O Papa Francisco, na sua recente
Exortação Apostólica “Gaudete et Exsultate” – “Alegrai-vos e Exultai”-, rememora expressão de que Jesus Cristo se vale ao abrir o Sermão da Montanha, para indicar aos
seus discípulos e a todos nós ensinar, que a simplicidade – “os pobres no espírito...”-; que o sofrimento – “os que choram...”-; que a
mansidão – “os mansos...”-; que a justiça –“os justos”-; que a misericórdia – “os misericordiosos”-;
que a autenticidade - “os puros de
coração”- e a paz – “os que promovem
a paz”- (leia-se: Mt 5, 3-9) são valores fundamentais para o testemunho real do
verdadeiro encontro da mulher e do homem, consigo mesma, consigo mesmo e de
ambos com Deus.
Mas o que nos propõe, hoje, o mundo
e, em nosso País, o momento político, que atravessamos?
O ódio.
O ódio que, no pano internacional,
dilacera multidões de emigrantes e refugiados, enxotados porque ameaçam o status econômico de países que
atingiram dito status econômico na
razão direta de praticarem, e continuarem a praticar, a exploração, real ou
dissimuladamente, exatamente desses mais fracos: suprema desfaçatez.
O ódio que, no plano nacional,
acometeu todas e todos quantos, num primeiro momento, foram tomados de profunda
decepção ao ruir do projeto político que chegou a acalentar medidas reais de
distribuição de riqueza, de acesso dos mais desafortunados a patamar acima na
escala social, mas que se deixou seduzir e sucumbiu ao jogo do poder pelo
poder; da ambição pela ambição.
O ódio que, ainda no pano nacional,
expressou, pondo às claras, preconceitos e ressentimentos abafados porque o
diferente de mim eis que mais pobre do que eu; eis que homossexual, e não
hétero, como eu, passaram a conviver no meu espaço.
Ora, a democracia é, justamente, o
melhor de todos os regimes políticos porque não promove espaços privatistas, de
usufruto condominial segregador, mas impulsiona a convivência dos múltiplos
espaços, estimula o respeito a todos os espaços nas diferenças peculiares de
cada qual. Se se enfatizou, desmesuradamente, o grito dos discriminados, o
caminho não está em deslegitimá-los, mas mostrar-lhes que o grito desmesurado
é, também, preconceito embutido a incidir em igual viés de ódio
discriminatório.
O ódio é o alimento dos medíocres e dos superficiais.
Porque medíocres e superficiais são
levados – caniços ao vento – para aqui, para lá, para acolá, na dança das fake news (= notícias falsas).
Medíocres e superficiais não têm raízes porque não intuem; não
consideram; não contemplam; não se põem a agir, ou seja, não intuem porque não
se abrem ao que surge; abrindo-se, necessariamente analisam e, então,
consideram; considerando, contemplam porque se sintonizam com o que surge e
sintonizados, então assim conscientes, agem responsavelmente.
Recordo, aqui, expressiva passagem do
Gênesis:
“Abrão tinha noventa e nove anos, quando o Senhor lhe
apareceu e lhe disse: Anda na minha presença e sê íntegro”. (Gn 17, 1)
Aí está: que sejamos íntegros.
Ser íntegro é não dividir-se; não se deixar levar pelo detalhe, pelo
superficial, pelo secundário.
Ser íntegro é conhecer-se, sabendo que esse conhecimento só se alcança
na relação com todas e com todos os demais, sem distinção, e com Deus.
O nosso tempo é de
desintegração.
Quem quer que queira isso incentivar, como mote para vitória
política, ou qualquer outro mote, está fadado à desintegração.
Excelente texto! Muito apropriado para o momento atual.
ResponderExcluirParabéns Claudio pelo excelente texto! Realmente,muito apropriado para o momento atual.
ResponderExcluirA lucidez de sempre! Valeu, irmão!
ResponderExcluir