domingo, 12 de maio de 2019

NÃO NOS É DADO DESANIMAR




“Onde há amor e sabedoria, não há temor nem ignorância. Onde há paciência e humildade, não há ira, nem perturbação. Onde há pobreza com alegria, não há cobiça nem avareza. Onde há quietude e meditação, não há afã nem divagação”. (Adm. nº 27).
Palavras presentes no escrito, conhecido como: “Admoestações”.
Admoestar, aqui, não significa recriminar.
Muito pelo contrário, admoestar vem do verbo latino “admoneo” que significa: “fazer pensar”; “chamar a atenção sobre”; “fortalecer alguém na busca de seu projeto de vida”. (Fontes Franciscanas – pg. 88).
Sim, muito provavelmente se não emanaram do punho de São Francisco de Assis, as Admoestações são sínteses de suas intervenções orientadoras para os irmãos em Fraternidade.
O amor afasta o temor porque amar é doar-se, sair de si mesmo, e o medo só acontece porque nos fechamos no que temos e somos e, assim enclausurados, invade-nos o medo de perder tudo o que conquistamos.
O amor não é conquista; é oferta do que se é porque expressão da sabedoria, que nos indica o outro não como objeto de conquista, mas como oportunidade única de encontro; crescimento mútuo; conhecimento pleno.
Como temer se não mais ignoro?
Amar é perceber e aguardar o tempo certo. Desnudar-se, então, do querer possessivo de tudo comandar. A humildade ensina-nos a aguardar porque não somos o centro do mundo, que nos rodeia e em torno de nós gravita.
Que ninguém nos rodeie, ou gravite em torno de nós, para que, despidos do egocentrismo narcisista, ofertemos nossas mãos as mãos de todos, no que se é, assim, fraterno.
Como perturbar-se, irar-se, se espero porque me reconheço necessitado dos demais.
O amor é sorriso e simplicidade porque o sorriso mostra o descontrair do coração e a face límpida, desfeita a sisudez e a dureza. E o sorriso verdadeiro simplesmente acontece porque diz da espontaneidade, da naturalidade.
Como cobiçar, como tornar-se avaro, se me conduz o sorriso?
O amor silencia para poder meditar. Cair em si para poder revelar-se porque “somos uma interioridade em busca de uma exterioridade”, como ensina o filósofo humanista Emmanoel Mounier.
Tempos acelerados, descompassados, midiáticos, barulhentos eis porque tão superficiais, secundários, medíocres, enganadores.
Sim, mas não nos detenhamos lamurientos e derrotados.
São Francisco a dizer de sua conversão e itinerância, tudo tão bem resumiu, quando afirmou:
“E depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o próprio Altíssimo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do Santo Evangelho”. (Testamento nº 6, 14).
Porque temos irmãs e irmãos, e elas e eles estão sempre ao nosso alcance, não nos é dado desanimar.

                                                       Paz e Bem.