Tenho, para mim, que nunca foi tão
necessária a ressurreição.
A ressurreição não é um passe de
mágica. Não advém do nada; não irrompe, abruptamente.
É condição de vida e, assim,
insere-se no cotidiano de nosso existir.
A dificuldade de ressurgir acontece
para nós porque hoje, mais do que nunca, estamos em sistemática programação.
Programados em celulares; programados
diante de televisores e fones de ouvido; programados em relações humanas
superficiais, pragmáticas e provisórias.
A programação, aliás, como toda
programação, fecha-se no estabelecer esquema mental do qual não se pode
escapar, esquema mental que, subvertendo valores e conceitos perenes, nos
conduz à mediocridade.
Os exemplos florescem.
No quadro político ficamos a pontuar,
fulanizando e partidarizando, episódios sucessivos de corrupção e, assim,
perdemos de vista a análise sobre o que, realmente, importa analisar: a
falência total do atual modelo político brasileiro, para a qual contribuíram e
contribuem todos os partidos políticos, e as imprescindíveis e concretas
medidas, que se devem adotar para a sua superação e efetivo compromisso com o
modelo democrático de deliberação e gestão do que é público, no que desponta em
quadro urgentíssimo o proscrever a
profissionalização – fim da reeleição em todos os níveis: o mandato popular
conferido a alguém por ele só pode ser exercido uma única vez, em período
quinquenal – e a familiarização, ou
seja, o impedimento por vinte ( 20 ) anos, a contar do fim do desempenho do
mandato, de parentes, até o 3º grau, inclusive, do eleito de,
concomitantemente, exercerem qualquer cargo eletivo.
No campo econômico-financeiro
desponta a supremacia incontrolada do mercado, a ele até se atribuem “humores”,
e nessa absolutização do econômico não contam a mulher e o homem na perspectiva
de sua integralidade – pessoas dotadas à satisfação de suas necessidades
espirituais, intelectuais e corpóreas -, reduzidas que são a meros indicadores
da relação custo-benefício.
Que se tenha presente, esse sábio
ensinamento de São João Paulo II, na Carta Encíclica Centesimus Annus”:
“Neste sentido, é correto falar de luta contra um sistema
econômico, visto como método que assegura a prevalência absoluta do capital, da
posse dos meios de produção e da terra, relativamente à livre subjetividade do
trabalho do homem. Nesta luta contra um tal sistema, não se veja, como modelo
alternativo, o sistema socialista, que, de fato, não passa de um capitalismo de
estado, mas uma sociedade do trabalho livre,
da empresa e da participação. Esta não se contrapõe ao livre mercado, mas
requer que ele seja oportunamente controlado pelas forças sociais e estatais,
de modo a garantir a satisfação das exigências fundamentais de toda a
sociedade.” (leia-se Carta Encíclica Centesimus Annus nº 35 – pg. 66, grifos do
original).
No mesmo diapasão,
contundentes palavras do Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica Evangelii
Gaudium, justamente em tópico dedicado à “Economia e distribuição de renda”:
“Enquanto não forem radicalmente solucionados os problemas
dos pobres, renunciando à autonomia
absoluta dos mercados e da especulação financeira e atacando as causas
estruturais da desigualdade social, não se resolverão os problemas do mundo e,
em definitivo, problema algum. A
desigualdade é a raiz dos males sociais.
203. A desigualdade de cada pessoa humana e o bem comum são
questões que deveriam estruturar toda a política econômica, mas às vezes
parecem somente apêndices adicionados de fora para completar um discurso político
sem perspectivas nem programas de verdadeiro desenvolvimento integral. Quantas
palavras se tornaram moléstias para este sistema! Molesta que se fale de ética,
molesta que se fale de solidariedade mundial, molesta que se fale de
distribuição de bens, molesta que se fale de defender os postos de trabalho,
molesta que se fale de dignidade dos fracos, molesta que se fale de um Deus que
exige um compromisso em prol da justiça... A vocação de um empresário é uma
nobre tarefa, desde que se deixe interpelar por um sentido mais amplo de vida;
isto lhe permite servir verdadeiramente o bem comum com o seu esforço por
multiplicar e tornar os bens deste mundo mais acessíveis a todos”. ( leia-se
Evangelii Gaudium nº 208-209 – pg. 167-168, grifos nossos).
E, conclusivo:
“Não podemos mais
confiar nas forças cegas e na mão invisível do mercado. O crescimento
equitativo exige algo mais do que o crescimento econômico, embora o
pressuponha; requer decisões, programas, mecanismos e processos especificamente
orientados para uma melhor distribuição de renda, para a criação de
oportunidades de trabalho, para uma promoção integral dos pobres que supere o
mero assistencialismo. Longe de mim propor um populismo irresponsável, mas a economia não pode mais recorrer a
remédios que são um novo veneno, como quando se pretende aumentar a
rentabilidade reduzindo o mercado de trabalho e criando assim novos excluídos”.
(Documento citado – nº 204 – pg. 168, grifos nossos).
A morte de Jesus Cristo,
ponto de fundamental meditação não só nesta Sexta-Feira santa, que me motiva a
este escrito, mas que nunca deve ser apartada de nós, enquanto aqui estivermos,
significa a doação gratuita e
incondicional, que jamais se constitui em ponto final do viver, mas é expressão
lídima da fé, que faz acontecer a contínua ressurreição do nosso eu sempre que
estagnado, apodrecido, morto.
Mais uma vez, e para
encerrar, colho as palavras do Papa Francisco, na já citada Evangelii Gaudium,
a dizer:
“Um dos pecados que, às vezes, se nota na atividade
sociopolítica é privilegiar espaços de poder em vez dos tempos dos processos.
Dar prioridade ao espaço leva-nos a
proceder como loucos para resolver tudo no momento presente, para tentar tomar
posse de todos os espaços de poder e autoafirmação. Dar prioridade ao tempo
é ocupar-se mais com o iniciar processos
do que possuir espaços. O tempo ordena os espaços, ilumina-os e transforma-os
em elos de uma cadeia em constante crescimento, sem retorno. Trata-se de
privilegiar as ações que geram novos dinamismos na sociedade e comprometem
outras pessoas e grupos que os desenvolverão até frutificar em acontecimentos
históricos importantes. Sem ansiedade,
mas com convicções claras e tenazes”. (Documento citado – nº 223 – pg.
178-179 – grifos do original e nossos).
Tenham,
irmãs e irmãos, Feliz Páscoa!
Eu reabri sua petição no site do senado, funciona se a população tirar da mão de JANOT
ResponderExcluirhttps://www12.senado.leg.br/ecidadania/visualizacaoideia?id=72583
Eu reabri sua petição no site do senado, funciona se a população tirar da mão de JANOT
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