sexta-feira, 6 de julho de 2012

"Estão mortos, estão sossegados"






              Essa foi a frase que ouvi, de homem jovem, funcionário público grevista do Arquivo Nacional, no piquete montado à entrada da sede, que nos impediu a mim, e a alguns membros, de equipe da Comissão Nacional da Verdade, de realizarmos trabalho nas dependências desse serviço público.

              Essa frase perturbou-me, perturba-me.

              Ela vem como resposta, em momento de diálogo que com o grupo desenvolvia, a ponderação minha sobre o trabalho da Comissão da Verdade como missão perene de resgate de tantas, e tantos, que ofertaram a própria vida, paulatinamente torturada, em defesa das liberdades democráticas, dentre elas o próprio direito de greve ante o Estado ditatorial.

              Essa frase indica a incapacidade de transcender-se para valores maiores na formação de sociedade humanista, tais: o compromisso com os marginalizados, os excluídos de todos os setores, pelo sistema economicista, que reduz a pessoa a mero dado numérico na relação custo-benefício; o empenho na educação, na cultura e na saúde, aqui contemplada a saúde alimentar, como prioritárias na formação do corpo social; o respeito à divergência, conduzindo à solução pacífica dos conflitos. Essa frase, portanto, manifesta o apego ao pragmatismo, o circunscrever-se a existência humana ao plano estritamente material.

              Essa frase é matriz de esquecimento. Retrata o círculo fechado do egocentrismo. Sepulta o ideal de tantas, e tantos, quebrando o elo que possibilita o presente como aprendizado do passado a movimentar o futuro. Essa frase exalta o instante como a própria história, assim sem sentido, assim sem rumo, entregue ao primeiro aventureiro despótico, que dela queira lançar mão. Mas a história é justamente o incessante encontro do passado, no presente, animando o futuro, em função daqueles valores maiores na formação da sociedade humanista. Por tal fundante razão, a memória é o respeito à história dos que assim se comportaram em vida, entregando a própria vida.

              Essa frase é desrespeitosa para com avós, avôs; mães, pais; filhas, filhos; netas, netos; familiares e amigos dos que estão mortos, mas são, sempre, para elas e para eles, vivos.

              Memória não é lembrança, memória é passado vivo, que vale a pena viver.

              Memória é, assim, verdade porque a verdade é o fio condutor na união do passado, presente e futuro.

              Encerro este artigo fazendo memória de Albert Camus, reiterando aqui frase sua, tão sábia, com a qual iniciei o artigo que escrevi mês passado.

A lucidez supõe a resistência às tentações ao ódio e ao culto da fatalidade.”

                                              

35 comentários:

Anônimo disse...

Embora eu não tenha os mortos do Regime Militar como heróis, ou defensores das liberdades democráticas hoje vigentes em nosso país, também achei muito infeliz, egoísta e grosseira a frase proferida pelo servidor. Sobretudo por ele próprio trabalhar num órgão que tem como uma das finalidades principais preservar a memória do Estado.

Inez Stampa e Vicente Rodrigues disse...

Podemos garantir que essa frase cruel não representa, de maneira alguma, a posição da instituição ou da maioria de seus servidores.
Somos servidores do Arquivo Nacional, lotados em sua sede no Rio de Janeiro, e aderimos à greve pelo plano de carreiras - pleito justo e urgente. Mas isso não justifica posturas como a adotada no episódio, incompatível com quem tem compromisso com o serviço público.

Antonio Laurindo disse...

Sou servidor do Arquivo Nacional e lamento pela frase dita pelo colega de Brasília. A maioria dos servidores da instituição está trabalhando e sempre trabalhou para que a nossa memória fosse preservada e disponibilizada para acesso. Identificação, organização, descrição e disponibilização de documentos fazem parte da nossa rotina diária de trabalho. Fazemos isso com muito orgulho e satisfação. Somos servidores públicos federais e o nosso trabalho é oferecer a todos os cidadãos os melhores serviços.

Ricardo Aguiar disse...

Essa frase representa - infelizmente - a atual cultura imediatista do povo brasileiro. Quero meu aumento, meu dinheiro, custe o que custar. E nem lembram que, para chegarmos à liberdade (em todos os sentidos) na qual vivemos hoje em dia, foram necessárias tantas mortes, na totalidade injustas. É o que dizem: Deus resolveu fazer um país maravilhoso, sem terremotos, tsunamis e outras catástrofes. Mas colocou nele um povinho que eu vou te contar...

zanzere disse...

Memória não é lembrança. É passado vivo. A memória é aquilo que constrói nossa identidade.
Mas a memória também é seletiva. Um eterno processo de lembranças e esquecimentos que nos constrói como pessoas.
O senhor tem toda razão, a frase do colega foi por demais infeliz. Mas o senhor também esqueceu de outras frases que sobressaíram naquele diálogo. "A ditadura está aqui dentro", disse um dos grevistas do Arquivo Nacional, lembrando a situação que vive-se hoje no órgão, com perseguições políticas, cerceamento da liberdade de expressão, coação e assédio moral, 20 anos de uma mesma pessoa a frente do órgão, o diretor Jaime Antunes, no cargo desde o governo Collor.
O senhor também não lembrou do depoimento de uma das colegas, que disse que seu pai foi perseguido político, que tem documentos sobre si no Arquivo Nacional, e que hoje é advogado da Comissão da Verdade do Ceará e apóia nossa greve. E apóia justamente porque não esqueceu que, como o senhor mesmo disse, que "Memória é (...) verdade porque a verdade é o fio condutor na união do passado, presente e futuro."
Não é possível concentrar-se nos desmandos da época das passadas ditaduras sem lembrar que até hoje práticas de tortura são utilizadas por agentes do Estado nas prisões e carceragens de nosso país. Da mesma forma, não é possível deixar de encarar o fato que, no seio da república brasileira, práticas contrárias à própria lógica republicana perpetuam-se no órgão responsável por manter viva a memória do Estado.
Os servidores do Arquivo sempre solidarizaram-se, por meio de diversas declarações de sua entidade representativa, com a causa da abertura dos arquivos e com a criação da Comissão da Verdade. Esperamos também que a Comissão da Verdade solidarize-se com nossa causa, que é um pleito justo de plano de carreira para servidores que perdem mais de 60% de seus vencimentos no momento da aposentadoria, além da substituição da direção viciada e encrustada no poder há 20 anos.
Esperamos que a Comissão da Verdade consiga enxergar o todo e analisar os processos com distanciamento e de maneira ampla.
Há que se pensar se é interessante para a Comissão da Verdade essa visão segmentada que desqualifica, a partir de um comentário infeliz, o movimento de centenas de trabalhadores. O Projeto Memórias Reveladas, a Lei de Acesso a Informação e a Comissão da Verdade são essenciais para o país. De igual maneira, os servidores do Arquivo Nacional, que permitem que essas iniciativas sejam bem sucedidas, são também essenciais.
Os servidores que revelam as memórias do país não podem mais ser esquecidos pelo governo. Plano de Carreira já! Democracia no Arquivo Nacional!
Rodrigo Aldeia Duarte - Servidor do Arquivo Nacional

zanzere disse...

Convido do senhor a entrar em contato com a Assan - Associação dos Servidores do Arquivo Nacional, para maiores esclarecimentos sobre nossa greve. Infelizmente, um comentário infeliz de um companheiro criou uma compreensão incorreta do movimento. Nosso endereço eletrônico é assan@assan.com.br
Agradecemos seu contato.

Christiano Cantarino disse...

Memória é o passado trazido à presença. Memória também é seleção. O que não é digno de ser relembrado, cai no esquecimento. As arbitrariedades cometidas pelo governo ditatorial contra aqueles que lutaram por um governo democrático não pode ser esquecidas. Devemos lembrar dessa experiência histórica como a mais alta expressão da violação dos direitos humanos na história recente de nosso país. O que aconteceu nos porões da ditadura jamais deve cair no esquecimento. Nem a verdade, nem a justiça devem ser escanteadas.
Da mesma forma, eu, enquanto servidor do Arquivo Nacional, grevista, não posso deixar cair no esquecimento as iniciativas tomadas pelos trabalhadores desse órgão no tocante ao direito à memória e à verdade. Devo lembrar, Fonteles, que nós, através da nossa entidade de classe (ASSAN), apoiamos a campanha da OAB para a abertura dos arquivos da repressão política estatal, postando em nosso boletim mensal, enviando através de mailing, disponibilizando link em nosso site, pedindo para os servidores assinarem o abaixo-assinado. Além disso, é importante frisar a relação que nós temos com entidades comprometidas com a causa, como o grupo Tortura Nunca Mais(RJ), participando de reuniões dessa entidade, apoiando e publicizando suas manifestações, como ela já nos apoiou também em nossa causa.
Da mesma forma que eu quero que as próximas gerações saibam melhor do que eu a história da ditadura, espero que o senhor conheça melhor a greve dos servidores do Arquivo Nacional e o histórico das entidades sindicais que os representam na luta pela verdade, memória e justiça.
Aproveitando o ensejo, convido-o a vir ao Rio, bem como retornar à coordenação de Brasília, para conhecer melhor os servidores e ouvir deles as suas opiniões sobre a abertura dos arquivos da ditadura e as demandas trabalhistas dos mesmos. Creio que sua avaliação sobre o nosso movimento certamente mudaria.

Anônimo disse...

O Senhor tem toda razão. A democracia pedida nos comentários anteriores, em relação a Direção do Arquivo Nacional, não se reflete na própria Associação. Sou servidor, e por motivos obvios não posso me identificar, pois diariamente ao tentar ingressar para trabalhar, eu e tentos outros somos impedidos fisicamente e ofendidos pelo comando de greve. Tachados de traidores e que deveremos ser perseguidos e hostilizados após o movimento. Após barrarem a Comissão da Verdade se vangloriavam de ter conseguido vizibilidade para a greve nas redes sociais. Na verdade conseguiram jogar o nosso Plano no lixo. A "democracia" é fazer o querem, se não somos traidores. Não existe a possibilidade de diversidade de pensamento, se não for igual a da ASSAN é tachado de ditadura. Ditadura é não deixar que cada servidor decida se quer ou não participar da greve.

Christiano Cantarino disse...

Caro anônimo,
Estranhíssimo seu comentário, pra não dizer mentiroso. Se eu acreditasse na sua fala, acharia que não haveria nenhum servidor trabalhando na instituição, o que não é verdade. Diariamente, servidores que são contra a greve entram para trabalhar. Isso é comprovado com a folha de presença. O que existe é um convencimento exaustivo, coisa completamente diferente de impedimento. Outra prova da sua falta de comprometimento com a verdade, autônomo, é que na assembleia de segunda-feira (09.07) que ocorreu na rua, quando posto em votação a continuidade da greve, nenhum voto contrário foi dado, nem nenhuma defesa pelo fim do movimento foi feita. O terceiro ponto que te desmente é que a greve foi puxada pela entidade sindical Sintrasef, que cumpriu as exigências legais para a deflagração da greve. Expus três argumentos e citei provas concretas, já você, anônimo, apenas cometeu difamação e injúria.

Anônimo disse...

Difamação? Injúria? Quem consegue entrar chega antes das 6 horas da manhã. Quem chega depois entra debaixo de xingamentos e vaias. Convide a quem tiver duvidas e ver os portões bloqueados por faixas amarradas de ponta a ponta, cadeiras, mesas e pessoas para nos constranger. Na assembléia, com um minimo de pessoas, ninmguem fala contra pra não ser vaiado e hostilizado. Hoje fiquei sabendo que esvaziaram dosi pneus do carro de um servidor que entrou. Quem não é favoravel a greve não tem mais o direito de ir e vir. Os teus argumentos são de uma associação que não tem nenhum compromisso com a verdade. Vai no facebook e veja acima da materia do impedimento da Comissaão da Verdade = " Nossa greve ganha visibilidade". Por sinal excelente vizibilidade.

Alex Bittencourt disse...

Sou servidor do órgão, lotado no RJ, assisti ao vídeo e achei de uma infelicidade ímpar. Fiquei envergonhado com a postura dos meus colegas de instituição, no caso em questão.

Peço desculpas pelo ocorrido e posso garantir que nem de longe expressa o nosso sentimento. A luta pelo plano de carreira é legítima, mas não pode se sobrepor ao respeito à memória do nosso país e ao trabalho da Comissão da Verdade.

Alex Bittencourt disse...

Anônimo, estou licenciado do Arquivo Nacional este mês, portanto não sei até que ponto os seus questionamentos procedem ou não, mas, caso sejam verdadeiros(o que não sei se é), isso significa que o "movimento" está cometendo uma ilegalidade.

Como se sabe, até haver a edição de uma lei da greve dos servidores públicos, é aplicável a lei geral, no que couber. Vale a pena destacar este trecho da referida lei:

" Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:

§ 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa."

Portanto, cuidado(repito, se for o caso de as informações prestadas pelo comentário anônimo procederem) para não darem um tiro no próprio pé, e o "movimento", que é legítimo, sem dúvida, perder a credibilidade e cair na ilegalidade.

Se isso realmente se confirmar, eu vou ser um dos que não vão ficar calados. Se tiver que ser perseguido por manifestar a minha opinião, não estou nem aí.

Abraços,

Anônimo disse...

Prezado Alex,

Infelizmente as pessoas esquecem que somos todos colegas de trabalho e que após a greve passamos a maior parte de nossas vidas no mesmo ambiente. Quando voce retornar pergunte as pessoas o que realmente está acontecendo. Um abraço,

Tiago Cesar disse...

Sr. Fonteles.

Concordo que foi infeliz a frase proferida pelo colega na ocasião.

Todavia, gostaria de fazer alguns apontamentos:

1 - O motivo da greve é justo. Sofremos sim injustiças e algumas perseguições. Assim como nos colocamos ao lado de vocês, apesar do erro, esperávamos que se colocassem ao nosso lado.

2 - Concordo que cercearam sua liberdade ao proibirem sua entrada. mas, sabendo que o órgão estava em greve, não haveria servidores para lhe atender. Mesmo que entrasse, não haveria como analisar documentos, pois quem faz esse "transporte" estava do lado de fora, e "civis" não podem ter acesso ao depósito nem mesmo a documentações sem presença de funcionários.

3 - O fato ainda está sendo motivo de debate no movimento grevista. Há unanimidade na questão da infelicidade, mas acredito realmente que foi questão de momento, ânimos exaltados. Nada que uma conversa não resolva esse mal entendido.

4 - Assim como aquela foi uma frase pessoal, esta postagem também é opinião pessoal.

5 - No mais, reitero o convite feito para o colega para retornar ao AN, seja em Brasília ou no Rio de Janeiro.

Anônimo disse...

Ué! Pode entrar no Arquivo antes das 6h??? Que estranho... cansei de ouvir relato de gente que, ao chegar antes das 7h, em dias normais de trabalho (fora de greve) foi impedida de entrar pelos seguranças...

Anônimo disse...

Após ver o vídeo no site do Globo, observei a atitude AUTORITÁRIA do sr. Cláudio Fonteles, tentando ultrapassar os grevistas com o argumento de que estava defendendo os interesses dos familiares dos desaparecidos na ditadura militar. Ora, os mortos na ditadura certamente respeitariam a manifestação dos servidores. Fonteles se utiliza do episódio para promover um discurso de valorização da democracia, mas, na verdade, tudo o que ele fez foi tentar impor autoridade e desmoralizar a greve dos servidores. A primeira coisa que Fonteles deveria fazer é reconhecer que a ditadura no Brasil nunca acabou. Ela sobrevive nas atitudes das "autoridades" e das pessoas próximas ao poder que acham que podem humilhar os trabalhadores. Respeite o servidor público.
EU TENHO VERGONHA DESSA COMISSÃO DA VERDADE!!!

Thiago Mourelle disse...

Quem proferiu esta frase com certeza fez um comentário muito infeliz. E sua colocação não reflete o pensamento dos funcionários do Arquivo Nacional, do qual faço parte. Os funcionários do Arquivo Nacional, que sempre fizeram sua obrigação enquanto servidores públicos, que é trabalhar para a preservação da documentação e, consequentemente, da memória e da História de nosso país, não merecem ter a imagem manchada por uma afirmação tola de um indivíduo. Nossa luta é justa. Não pedimos aumento, mas apenas a incorporação ao salário das gratificações, que abrangem 2/3 do salário, que são perdidas pelos aposentados, que ficam em situação de penúria depois de uma vida inteira de trabalho.

Anônimo disse...

Exatamente, sou servidor e acho q não é o momento de fazer greve. No entanto, como me ausentei da assembleia acatei a decisão dos colegas e aderi a greve. Não tenho ido todos os dias lá, mas o primeiro anônimo está mentindo com certeza, pois não se pode entrar no Arquivo Nacional antes das sete horas e pegar uma chave antes das sete e meia. Por um motivo muito simples: segurança.

Anônimo disse...

Achei as acusações daquele anônimo um tanto exageradas. Todas as greves q vi ou ouvi falar tinham cartazes, faixas e pessoas na porta tentando convencer aos fura-greves. Vaias e gritos também. Acho pouco provável q um colega fure pneu de outro q deseja entrar. A razão da greve é justa, a Comissão é q devia ter se informado a respeito da instituição onde iriam pesquisar. Se eles estão realizando atendimento ou não. Lamentável é tomar uma frase infeliz como base de uma manifestação onde tanta coisa importante foi dita, como pudemos ver no vídeo. E q não reflete, certamente, nem mesmo a opinião do próprio emissor, que provavelmente falou no calor da emoção, sem pensar.

Christiano Cantarino disse...

Caro anônimo (o que mente, não o que falou por último),
Primeiramente, gostaria de comentar sobre o que vc disse sobre entrar às 6h. É extremamente curiosa essa sua afirmação, uma vez que servidores que cursam algum curso superior, quando tentam se valer do direito do horário especial para servidor estudante, não podem iniciar suas atividades antes das 7h, mesmo eles precisando chegar mais cedo para completar a carga horária de trabalho. A alegação da Administração é a de que o funcionamento do AN começa às 7h, logo, nenhum servidor poderia trabalhar às 6h.
Em segundo lugar, gostaria de tecer comentários sobre xingamentos e vaias. Excessos podem acontecer, mas jamais é da direção do movimento. Agressões que eu vi aconteceram quando servidores civilizadamente tentavam demover outro servidor a entrar para trabalhar, através do diálogo, e acabaram sendo empurradas por pessoas, digamos, de pouca consciência cívica e política. Reforço o seu convite. Chamo a todos que vejam com seus próprios olhos o que é paranoia e o que é fato.
Outra coisa que queria dizer é sobre a sua acusação dos pneus. Se alguém fez isso, certamente se saberia, já que é uma rua movimentada, com bilheteiro etc. Meu caro, não se acusa ninguém sem provas. Para você afirmar uma coisa dessa, você tem que ter responsabilidade, apresentar provas e não ficar de leviandade. É muito sério isso que você está dizendo, sabia? Pense duas vezes antes de acusar alguém de algo. Lembre-se da máxima do Direito: o ônus da prova é da acusação.
Por último, mas não menos importante, é seu comentário sobre a suposta hostilidade em assembleia. Já houve paralisações no passado recente em que eu me coloquei contra a paralisação, defendi no microfone a minha contrariedade, votei contra a paralisação. Em nenhum momento eu fui hostilizado ou coisa parecida. Não sofri nenhuma vaia sequer, nada. Minha opinião foi respeitada e enriqueceu o debate democrático. Da mesma forma foram tratadas as pessoas que votaram contra a deflagração da greve. Aliás, elas que votaram contra a greve, estão participado ativamente da mesma, o que desfaz por completo essa falsa alegação de hostilidade para com o contraditório.
Anônimo, enriqueça o debate, traga suas ideias. É se debatendo que a gente avança. Não se furte de participar das assembleias, é lá que vive a democracia. Contribua com suas análises, traga a antítese. Não se esconda ou se abstenha do debate fraterno e democrático.

Anônimo disse...

Boa pergunta: a Comissão da Verdade já visitou o Arquivo Nacional para conhecer seus funcionários? Conhece a realidade da instituição? Garanto que descobriria informações preciosas para o objetivo da Comissão.

Anônimo disse...

Fonteles, diz aí, é bom pro governo e para o povo que um único cara fique vinte anos no mesmo cargo?

Thiago Mourelle disse...

É muito fácil não se identificar, comentar como "Anônimo" e desferir uma série de acusações despropositadas, sem sentido e sem provas. Eu acho que, se alguém teve o pneu furado, deve ir à polícia, e quem o fez deve ser preso ou sofrer as devidas responsabilidades penais.
Sobre represálias por ter "furado" a greve, nunca houve e creio que não haverá.
O que ocorre, geralmente, é o oposto: represálias a quem participou da greve. Tomara que também não ocorra.
No fim das contas, o importante na democracia é cada um respeitar a opinião alheia. A maioria absoluta votou a favor da greve e isso deve ser respeitado. Numa democracia, as instituições servem para representar os cidadãos. A ASSAN é a associação que representa os trabalhadores do Arquivo Nacional. A sua direção foi eleita democraticamente. Se você não acredita na ASSAN, lute para ela mudar, crie outra, ou forme uma chapa e concorra à direção dela. Isso é democracia.
Se você optou por não acatar a decisão da maioria, não foi à assembleia, não pediu a palavra para dar sua opinião e depois usa o nome de "Anônimo" para fazer acusações sem provas via internet, só posso lamentar. Na minha opinião, não é um comportamento digno.
Tenho certeza que, no dia em que você pedir a palavra para falar no microfone, na assembleia, a palavra lhe será dada e sua opinião ouvida.

Antonio Laurindo disse...

Acho que o assunto está sendo desviado. O blog não é uma assembleia.
Não rola ficar discutindo com anônimos.

Eliana Lobo disse...

Assim como o senhor que atuou em movimento político estudantil nos anos 60 e foi membro da Ação Popular, AP, que comandou a UNE, também lutei contra a ditadura em época distinta: militei no final dos anos 70 e início dos 80 no movimento estudantil na Universidade de Brasília e fui membro da OSI, representada pela tendência Liberdade e Luta que participou da reconstrução da UNE. Fui presa na PUC-SP em 22 de setembro de 1977 e encaminhada, junto com outros muitos militantes ao estacionamento em frente a universidade onde brucutus e a tropa de choque nos esperavam depois de sentirmos o peso das bombas e dos cassetetes. Vanglorio-me de ter enganado o coronel Erasmo Dias que foi nos prender e eu consegui escapar afirmando que não era estudante.
Este período não foi tão duro e truculento como os que seguiram o golpe de 64 mas muitos ainda tombaram, eu me lembro bem.
Lembro-me também que muitas frases me perturbaram, ditas ou ouvidas por mim e assim sempre será em momentos de tensão.
O mais perturbador nesse episódio é que a coordenação da COREG, sabedora da greve, não fez nada para solicitar o adiamento de sua visita evitando assim a exposição a qual o senhor e todos nós fomos submetidos sem necessidade.

Paulo Gouveia (Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp) disse...

"O dom de despertar no passado as centelhas da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não tem cessado de vencer." (W. Benjamin. Teses sobre a História)
As greves que fazemos hoje são um tributo à memória dos que tombaram ontem. Aos nossos mortos, nenhum minuto de silêncio: uma vida inteira de luta.
Viva a greve dos trabalhadores do Arquivo Nacional! E que a verdade dos vencidos, por fim, venha à tona!

Frederico Bittencourt disse...

Senhor Fonteles,

A verdade não se encontra em uma única frase e quem tem a missão de buscá-la deve saber disso. Se essa lhe perturbou, gostaria que o senhor ficasse mais perturbado com o contexto dessa greve. Com a situação dos trabalhadores da memória desse país. Com a ditadura de 20 anos que há no AN.

A Assan já se pronunciou sobre o compromisso dos servidores do AN com a busca da verdade e o respeito aos mortos e desaparecidos. Não creio que cabe mais ficar massacrando o autor da frase pela infelicidade. Trata-se de um servidor que só por essa greve tive o prazer de conhecer pessoalmente, como tantos massacrado dentro da instituição.

Creio que o senhor poderia aceitar o convite que aqui lhe foi feito. Voltar ao AN e ter uma conversa franca com aqueles servidores, inclusive com o autor da frase que lhe perturbou.

E torço para que lhe perturbe uma outra frase dita pelo mesmo colega naquele momento sobre a realidade do AN: "a ditadura está aqui dentro."

Anônimo disse...

Vendo os comentários anteriores, verifiquei que tem um "Anônimo" que diseeram que mente. Infelismente, ele não mentiu não, assim como ele venho sofrendo constrangimentos diariamente. O carro que esvaziaram os dois pneus é de um funcionário chamado Marcelo. A "democrática" ASSAN colocou ontem um cartaz, que vi hoje ao ir almoçar, no buraco da grade onde entraram dois servidores, que diz" entrada de ratos". Dois funcionários chamaram a polícia para tentar entrar e não conseguiram. O tal de "Fred" que está lhe convidando, pesa uns 200 quilos e mete a barriga fedorenta na frente de todo mundo que quer entrar. Senhor Fonteles, esteja certo que "eles" não representa a grande maioria dos servidores, que são educados e dedicados ao trabalho. Precisamos do Plano mas queremos entrar pra não sermos descontados, temos família e contas pra pagar, não somos filinhos de papai como essa turma. Se fizer uma visita procure os verdadeiros tecnicos e funcionários do Arquivo. Um grande abraço. Do seu outro amigo anonimo.

[me myself and I] disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
[me myself and I] disse...

Deuses meuws... esse último anônimo (claro, tem que ser anônimo) baixou muito o nível, viu... caríssimos que são contra a greve e acham que ela não é representativa: como vocês podem contestar as 180 assinaturas que diariamente apoiam a greve??? tem alguém falsificando as assinaturas???? o sindicato, talvez??? outra coisa: vocês são muito imaturos. o que acontece no Arquivo acontece em todo lugar. É assim mesmo. Quanto aos mortos, já esperamos vergonhosos vinte e três anos pela "busca da verdade." Tenho certeza que mais algumas semanas não farão a menor diferença. Viviane

Anônimo disse...

Prezados,
Compreendo que a frase dita pelo servidor, assim fora de contexto, é realmente perturbadora. Mas não podemos ceder à tentação de sermos ingênuos e simplistas. Há uma outra frase que gostaria de trazer à tona: “Há que endurecer nas sem perder as ternura”, do tão conhecido Che Guevara. Trago esta frase para podermos ampliar o olhar em relação a frase dita pelo servidor: “Estão mortos, estão sossegados”. Há dureza na frase. Dureza do pragmatismo.
Mas devemos buscar a ternura que há nela. A frase vem do coração daquele que não deixou de acreditar num sistema mais justo. A frase sai da boca daquele que está lutando por seu direito que está diretamente ligado ao futuro dos seus, ao futuro do seu país. A greve do Arquivo não é um fato isolado. Ela reflete a insatisfação de servidoras e servidores espalhados no país que lutam por melhores salários, condições de trabalho e, acima de tudo dignidade. Aí está a ternura da frase.
Senhores, nasci em 1983. Não sei o que é ver amigos tombarem. Mas sei o que é ver meninos e meninas tombarem no tráfico. Formei-me em Filosofia na UERJ. Não sei o que é assistir a aula sob o jugo de um censor. Mas sei o que é ter sua formação prejudicada pelo sucessivo sucateamento da educação pública do nível superior. Não sei o que é não poder expor as próprias ideias, mas sei o que é vê-las sendo manipuladas e distorcidas por aqueles que desejam descaracterizar uma luta legítima.
Compreendo que a ditadura é uma mancha na nossa História. Mais ainda, sei da extrema relevância da busca por respostas aos parentes e amigos das vítimas deste período. Reconheço tais vítimas como heróis de nosso passado. Porém, gostaria de chamar atenção para os heróis de nosso presente: os servidores púbicos federais que, neste momento se recusam a calar perante tantas injustiças.
Falo de pessoas como o “Seu Miguel”, herói que dedicou uma vida ao servir o país e, que na iminência da aposentadoria percebe que a mesma mal será suficiente para sua sobrevivência. Como é sabido ele terá uma perda de aproximadamente 60% de seu salário.
É contra estas e outras injustiças do presente que os companheiros lutam. E o imediatismo e pragmatismo do qual é acusado o colega vem das urgentes necessidades dos servidores e, por conseguinte, de suas famílias. Num país em que poucos ganham muito e muitos ganham tão pouco, a luta dos servidores reflete a luta por uma sociedade mais igualitária, com serviços públicos de qualidade.
Vale destacar que a greve não é só pelo aumento de salários. Há outras questões muito mais profundas, como por exemplo: a real democratização dos espaços de trabalho destes servidores; que o princípio da impessoalidade seja realmente aplicado; e que haja investimento nos estabelecimentos para que os servidores possam exercer suas funções a contento.
(CONTINUA)

Anônimo disse...

Por último, eu gostaria de discordar: a ditadura não está dentro do Arquivo Nacional. Ao menos não só lá dentro. A ditadura não acabou. Ele só mudou de cara, de roupa, mas continua com o mesmo cheiro. Podemos senti-la no ar, nas mais diversas manifestações de abuso de poder e politicagem daqueles que deveriam nos representar. Como bem disse o distópico profeta Aldous Huxley em seu prefácio a Admirável Mundo Novo:
“Não há, por certo, nenhuma razão para que os novos totalitarismos se
assemelhem aos antigos. O governo pelos cassetetes e pelotões de fuzilamento, pela
carestia artificial, pelas prisões e deportações em massa, não é simplesmente desumano (ninguém se importa muito com isso hoje em dia); é, de maneira demonstrável,
ineficiente - e numa época de tecnologia avançada a ineficiência é o pecado contra o
Espírito Santo. Um estado totalitário verdadeiramente eficiente seria aquele em que o
executivo todo-poderoso de chefes políticos e seu exército de administradores
controlassem uma população de escravos que não tivessem de ser coagidos porque
amariam sua servidão.”

Mais do que uma frase perturbadora, senhor Claudio Fonteles, perturbador deve ser o desejo de evitar as injustiças atuais.
Priscila Frisone Costa (Cidadã – Professora – esposa de Adolfo Celso – Servidor do AN/RJ)

Cadu Marconi disse...

Reitero o convite feito ao Sr. Cláudio Fonteles, para que visite a instituição, converse com os servidores e com nossa Associação representativa, de forma que possa evitar formar sua opinião a partir tão somente de uma frase fora de contexto. Conhecer e respeitar nossas demandas é honrar a luta daqueles que tombaram pelo direito coletivo à greve.

Sobre o anônimo acima, espero que possa um dia amadurecer e colocar, com nome, rosto e orgulho próprio, sua posição em uma assembleia ou em um fórum como este. Nunca baixando o nível da conversa e zombando de colegas.

Anônimo disse...

OS SERVIDORES DO AN ESTAO NA LUTA POR SEUS DIREITOS TRABALHISTAS. SEJA A UM AMBIENTE LABORAL SAUDAVEL, SEJA A UMA APOSENTADORIA DECENTE.

NA GREVE CONTINUAM CUMPRINDO SEU DEVE DE SEREM IMPARCIAIS PERANTE SUAS OBRIGACOES PARA AS QUAIS FORAM CONTRATADOS, ATRAVES DE CONCURSO PUBLICO, DE ACORDO COM A LEI 8112/90.

AOS SERVIDORES CABE O DIREITO E DEVER DE OBSERVAR ESTE PRINCIPIO DE IMPARCIALIDADE NO SERVIÇO PUBLICO. NAO LHES PODE SER COBRADO NENHUMA POSIÇÃO IDEOLOGICA OU POLITICA, OU DE QUALQUER CUNHO PARTICULAR, PRIVADO, VISTO QUE ESTA NAO E UMA FUNÇÃO DO CARGO.

Anônimo disse...

OS SERVIDORES DO AN ESTAO NA LUTA POR SEUS DIREITOS TRABALHISTAS. SEJA A UM AMBIENTE LABORAL SAUDAVEL, SEJA A UMA APOSENTADORIA DECENTE.

NA GREVE CONTINUAM CUMPRINDO SEU DEVE DE SEREM IMPARCIAIS PERANTE SUAS OBRIGACOES PARA AS QUAIS FORAM CONTRATADOS, ATRAVES DE CONCURSO PUBLICO, DE ACORDO COM A LEI 8112/90.

AOS SERVIDORES CABE O DIREITO E DEVER DE OBSERVAR ESTE PRINCIPIO DE IMPARCIALIDADE NO SERVIÇO PUBLICO. NAO LHES PODE SER COBRADO NENHUMA POSIÇÃO IDEOLOGICA OU POLITICA, OU DE QUALQUER CUNHO PARTICULAR, PRIVADO, VISTO QUE ESTA NAO E UMA FUNÇÃO DO CARGO.

ME ADMIRA AS REPRESENTAÇOES DA COMISSAO DA VERDADE NAO ATUAR COM O MESMO ESMERO.