quinta-feira, 14 de junho de 2018

"AO ENTARDECER DESTA VIDA, EXAMINAR-NOS-ÃO NO AMOR"


        

“Nisso, um dos que estavam com Jesus estendeu a mão, puxou a espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus, porém, lhe disse: Guarda a espada na bainha! Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão”. (Mt 26, 51-52).
Assim o evangelista Mateus narra episódio acontecido quando da prisão de Jesus no Monte das Oliveiras.
Violência não conduz a nada de positivo. Antes, degrada-nos, aviltando nossa condição humana.
“Pois todos os que usam a espada, pela espada morrerão”, ou seja, as pretensas soluções, calcadas na violência, têm por fim a própria morte.
Compreende-se bem, por esse evangélico ensinamento, porque as intervenções ditatoriais estão condenadas ao fracasso; ao fim inexorável, ainda que perpassem décadas no poder, décadas de enorme retrocesso porque todas as intervenções ditatoriais aniquilam qualquer possibilidade humanista de promoção integral da mulher e do homem, coisificados em objetos de tortura e morte, vez que tudo está centralizado no paroxismo da segurança do Estado.
Com efeito, o obscurantismo, o medo, o corruptível submeter-se ao autocrático comando impregnam, declarada ou subrepticiamente, a convivência diária.
Não há mais valores absolutos. Tudo se volatiliza. Ideais são desfeitos. A mística, o buscar ultrapassar-se para o bem comum desaparece. Em seu lugar, herdeiros do arbítrio são os manipuladores, os dançarinos gestuais de poses estudadas, que se afinam com os arrogantes da excelência, e pronto: eis o cenário da perplexidade; da desesperança; eis o terreno fértil para que surjam os pseudo salvadores da pátria, da lei e da ordem, agora dotados de discursos, mas de discursos carregados de preconceitos machistas e raciais.
Dissemina-se, também, a idolatria do personagem único em polo oposto.
Atitude, por igual, deletéria.
O verdadeiro líder não é aquele que se faz em perene verdade pessoal.
Muito pelo contrário, o verdadeiro líder não é o comandante inquestionável, mas o mensageiro que, justamente, por apresentar uma mensagem de que é porta voz porque soube ouvir a tantas e a tantos, e não ditar uma ordem, propicia aos destinatários que também se sintam encorajados, porque habilitados, a serem mensageiros, que lhe sucedam.
Iniciei esta reflexão com palavras do evangelista Mateus.
Vou encerrar a reflexão com palavras do Papa Francisco, sobre outro trecho do Evangelho de Mateus, mas com plena pertinência ao aqui tratado, até porque se fazem, tais palavras, em passos seguros e concretos que podemos, e devemos, dar para que não nos domine inaceitável omissão.
“Não podemos escapar às palavras do Senhor, com base nas quais seremos julgados: se demos de comer a quem tem fome e de beber a quem tem sede; se acolhemos o estrangeiro e vestimos quem está nu; se reservamos tempo para visitar quem está doente e preso (cf. Mt 25, 31-45). De igual modo ser-nos-á perguntado se ajudamos a tirar a dúvida, que faz cair no medo e muitas vezes é fonte de solidão; se fomos capazes de vencer a ignorância em que vivem milhões de pessoas, sobretudo as crianças desprovidas da ajuda necessária para se resgatarem da pobreza; se nos detivermos junto de quem está sozinho e aflito; se perdoarmos a quem nos ofende e rejeitamos todas as formas de ressentimento e ódio que levam à violência; se tivermos paciência a exemplo de Deus que é tão paciente conosco; enfim se, na oração, confiamos ao Senhor nossos irmãos e nossas irmãs. Em cada um destes mais pequeninos está presente o próprio Cristo. A sua carne torna-se de modo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosamente por nós. Não esqueçamos as palavras de São João da Cruz: Ao entardecer desta vida, examinar-nos-ão no amor”. (leia-se a Bula Misericordiae Vultus – pg. 11).

                                                   Paz e Bem.


                                                  

3 comentários:

Anônimo disse...

As vezes levanto a espada e sem querer desatento firo quem não quero. Uma ótima lição professor Dr. Fonteles.

Anônimo disse...

Obrigado por esta pertinente reflexão, meu irmão penitente, dr. Cláudio Fontelles.
Muita paz, Thiago
OFS/RJ

alice franca leite 37 disse...

Eu também quis ser franciscana ,fui aluna do Colégio Santa Rosa de Lima em frente à nossa casa em Botafogo e fui tocada pelas irmãs progressistas ,aluna de DONA MADALENA FIÚZA ARRAES,meu melhor título e tive irmãs dominicanas que vieram lá do Araguaia do querido Casaldáliga....
Foi um prazer conhecer seu blog,Dr Cláudio....
Das Dominicanas ao PT/1979-1980 foi um pulo! Dona Madalena Arraes....adivinhe por que ela é ARRAES?Católica ativa??????????
Vou fazer 82...o tempo vôa....