terça-feira, 14 de abril de 2020

O coronavírus parou a Igreja?


                                 

Essa pergunta me dirigiu um irmão da fraternidade franciscana, e mais: pediu-me que a respondesse em artigo escrito.
A pergunta, se a considerarmos apressadamente, conduz-nos a uma resposta simplória: sim, porque as igrejas estão fechadas, vazias.
Essa resposta é típica de muitas pessoas que expressam o estado de coisas atual.
Pessoas que se comportam na superficialidade.
Fazem o que sempre fazem numa perspectiva materialista, alimentadas pelo mero consumir, por consumir, porque estão centradas em si mesmas e impelidas a gravitarem em torno do que é provisório, como se definitivo fosse, ou seja: querem o aplauso; serem vencedoras em tudo; saírem-se sempre perfeitas.
Ora, essa pandemia propicia-nos o cair em si pelo silêncio, pela oração, pela reflexão.
Recordemo-nos da parábola do filho pródigo: quando caiu em si, levantou-se e caminhou humilde, mas resolutamente, para seu Pai.
Portanto, mais do que nunca é tempo de transformar, em fundamental aprendizado a que o impostergável isolamento social nos conduz, as nossas casas em igrejas domésticas.
Abramos espaço à oração diuturna com quem está conosco; à presença real nas celebrações eucarísticas, ou de outra índole religiosa, que nos chegam pelos instrumentos de comunicação social; à leitura e reflexão sobre textos tão plenos de sabedoria, constantemente produzidos por pessoas seriamente dedicadas ao compromisso religioso.
Muito a propósito, entrego-lhes dois textos extraídos da pregação do Frei Raniero Cantalamessa, pregador oficial da Casa Pontíficia há exatos 40 anos, pregação acontecida na Sexta-Feira da Paixão do Senhor, na Basílica de São Pedro:
“A pandemia de coronavírus nos despertou bruscamente  do perigo maior que sempre correram os indivíduos e a humanidade, o do delírio da onipotência. Temos ocasião – escreveu um conhecido rabino judeu - de celebrar este ano um especial êxodo pascal, “o do exílio da consciência”. Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, que o poderio militar e a tecnologia não bastam para nos salvar. Não dura muito um homem rico e poderoso – diz um salmo da Bíblia – é semelhante ao gado gordo que se abate ( Sl. 49, 21 ). E é verdade”.
Sim, é cristalina verdade.
A pandemia é fruto do total descontrole de uma humanidade perdida pela ausência de valores eternos; perdida pela absoluta ausência do conduzir-se com sabedoria, que pede o acolher, o cuidar, o restaurar vidas em toda a sua plenitude.
Ainda o Frei Raniero Cantalamessa:
“Ele ( Deus ) deu também à natureza uma espécie de liberdade, claro, qualitativamente diversa daquela moral do homem, mas ainda assim, sempre uma forma de liberdade. Liberdade de evoluir-se segundo as leis de desenvolvimento. Não criou o mundo como um relógio pré-programado em cada mínimo movimento. É o que alguns chamam de acaso, e que a Bíblia chama, ao contrário, de sabedoria de Deus.
Portanto, toda pandemia acontece, também quando o mau uso de nossa liberdade massacra os ritmos livres da natureza.
O coronavírus não parou a Igreja.
A Igreja, porque livre nas dimensões em que se apresenta – doméstica; paroquial; diocesana – jamais será detida.
São palavras de Jesus, presentes no Evangelho de São João:
“Eu vos disse estas coisas para que, em mim, tenhais a paz. No mundo tereis aflições. Mas tende coragem. Eu venci o mundo. ( Jo. 16, 33 ).

                                                    Paz e Bem.


                    

Um comentário:

Zuleide disse...

É isso mesmo, Cláudio!
Estamos em nossas Igrejas domésticas e a Igreja continua viva.
São muitas reflexões nesse tempo de isolamento.
Que o Senhor da vida nos ajude e tenha piedade e misericórdia da humanidade sofrida.
Paz e Bem!