segunda-feira, 29 de setembro de 2025

SER LÍDER

 

 

                                        

É necessário refletir para que se posicione, fundamentadamente, e se abra à escuta do, assim instaurado, profícuo diálogo, pedra de toque na construção cotidiana da Democracia.

Valho-me, então, de esclarecedor tópico, lido na Carta Encíclica do Papa Francisco, sugestivamente titulada “Fratelli Tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social.

Destaco, então, o número 159 desse Documento, a dizer:

“159. Existem líderes populares, capazes de interpretar o sentir de um povo, sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade. O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas degenera em um populismo insano quando se transforma na habilidade de alguém de atrair consensos a fim de instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti – nº 159 – pg. 85 – edições CNBB).

Analiso esse texto.

Realmente, o verdadeiro líder popular é aquele que “interpreta”, ou seja, volta-se e detém-se, perscrutando, “o sentir de um povo”. Não se põe, acima de, em falseamento das palavras, em profusão de fake news, ludibriando, sistematicamente, o povo, que tem como mero objeto para a satisfação de seus caprichos autoritários.

E o “sentir de um povo”, diz muito bem o Papa Francisco, se expressa “na sua dinâmica cultural” a revelar “as grandes tendências de uma sociedade”.

Há poucos dias atrás, milhares de brasileiras e brasileiros foram às ruas protestando, pacífica e ordeiramente, contra pretensões legislativas – a blindagem corporativa de parlamentares e a anistia aos que perpetraram, por ação ou omissão, gravíssimas condutas “contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (Constituição Federal – artigo 5º - inciso XLIV – in fine) – que, caracterizadamente, afrontavam o regime democrático.

Prossegue o Papa Francisco e nos diz que o líder: “presta serviço”.

“Serviço agregador e de guia para um projeto duradouro de transformação e crescimento”, vale dizer, a liderança não se perfaz em si, não se exalta a si, não é autocrata. O líder é, sempre, transitório porque presta serviço à execução de projeto inesgotável, que caracteriza o suceder das gerações. Eis porque, nessa linha de raciocínio, diz o Papa Francisco:

“projeto... que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum”.

Só o comprometer-se, concretamente, na realização do bem comum evita a excrescência na política, estampada nas reeleições infindas – o deletério profissionalismo político – e, também, na familiarização da política, traduzida na simultânea, ou na sucessiva, representação popular de avós; pais; filhos; netos; mães; esposas; filhas; netas; e por aí se vai...

O 8 de janeiro de 2022, em nosso Brasil, evidenciou a tentativa clara de violenta tomada de poder por derrotados em pleito presidencial limpo, sem qualquer mancha capaz de tisnar a sua lisura.

Sistematicamente, buscou-se criar atmosfera de descrédito no órgão máximo da Justiça brasileira – o Supremo Tribunal Federal -, principalmente em um de seus magistrados, o Ministro Alexandre de Moraes, quem, dentro do quadro legal, assumiu condizentes medidas no momento pré-processual do exame dos fatos, diante mesmo da total inércia do Procurador-geral da República de então, Augusto Aras, no realizar essa tarefa, que, também, lhe é cometida constitucionalmente.

O Ministro Alexandre de Moraes investigou, sim. Isso pode fazê-lo o magistrado, o membro do Ministério Público, a polícia. O que o magistrado não pode fazer, e o Ministro Alexandre de Moraes não o fez, é substituir-se ao Ministério Público e, então, cumular as funções de acusar, judicialmente, alguém e julgá-lo.

Tornemos, e mais uma vez, à sabedoria do Papa Francisco a dizer sobre o degenerado populismo político:

“Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade”.  (grifos nossos).

Destaco, ainda, em contribuição pessoal, esse breve pensamento.

A figura, porque é mesmo mero figurante, do “líder” marionete. Aquele que, tal qual o boneco, mostra-se em cena mas, praticamente, de nenhum conhecimento e de nenhuma formação cultural é dotado; de linguajar tosco e grosseiro, é mero objeto de manipulação nas mãos dos que o instrumentalizam porque de si próprio, nada tem: nada significa.

 

                                                               Paz e Bem.

             

 

 

 

 

 

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