Leio que o juiz Sergio
Moro sentiu-se honrado com o convite que o futuro presidente Jair Bolsonaro
fez-lhe para comandar superdimensionado Ministério da Justiça.
Analiso a conduta de
Sergio Moro.
A análise, porque
serena, objetiva e fundamentada, deve lastrear-se em fatos certos.
Assim conduzo-me e
apresento o primeiro fato.
Trata-se de decisão do
juiz Sergio Moro autorizando a publicidade de conversa telefônica, então
travada entre a Presidente Dilma Roussef e o cidadão Luiz Ignácio Lula da
Silva, nomeando-o chefe da Casa Civil de seu governo.
Essa autorização deu-se
quando o juiz Sergio Moro não mais detinha competência jurisdicional à prolação
do ato, como decidiu o Ministro Teori Zavatski, à época, retirando-lhe validade
jurídica.
No entanto, essa decisão
foi encaminhada à mídia, que lhe conferiu enorme estardalhaço, todo centrado na
construção de que o ato da Presidente significaria conceder impunidade total a
Luiz Ignácio Lula da Silva, o que gerou forte repulsa popular.
Contudo, a produção
noticiosa é totalmente equivocada. E assim o é porque o que aconteceria no
conceder-se status de ministro de
Estado a Luiz Ignácio simplesmente era submetê-lo à jurisdição do Supremo
Tribunal Federal, que o processaria e julgaria, e não mais a instância de 1º
grau.
Como, então, dizer-se de
impunidade?
Quem o dissesse
colocaria, irresponsável e infundadamente, em cheque a imparcialidade de nossa
Suprema Corte.
Relembro que quando
exerci o cargo de procurador-geral da República, o então presidente Luiz
Ignácio Lula da Silva concedeu status de
ministro de Estado ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, na
ocasião, que era investigado criminalmente. Um dos principais partidos de
oposição – o PFL (Partido da Frente Liberal) – corretamente questionou tal ato,
por dizê-lo incabível em sua edição por meio de decreto-lei, eis que não se
enquadrava nas hipóteses constitucionais de utilização desse caminho normativo,
tese a que aderi.
Na ocasião, ninguém
manejou o absolutamente incabível argumento de que isso significaria impunidade
porque, efetivamente, tal argumento faz-se em completo despautério. E assim o
é, mesmo, porque no regime presidencialista o presidente da República goza de
plena autonomia à formação de sua equipe de trabalho, arcando, isso sim, com o
ônus de escolhas inadequadas.
O segundo fato é bem
mais recente e diz com o acontecer das eleições, recém- findas.
Noticiou-se, amplamente,
que o candidato Jair Bolsonaro caira 2 pontos percentuais, e o candidato
Fernando Haddad subira 2 pontos percentuais, aproximando-os.
Tem-se, então, que o
juiz Sergio Moro, contemporaneamente a essa situação, decide, de inopino e por
si próprio, sem provocação do Ministério Público, titular da ação penal pública,
e sem ouvir a defesa, quebrar o sigilo da delação premiada de Antonio Palocci,
sigilo esse presente desde abril do ano em curso, portanto fazendo-o seis ( 6 )
meses já transcorridos, decisão essa
despida de qualquer fundamentação.
Seguiu-se o costumeiro
estrépito jornalístico a propósito da corrupção do Partido dos Trabalhadores e
sua maior liderança – Luiz Ignácio Lula da Silva – desfazendo-se o quadro de
ascensão de Fernando Haddad.
Sacramentada a vitória
do candidato Jair Bolsonaro e eis que, em menos de uma semana, o juiz Sergio
Moro é convidado e honrosamente aceita comandar a pasta da justiça.
Ora, a prudência é a virtude maior sempre
que se tenha que decidir em toda e qualquer situação do nosso viver cotidiano,
que dirá para quem decide, profissionalmente.
Ainda hoje, reproduzida
está pelo jornal Folha de São Paulo entrevista de Sergio Moro, datada do ano de
2016, concedida ao jornal Estado de São Paulo, quando peremptoriamente
respondeu com enfática e repetida negativa ao ser indagado sobre se se candidataria
a cargo eletivo ou entraria para a política.
Disse Moro: “Não, jamais. Não. Sou um homem de Justiça
e, sem qualquer demérito, não sou um homem de política”.
A prudência manifesta o zelo com a coerência.
O estrelato e o
encantamento são as vias sedutoras do egocentrismo.
Encerro este artigo.
Faço-o avivando palavras
tão pertinentes do Papa Francisco para a presente reflexão.
“Não nos faz bem olhar com altivez, assumir o papel de juízes
sem piedade, considerar os outros como indignos e pretender continuamente dar
lições. Essa é uma forma sutil de
violência”. (leia-se a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate – nº 117 –
pg. 57, grifos meus).
Paz e Bem.
Excelente, irmão
ResponderExcluirEleição viciada devia ser eleição cancelada!
Pax e Bem.
Muito bom Claudio. Que tempos negros estamos vivendo....
ResponderExcluirTem uma máxima que diz que tudo que é ruim, pode piorar.... é o nosso caso. Abraço
Excelente reflexão, Pai!
ResponderExcluirBjs,
Fernanda
Precisamos estar atentos aos desmembramentos dessas ações...o poder pode corromper as pessoas. A prudência e o bom senso deveriam permear as ações de quem encontra-se em tão alto grau político...muitas vezes em nome da justiça, pessoas procuram os melhores meios justificando seus fins, e por cegueira ou coisa parecida, dificultam um caminho, que deveria ser de puro diálogo e sensatez...
ResponderExcluirPrecisamos estar atentos aos desmembramentos dessas ações...o poder pode corromper as pessoas. A prudência e o bom senso deveriam permear as ações de quem encontra-se em tão alto grau político...muitas vezes em nome da justiça, pessoas procuram os melhores meios justificando seus fins, e por cegueira ou coisa parecida, dificultam um caminho, que deveria ser de puro diálogo e sensatez...
ResponderExcluirIrmão Cláudio Parabéns pela reflexão sensacional.
ResponderExcluirO povo está realmente enfeitiçado.
O tempo mostrará.
Paz e bem