Homens há que tornam públicas cartas
privadas, que escrevem, e que – tamanha lástima – revelam os apegos que têm a
cargos públicos e ao loteamento dos mesmos para sempre gravitarem em torno de benesses
espúrias.
Homens há que, transtornados pela
insaciável sede de poder, maquinam ininterruptamente, engendram cotidianamente,
esquemas ardilosos, valendo-se de um séquito de capachos, que lhe são agregados
por inconfessáveis razões, irmanados todos em sucessão de barganhas.
Homens há que conspurcam até mesmo as
práticas esportivas, enlameando atividades que deveriam se notabilizar pela
competição transparente e cavalheiresca – o
fair play -, transformando o que é sadia expressão de vida para todas as
gerações em balcão corrupto de negociatas.
Homens há que, pelo mister
profissional que desempenham, deveriam conduzir-se com discrição e cingir-se a
pronunciamentos objetivamente fundamentados, mas resvalam para o estrelato e
alimentam a ávida e superficial mídia jornalística com inadequadas afirmações
porque carregadas de subjetivismo marcadamente emocional e rancoroso.
O Natal é o tempo propício para que
não pactuemos com esse estado de coisas.
Não para que nos revoltemos, não para
que percamos a esperança e nos tornemos lamurientos pessimistas, não para que
execremos e excluamos essas pessoas.
O Natal, que é nascimento, é sempre a
certeza do novo e a possibilidade presente, e real, do que nos escapa, mas que podemos alcançar: o imponderável que
ultrapassa o inexorável.
Para valer-me do Papa Francisco, em
escrito na Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia:
“Não nos deixemos cair na indiferença que humilha, no comodismo que anestesia o espírito e
impede de descobrir a novidade, no cinismo que destrói.” (Bula de
Proclamação nº 15).
Sim, a indiferença, o
comodismo e o cinismo obscurecem e impedem o sopro (= espírito) que a filiação divina nos legou, e que habita em nós,
para que não desanimemos, para que, impulsionados, estejamos, sempre, não
importa a dimensão do espaço atingido, mas estejamos, sempre, em missão.
Natal é despertar para a missão, e seguir.
Aliás, o convite do
Deus-Amor é simples e definitivo:
“segue-me”.
Jesus é o peregrino e o
peregrino não se detém.
Deixo para vocês, leitoras
e leitores de tanta paciência para comigo,
como presença, não como presente, de Natal, essas palavras de D. Helder
Câmara, lidas no livro “Um olhar sobre a cidade”:
“Se eu pudesse, à noite, no caminho das pessoas desanimadas,
pessimistas, amargas, revoltadas contra tudo e contra todos, arranjaria roda de
crianças brincando e cantando...
Se eu pudesse, na hora mais dura do enterro, quando o caixão
é colocado terra adentro, eu faria com que voasse sobre as cabeças dos
presentes um bando de passarinhos lembrando a Ressurreição.
Se eu pudesse na caminhada de quem enfrentasse estradas sem
fim, sem luz, sem companhia, faria surgir vaga-lumes alumiando o caminho.
Se eu pudesse, daria ao arco-íris a força mágica de desfazer
ódios, intrigas, divisões, de modo que ele valesse, de fato, como sinal de
entendimento, de amizade e de paz.
Ah! Se eu pudesse! E se vocês pudessem, o que aconteceria?”
2 comentários:
oi ? o senhor poderia me passar seu e-mail para eu tirar algumas dúvidas sobre o video seu que vi, onde o senhor falava sobre o conceito de Estado laico? para eu tirar algumas dúvidas?
Salve. Desculpe a demora em responder, mas não ligo o computador, diariamente (é costume jurássico, mesmo). Meu e-mail é: claudio.fonteles@yahoo.com.br
Paz e Bem,
Claudio.
Postar um comentário