terça-feira, 15 de março de 2011

QUARESMA

  Pausa. Instante para se fazer seqüência de momentos a nos acolher a nós mesmos, e nos questionarmos: estou iludido instrumento, que me faz sentir senhor dos seres e das coisas nos espaços profissionais, transformados em exaltação do ego impessoal e insensível, e nos espaços comerciais, travestidos de catedrais?

         As catástrofes, que antes assim eram ditas, não só pela extensão do dano causado, mas por seu ineditismo, hoje se repetem em paisagens corriqueiras, que nos causam episódico espanto e espasmos de solidariedade.

         Estamos enquadrados em sistemas, robotizados no cumprir, funcionalmente, papéis midiáticos em blocos-bandos que se notabilizam por agigantarem-se, a cada ano, na quantificação frenética dos que pulam, e urinam.

         A quaresma é pausa a que nos olhemos, e reconheçamos que não somos, unicamente, massa corpórea. Também não somos, somente, razão desenfreada.

         Corpo e razão não se bastam.

         Terminam, e em cinzas.

         A quaresma nos diz que não somos seres do aqui, e do agora.

         Somos seres do aqui, do agora e do sempre. A concepção da vida humana marca a certeza do sempre.

         Nosso existir não é para o que é vão, não é para o que é ilusório.

         A liberdade é a expressão mais eloqüente de nossa filiação espiritual ao Deus-Amor.

         Com efeito, o ser livre não se enquadra; não se dissolve na multidão; não se reduz à visão mercantilista de que tudo tem seu preço; não se instrumentaliza.

         O ser livre liberta-se de si próprio e realiza o encontro no outro, como o outro-eu, e não o outro distante de mim. Por isso, o ser livre cuida. Cuida da vida; da família; da amizade; da promoção de quem quer que esteja na posição mais fraca no contexto social; cuida da natureza; cuida...

         Que a quaresma nos seja o tempo propício à descoberta da dimensão inesgotável do cuidar porque: 

“Também a própria criação espera ser libertada da escravidão da corrupção em vista da liberdade, que é a glória dos filhos de Deus.”
(Epístola de S. Paulo aos romanos – 8, 22). 

Um comentário:

Adriane Henriques disse...

Há tanto a fazer e tão pouca disposição...nos escondemos atrás da falta de tempo, de condições, do cansaço para deixar passar em branco as oportunidades, deixando de realizar aquilo que o Senhor espera de nós: sermos, por vontade Dele, partícipes atuantes na obra da salvação que é contínua...