quinta-feira, 8 de setembro de 2016

SIM, SIM; NÃO, NÃO

                              

No Sermão da Montanha, para mim o núcleo central do ensinamento de Jesus Cristo, há breve frase tão plena de valiosíssima orientação para todos nós.
Diz Jesus Cristo:
“Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não”. (Evangelho de São Mateus 5, 37).
Essa frase remete-nos a nosso íntimo. Convida-nos a mergulhar no nosso próprio ser para descobrir o que somos, e agir, então conhecendo a verdade, como somos.
Nós não fomos feitos para os arranjos oportunistas, aliás não fomos feitos para arranjo algum porque o arranjo é a mentira travestida em verdade.
Nós não somos feitos para as concessões traiçoeiras com as quais nos acostumamos e delas sempre nos valemos para, inescrupulosamente, barganhar vantagens, favores, cenário de falsidades.
“Sede o vosso sim, sim; o vosso não, não”.
Essa frase nada tem de intolerância e nada tem de insensibilidade.
Essa frase liberta-nos. Liberta-nos da padronização dos estereótipos, da massificação em que nos dissolvemos, transformados em obedientes consumidores de estilo de viver repetitivo, alienado, medíocre. Se temos o que nos ofertam materialmente, se nos satisfazemos com os produtos do supérfluo erigidos em essenciais, de nós desaparece o cuidar, expressão mais pura do voltar-se para o outro, do envolver-se com o outro, do constituir o outro no seu próprio ser.
A arrogância enclausura-nos. Gracejamos, menosprezamos, humilhamos.
As notícias das degradações e das atrocidades em escala local, nacional e internacional são simples registros de conversas, dotadas essas conversas da informalidade do cotidiano ou da solenidade de foros maiores, que nada mais fazem do que reproduzir passos burocráticos dos que governam, dos que legislam, dos que julgam.
“Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não” é a dignidade de afirmar e de negar na motivação única do ato e do comportamento consciente, expressão lídima de quem desceu às próprias raízes humanas e, então, reconheceu que não nos bastamos por nós mesmos, que somos vocacionados a ir além de nós mesmos – e ir além de si mesmo é ser fraterno -, que nosso fim não tem fim porque por ele somos em Deus.
O Papa Paulo VI, na sua maravilhosa Carta Encíclica “Populorum Progressio”, leitura fundamental para nosso crescer pessoal e comunitário, ensina:
“42. É necessário promover um humanismo total. Que vem ele a ser senão o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens? Poderia aparentemente triunfar um humanismo limitado, fechado aos valores do espírito e a Deus, fonte do verdadeiro humanismo. O homem pode organizar a terra sem Deus, mas sem Deus só a pode organizar contra o homem. Humanismo exclusivo é humanismo desumano. Não há, portanto, verdadeiro humanismo, senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exata do que é a vida humana. O homem, longe de ser a norma última dos valores, só se pode realizar a si mesmo, ultrapassando-se. Segundo a frase tão exata de Pascal: O homem ultrapassa infinitamente o homem.” (leia-se: Populorum Progressio nº 42- pg. 35).

Que assim seja porque a conversão de vida, o Deus-Amor nos oferece e propõe todo dia.    

2 comentários:

Marcia Bergo disse...

Excelente reflexão, como de costume. Realmente esse ensinamento nos liberta, nunca havia enxergado dessa forma. Obrigada Professor.

Anônimo disse...

Claudio,

Escreve sobre Francisco de Assis.