É mensagem fundamental, para mim,
advinda do escrito de São Paulo na Carta aos Romanos (Rm 4, 18).
A esperança não é olhar para o futuro
e desejar que algo aconteça, adiante.
Também não é a esperança o adotar
comportamento passivo de quem, inerte, aguarda que algo surja, de repente.
A esperança é o que nos move, o que
nos dinamiza, sem interrupção, apesar dos tempos sombrios estampados na
bestialidade, na arrogância, na violência, no menosprezo, na vulgaridade das
palavras e dos comportamentos.
“Esperando contra toda esperança” é
saber, sentindo em nosso íntimo – e necessitamos tanto de mergulharmos no nosso
íntimo para conhecermos o que somos e desfazermo-nos de nossas aparências -,
que somos seres da possibilidade perene.
Não estamos predestinados a nada.
Temos a vida, que nos é dada pelo
Deus-Amor, para realizarmos, cotidianamente, o bem.
A propósito, palavras tão
significativas do Papa Francisco em sua Carta Encíclica “Fratelli Tutti”:
“No Novo Testamento, menciona-se um fruto do Espírito Santo
(Gl 5,22), expresso em grego pela palavra agathosyne.
Indica o apego ao bem, a busca do bem; mais ainda, é buscar aquilo que vale
mais, o melhor para os outros: seu amadurecimento, seu crescimento em uma vida
saudável, o cultivo dos valores, e não só o bem-estar material. No latim, há um
termo semelhante: bene-volentia,
isto é, a atitude de querer o bem do outro. É um forte desejo do bem, uma
inclinação para tudo o que seja bom e exímio, que impele a encher a vida dos
outros com coisas belas, sublimes, edificantes”. (Fratelli Tutti – nº 112 – pg.
62).
Por isso, a esperança
não admite a desistência.
Por isso, a esperança
impele-nos para além do que ela própria circunscreve: “Esperando contra toda
esperança”.
Linha atrás, disse dos
“tempos sombrios”.
Uma das causas está na
distorção e, portanto, na falência do que é ser líder.
Precisa, nesse passo, a
análise do Papa Francisco na Carta Encíclica “Fratelli Tutti”:
“159. Existem
líderes populares, capazes de interpretar o sentir de um povo, sua dinâmica
cultural e as grandes tendências de uma sociedade. O serviço que prestam,
congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de
transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a
outros na busca do bem comum. Mas degenera em um populismo insano, quando se
transforma na habilidade de alguém de atrair consensos a fim de
instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal
ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder.
Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais
baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se
pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da
legalidade”. (Fratelli Tutti nº 159 – pg. 85).
Exato.
O verdadeiro líder tem a
sensibilidade aguda para “interpretar o sentir de um povo”. O verdadeiro líder
é servidor, “congregando e guiando” em vista de “projeto duradouro para
transformação e crescimento” da sociedade em que está inserido, por isso que
sua meta é “a busca do bem comum”, jamais perpetuar-se na condução dos assuntos
públicos, eis porque há de cultivar “a capacidade de ceder o lugar a outros na
busca do bem comum”.
O não líder promove o “populismo
insano”. O não líder quer, assim, “instrumentalizar politicamente a cultura do
povo” porque seu objetivo é a exaltação egocêntrica em que tudo é posto “a
serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder”.
O não líder não se
contém. Mente, manipula em espaços cativos das redes sociais, “fomentando as
inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população”. Os setores,
digo eu, que gravitam em torno do dinheiro e da violência.
O não líder é despótico,
ditatorial. Não aceita ser contrariado. Cerca-se de bajuladores submissos
porque “pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da
legalidade”.
É o que acontece com o
nosso Brasil.
Temos um não líder
despreparado e, assim, desqualificado.
Irmãs e irmãos brasileiros
morrem, avassaladoramente.
Passamos de 350.000 –
trezentos e cinquenta mil – mortos!
O não líder nega o valor
da ciência. O não líder, até hoje, passados mais de um ano do início da
pandemia, é incapaz de agregar e caminhar junto.
“Esperando contra toda
esperança” é cruzar os tempos sombrios.
Como cruzar os tempos
sombrios?
Respondo com palavras do
Papa Francisco:
“167. A tarefa
educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a
vida humana de forma mais integral, a profundidade espiritual são realidades
necessárias para dar qualidade às relações humanas, de tal modo que seja a
própria sociedade a reagir diante das próprias injustiças, das aberrações, dos
abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos”. (Fratelli
Tutti nº 167 – pg. 89).
Paz e Bem.
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