanamos somos dóceis e, assim, pacientes; somos alegres e, assim, “esperamos contra toda a esperança”; somos construtores da paz e do bem e, assim, não nos intimidamos em tempos de desordem e fragmentação.
Preferimos, Ângela e eu, as 38 horas de ônibus – o percurso Brasília-Aparecida-Brasília- e o singelo hotel, com o sintomático nome de Libertador, em cenário que, para nós, equivaleu ao caminhar, carregando e repousar, estendendo, as esteiras.
Ouvimos as vozes femininas e masculinas a dizer de si, no sair de si, e realizar o encontro fraterno, que testemunha o envolvimento consciente e firme para marcar a adesão contínua ao convite de Deus para o acolher e cuidar de nós mesmos; de nós com o nosso outro eu, ou seja, nossas irmãs e nossos irmãos, todas e todos, sem distinções; de nossa casa, portanto, comum na reverência aos elementos que a compõem: a terra, que é sempre caminho; o ar, que é sempre impulso; a água, que é sempre mergulho e o fogo, que é sempre superação.
Ouvimos vozes femininas e masculinas em cantos de celebrar, de agradecer, de conduzir. Aqui, na proposta a que nos conduzamos no, e para, o mundo na exatidão das palavras de refrão, cantado com tanto entusiasmo:
“Vamos todos voltar a Assis
Reviver o que Francisco viveu
Para então espalharmos pelo mundo
Paz e Bem e a Misericórdia de Deus”.
Sim, num mundo que nos centra no aqui e agora; na absolutização do momento presente; no circunscrever-se ao que se pode ter e ganhar, a qualquer preço; num mundo que não admite volta, devemos voltar.
Voltar e ver e voltar a ver que é o que acontece quando o passado se atualiza no presente, vale dizer, quando tornamos à nossa “fonte de água viva” que, jamais secando, é guia permanente nessa nossa travessia.
Jesus, transeunte, é a Palavra que não passa.
Francisco, transeunte, é a Ação que dinamiza.
Clara, transeunte, é a Oração que sustenta.
Não nos é dado esmorecer; não nos é dado desistir.
O cansaço há de gerar a pausa, para recomeçar; não se faz em ponto final.
Esse é o sentido das palavras de Francisco, plenas de entusiasmo, ainda que proferidas no ocaso de sua vida, como registradas por Tomás de Celano.
“Vamos começar a servir a Deus, meus irmãos porque até agora fizemos pouco, ou nada”. (Tomás de Celano – Primeira Vida de São Francisco – Fontes Franciscanas – pg. 256).
Com efeito, a perfeita adesão a Deus, por Jesus Cristo, é o caminhar infinito porque só caminhando nos encontramos conosco; encontramos a irmã e o irmão; encontramos nossa casa comum; e, então, encontramos o próprio Deus.
“O que ouvimos, o que vimos, o que contemplamos” em Aparecida é a certeza de que
“o acontecer humano não é circuito fechado. Percorrendo-o, movimentamos; movimentando, existimos em possibilidade infinita.” (Claudio Fonteles – Três Momentos da Doutrina Social da Igreja – p15).
Encerro com o que está posto no Compêndio da Doutrina Social da Igreja – nº 47 – pg. 39:
“Por isso, alienado é o homem que recusa transcender-se a si próprio e viver a experiência do dom de si e da formação de uma autêntica comunidade humana, orientada para o seu destino último, que é Deus. Alienada é a sociedade que, nas suas formas de organização social, de produção e de consumo, torna mais difícil a realização deste dom e a constituição dessa solidariedade inter-humana”.

                                    Paz e Bem.



                              

3 comentários:

Anônimo disse...

Obrigado Dr. Fonteles

Anônimo disse...

Prezado Claudio,

Obrigado por tantas palavras proféticas. Por favor, escreva sempre sobre o nosso carisma francisclariano.
abcs,

Unknown disse...

Dr. Fonteles!!!!! Que saudade do senhor!! É a Yvone, da PGR! Que alegria vê-lo escrevendo e nos enchendo, cada vez mais, de sabedoria! Um grande abraço e tudo de maravilhoso para o senhor e para os que ama!
Paz e bem!!!