É necessário refletir para que se posicione, fundamentadamente, e se abra à escuta do, assim instaurado, profícuo diálogo, pedra de toque na construção cotidiana da Democracia.
Valho-me, então, de esclarecedor
tópico, lido na Carta Encíclica do Papa Francisco, sugestivamente titulada
“Fratelli Tutti”, sobre a fraternidade e a amizade social.
Destaco, então, o número 159 desse
Documento, a dizer:
“159. Existem líderes populares, capazes de interpretar o
sentir de um povo, sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma
sociedade. O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para
um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a
capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas degenera em um
populismo insano quando se transforma na habilidade de alguém de atrair
consensos a fim de instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob
qualquer sinal ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua
permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando
as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso
agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das
instituições e da legalidade”. (Carta Encíclica Fratelli Tutti – nº 159 – pg.
85 – edições CNBB).
Analiso esse texto.
Realmente, o verdadeiro
líder popular é aquele que “interpreta”, ou seja, volta-se e detém-se,
perscrutando, “o sentir de um povo”. Não se põe, acima de, em falseamento das palavras, em profusão de fake news, ludibriando,
sistematicamente, o povo, que tem como mero objeto para a satisfação de seus
caprichos autoritários.
E o “sentir de um povo”,
diz muito bem o Papa Francisco, se expressa “na sua dinâmica cultural” a
revelar “as grandes tendências de uma sociedade”.
Há poucos dias atrás,
milhares de brasileiras e brasileiros foram às ruas protestando, pacífica e
ordeiramente, contra pretensões legislativas – a blindagem corporativa de
parlamentares e a anistia aos que perpetraram, por ação ou omissão, gravíssimas
condutas “contra a ordem constitucional e o Estado Democrático (Constituição
Federal – artigo 5º - inciso XLIV – in
fine) – que, caracterizadamente, afrontavam o regime democrático.
Prossegue o Papa
Francisco e nos diz que o líder: “presta serviço”.
“Serviço agregador e de
guia para um projeto duradouro de transformação e crescimento”, vale dizer, a
liderança não se perfaz em si, não se exalta a si, não é autocrata. O líder é,
sempre, transitório porque presta serviço à execução de projeto inesgotável,
que caracteriza o suceder das gerações. Eis porque, nessa linha de raciocínio,
diz o Papa Francisco:
“projeto... que implica também a capacidade de ceder o lugar
a outros na busca do bem comum”.
Só o comprometer-se,
concretamente, na realização do bem comum evita a excrescência na política,
estampada nas reeleições infindas – o deletério profissionalismo político – e,
também, na familiarização da política, traduzida na simultânea, ou na
sucessiva, representação popular de avós; pais; filhos; netos; mães; esposas;
filhas; netas; e por aí se vai...
O 8 de janeiro de 2022,
em nosso Brasil, evidenciou a tentativa clara de violenta tomada de poder por
derrotados em pleito presidencial limpo, sem qualquer mancha capaz de tisnar a
sua lisura.
Sistematicamente,
buscou-se criar atmosfera de descrédito no órgão máximo da Justiça brasileira –
o Supremo Tribunal Federal -, principalmente em um de seus magistrados, o
Ministro Alexandre de Moraes, quem, dentro do quadro legal, assumiu condizentes
medidas no momento pré-processual do exame dos fatos, diante mesmo da total
inércia do Procurador-geral da República de então, Augusto Aras, no realizar
essa tarefa, que, também, lhe é cometida constitucionalmente.
O Ministro Alexandre de
Moraes investigou, sim. Isso pode fazê-lo o magistrado, o membro do Ministério
Público, a polícia. O que o magistrado não pode fazer, e o Ministro Alexandre
de Moraes não o fez, é substituir-se ao Ministério Público e, então, cumular as
funções de acusar, judicialmente, alguém e julgá-lo.
Tornemos, e mais uma
vez, à sabedoria do Papa Francisco a dizer sobre o degenerado populismo
político:
“Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e
egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende,
com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade”. (grifos nossos).
Destaco, ainda, em
contribuição pessoal, esse breve pensamento.
A figura, porque é mesmo
mero figurante, do “líder” marionete. Aquele que, tal qual o boneco, mostra-se
em cena mas, praticamente, de nenhum conhecimento e de nenhuma formação
cultural é dotado; de linguajar tosco e grosseiro, é mero objeto de manipulação
nas mãos dos que o instrumentalizam porque de si próprio, nada tem: nada
significa.
Paz e Bem.