segunda-feira, 4 de março de 2019

O FALAR REVELA QUEM A PESSOA É


                  

“Quando se sacode a peneira, ficam nela só os refugos: assim os defeitos da pessoa, na sua maneira de opinar. Como o forno prova os vasos do oleiro, assim é a prova da tribulação para os justos. O fruto revela como foi cultivada a árvore: assim a palavra que provém do pensamento do coração. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: aí está a pedra de toque das pessoas”.  (Bíblia Sagrada – tradução da CNBB – 2001 – pg. 917).
Eis o que escreveu Jesus ben Sirac, no início do século 2º antes de Cristo, e que se põe no capítulo 27, versículos 5 a 8, do Livro do Eclesiástico, que compõe a literatura sapiencial do Antigo Testamento.
Escrito esse de Jesus ben Sirac de notável atualidade.
Com efeito, o jornal Correio Braziliense, na edição de ontem, domingo dia 3 de março, em manchete “Onda de ódio da internet”, publicada na página 5, noticia:
“A morte do neto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva invadiu as redes sociais com manifestações de apoio e também com uma onda de ódio. Internautas chegaram a comemorar a morte de Arthur, de apenas sete anos, em comentários no Facebook e no Twitter. Uma blogueira chegou a escrever menos um corrupto para roubar o país. Esse movimento de hasters ganhou força na sexta-feira quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) se manifestou contra a ida de Lula ao enterro do neto no cemitério Jardim da Colina, em São Bernardo do Campo (SP). Ele classificou o pedido como absurdo e, além de chamar o ex-presidente de larápio, afirmou que ele aproveitaria o funeral posando de coitado”. (matéria subscrita pelo repórter Bruno Santa Rita).
Sim, o falar revela quem a pessoa é.
No que veiculado pela mídia escrita, temos deputado federal, Eduardo Bolsonaro, filho do presidente da República Jair Bolsonaro, destilando e propagando ódio insano.
Insano porque motiva seja comemorada a morte de uma criança, como está dito na transcrição jornalística retro.
Insano porque espezinha a profunda dor de quem é avô e surpreendido é com morte súbita de neto.
Essa dor eu, avô, experimentei quando minha neta, Maria Clara, também contando 7 anos de idade, foi fatalmente vitimada em acidente automobilístico.
É tão cedo para dizer adeus a vidas que estão no seu desabrochar e, portanto, nos encantariam pelo hoje e pelo amanhã, que haveriam de viver...
A estúpida e cruel frase de que o avô “larápio” aproveitaria o funeral “posando de coitado” é o refugo mais abjeto porque evidencia total falta de solidariedade humana, absoluta ausência de compaixão.
Se a mediocridade, nessas palavras estampadas, óbice se faz a gestos de grandeza, que se cale.
“O fruto revela como foi cultivada a árvore”, rememoremos a transcrição feita da passagem do Livro do Eclesiástico.
Como são cultivadas pessoas que dizem tamanha barbaridade? Em que ambiente crescem?
Certamente, trazem em si mágoas, dores, frustrações profundas.
Quem sabe na infância, na adolescência, na juventude e mesmo agora na idade adulta acalentassem o sonho de crescerem num lar em paz, mesmo nas dificuldades do cotidiano, mas num lar em paz porque o amor conseguiria ter a palavra final, que respeita, que acolhe, que congrega, que incentiva, e não o comando autoritário, que tudo amedronta e suprime, assim gerando a solidão, o rancor, a agressão, o desvario.
Considero, firmemente, que também podemos nos valer do trecho lido do Livro do Eclesiástico para ilustrar o lado extremamente negativo das redes sociais.
Sacudidas, acontece, e com notável frequência, à tona virem os refugos que se mostram nas notícias falsas; na superficialidade gritante de tantos conteúdos tratados e na covarde postura de deixar-se diluir na formatação do pensamento uniforme.
Se, e com plena sabedoria, está dito no Livro do Eclesiástico: “não elogies a ninguém antes de ouvi-lo falar”, atualizando esse ensinamento é de se dizer: “não digites nada, antes de tudo bem examinar”.
Às vésperas estamos da Quaresma, tempo propício ao necessário recolhimento para a frutuosa decisão, então que nos abramos à revisão do que e do como temos vivido para que sejamos missionários do tempo que respeita, que acolhe, que congrega e que, portanto, incentiva a prática do bem.


 


Um comentário:

Unknown disse...

Grande Cláudio mais uma vez um pensamento para nos engrandecer espiritualmente me permita compartilhar esse seu pensamento para os meus próximos forte abraço Rogério