sexta-feira, 28 de março de 2014

Cinquenta anos, depois

                              

Quinze anos de idade, 1º ano do antigo curso Clássico, curso esse com ênfase à área de humanidades – filosofia, história, sociologia, literatura –, jogando futebol e voleibol e, ávido de conhecimento, lendo muito.
Despertando, assim, para a realidade de meu País, o Brasil, com tantas injustiças sociais. Engajando-me, assim, com entusiasmo e consciência na luta pelas reformas de base, ênfase à educacional.
Não à dependência externa. Ampliar a nascente cultura brasileira, expressão eloquente do cinema novo, da música popular brasileira, do teatro Opinião; enraizar a economia brasileira, dignificar a política brasileira.
Coração de estudante palpitando forte na crença de tempo novo, caracterizado pelo fim da miséria, do analfabetismo, do precário sistema de saúde, do Brasil para os brasileiros: “yankees go home”.
1964!
Dezessete anos de idade, 3º ano do antigo curso Clássico, vestibular à porta, escolha pelo curso de Direito, desde então mirando o Ministério Público, exemplo paterno, vocação para o social, para o envolvimento comunitário, assim diminuir as injustiças sociais.
1964!
Golpe de Estado: tropas militares nas ruas e daí espraiam-se: lares invadidos e desrespeitados, Parlamento fechado, Poder Judiciário sem poder algum, manietado; prisões arbitrárias, torturas, desaparecimentos, assassinatos. Agentes públicos, deturpados e desvairados, alimentam-se inclemente e insaciavelmente de tantos corações de estudantes, professores, operários, camponeses, bancários, jornalistas, religiosos, indígenas, advogados, promotores, juízes, políticos, militares e suas vozes, e de tantas e tantos outros profissionais emudecem, porque mortos; calam-se, porque aprisionados.
O tempo. O tempo, que corre, é a esperança real de todos quantos, apesar dos pesares, não desistem de seus ideais de juventude e resistem a cada dia, a cada aflição cotidiana enquanto perduram as trevas. O tempo desmascara a ilusão do ditador de que é detentor da verdade absoluta, por isso que imutável e perene.
Como, magnificamente, disse o Papa Francisco não há verdade absoluta porque ab-solutus do latim significa “o que é solto”; “desconexo”; “separado”; “privado de qualquer relação”. Ora, a verdade é sempre relacional, se expressa e, portanto, assim se faz conhecida no processo de amar a Deus, às irmãs e irmãos, e a todas as criaturas.
O ditador não se relaciona a não ser, equivocadamente, na uniformidade. Não tolera a divergência, exercício perene para o encontro sempre possível.
2014!
Cinquenta anos, depois.
Tenho sessenta e sete anos de idade, mas os quinze anos pulsam, estão presentes, enriquecidos e alargados pelo aprendizado do viver, e comprometido permaneço em combater – esse sim o bom combate – as injustiças sociais a que se concretamente promova, aqui e sempre, a dignidade da pessoa em toda a sua integralidade e por todo o tempo em que viver.
 


            

Um comentário:

mirijoo disse...

Olá querido professor;
Boa tarde

Será que o senhor ´poderia visitar a Paróquia S. Mateus em Sobradinho para uma palestra a respeito deste tema: Ideologia de Gênero.
Meu nome é Diácono Ubiracildo
Tel. 8400-0758
Gostaria se fosse possível a sua digníssima presença.