domingo, 11 de abril de 2021

"ESPERANDO CONTRA TODA ESPERANÇA"

 

                 

 

É mensagem fundamental, para mim, advinda do escrito de São Paulo na Carta aos Romanos (Rm 4, 18).

A esperança não é olhar para o futuro e desejar que algo aconteça, adiante.

Também não é a esperança o adotar comportamento passivo de quem, inerte, aguarda que algo surja, de repente.

A esperança é o que nos move, o que nos dinamiza, sem interrupção, apesar dos tempos sombrios estampados na bestialidade, na arrogância, na violência, no menosprezo, na vulgaridade das palavras e dos comportamentos.

“Esperando contra toda esperança” é saber, sentindo em nosso íntimo – e necessitamos tanto de mergulharmos no nosso íntimo para conhecermos o que somos e desfazermo-nos de nossas aparências -, que somos seres da possibilidade perene.

Não estamos predestinados a nada.

Temos a vida, que nos é dada pelo Deus-Amor, para realizarmos, cotidianamente, o bem.

A propósito, palavras tão significativas do Papa Francisco em sua Carta Encíclica “Fratelli Tutti”:

“No Novo Testamento, menciona-se um fruto do Espírito Santo (Gl 5,22), expresso em grego pela palavra agathosyne. Indica o apego ao bem, a busca do bem; mais ainda, é buscar aquilo que vale mais, o melhor para os outros: seu amadurecimento, seu crescimento em uma vida saudável, o cultivo dos valores, e não só o bem-estar material. No latim, há um termo semelhante: bene-volentia, isto é, a atitude de querer o bem do outro. É um forte desejo do bem, uma inclinação para tudo o que seja bom e exímio, que impele a encher a vida dos outros com coisas belas, sublimes, edificantes”. (Fratelli Tutti – nº 112 – pg. 62).

Por isso, a esperança não admite a desistência.

Por isso, a esperança impele-nos para além do que ela própria circunscreve: “Esperando contra toda esperança”.

Linha atrás, disse dos “tempos sombrios”.

Uma das causas está na distorção e, portanto, na falência do que é ser líder.

Precisa, nesse passo, a análise do Papa Francisco na Carta Encíclica “Fratelli Tutti”:

159. Existem líderes populares, capazes de interpretar o sentir de um povo, sua dinâmica cultural e as grandes tendências de uma sociedade. O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas degenera em um populismo insano, quando se transforma na habilidade de alguém de atrair consensos a fim de instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal ideológico, a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade”. (Fratelli Tutti nº 159 – pg. 85).

Exato.

O verdadeiro líder tem a sensibilidade aguda para “interpretar o sentir de um povo”. O verdadeiro líder é servidor, “congregando e guiando” em vista de “projeto duradouro para transformação e crescimento” da sociedade em que está inserido, por isso que sua meta é “a busca do bem comum”, jamais perpetuar-se na condução dos assuntos públicos, eis porque há de cultivar “a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum”.

O não líder promove o “populismo insano”. O não líder quer, assim, “instrumentalizar politicamente a cultura do povo” porque seu objetivo é a exaltação egocêntrica em que tudo é posto “a serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder”.

O não líder não se contém. Mente, manipula em espaços cativos das redes sociais, “fomentando as inclinações mais baixas e egoístas de alguns setores da população”. Os setores, digo eu, que gravitam em torno do dinheiro e da violência.

O não líder é despótico, ditatorial. Não aceita ser contrariado. Cerca-se de bajuladores submissos porque “pretende, com formas rudes ou sutis, o servilismo das instituições e da legalidade”.

É o que acontece com o nosso Brasil.

Temos um não líder despreparado e, assim, desqualificado.

Irmãs e irmãos brasileiros morrem, avassaladoramente.

Passamos de 350.000 – trezentos e cinquenta mil – mortos!

O não líder nega o valor da ciência. O não líder, até hoje, passados mais de um ano do início da pandemia, é incapaz de agregar e caminhar junto.

“Esperando contra toda esperança” é cruzar os tempos sombrios.

Como cruzar os tempos sombrios?

Respondo com palavras do Papa Francisco:

167. A tarefa educativa, o desenvolvimento de hábitos solidários, a capacidade de pensar a vida humana de forma mais integral, a profundidade espiritual são realidades necessárias para dar qualidade às relações humanas, de tal modo que seja a própria sociedade a reagir diante das próprias injustiças, das aberrações, dos abusos dos poderes econômicos, tecnológicos, políticos e midiáticos”. (Fratelli Tutti nº 167 – pg. 89).

 

                                                         Paz e Bem.

 

 

                                                    

 

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