A voz não é mais infantil. Está em
mutação, como todo o seu corpo. É Rafael, 12 anos, chegando aos 13, idade em
que comecei a me dar por mim, adolescente, em 1960, com pai, mãe e irmã, aqui
em Brasília, recém- chegados do Rio de Janeiro.
Rafael é emotivo, mas sereno.
Com 9 para 10 anos, seu irmão André.
Entre o menino e o adolescente. É pensativo, introspectivo, discreto.
E, ainda, da união de Flávia, a
filha, e Gilmar, o genro, Lucas e os seus 8 anos de muita energia, correria.
De Fernanda, a filha do meio, e
Martin, o outro genro, nasceu Heitor, 6 anos, de boas gargalhadas, tremendo
gozador, e Artur, 3 anos, ainda cauteloso, mas com a verve ensaiando o ser
curtidor no gingado do andar e do batuque na mesa, no almoço dos sábados.
Claudia, a outra filha do meio, no
meu coração sempre, não importando seus breves dias comigo.
Gabriel, nosso filho, ainda na dele.
Ângela, amada e companheira sempre, é
amada e companheira sempre e isso é o amor: a certeza do infinito no caminhar juntos, entre lágrimas e sorrisos, da
mulher e do homem.
Dessa brevíssima e muito simples
descrição, desponta algo, para mim, de tão surpreendentemente belo: o “engenho
e a arte” de Deus para conosco.
Não nos criou em formas; não nos fez
em série de produção.
Não.
Deus criou-nos únicos e irrepetíveis.
Para cada um de nós, Deus nos fez artífices de
nossa própria história de vida, que não é idêntica a de ninguém, não para
que nos exaltemos, nos ambicionemos no que só em nós se identifica, mas para
que o que nos identifica e é só nosso, nós não o reservemos para nós, mas o
façamos frutificar em partilha com os outros que, também para nós, nos entregam
o que deles é específico.
A isso, chamamos solidariedade, ou
seja, dar-se continuadamente.
“Todo amor é extático”, disse alguém num belo dia. Com efeito, amar é extasiar-se, ou seja, sair
de si para ir ao encontro: êxtase.
Mas “o engenho e a arte” de Deus para
conosco patenteia-se, também, na família
por isso, e no meu caso, dei a este artigo o título, que o apresenta: “De neta
e netos; filhas e filho; genros; Ângela e eu”.
Com efeito, o Papa Paulo VI, na sua
sábia Encíclica Populorum Progressio,
para mim é definitivo ao analisar o significado de família. Diz:
“Porém, a família natural, monogâmica e estável, tal como o
desígnio de Deus a concebeu e o cristianismo a santificou, deve continuar a ser
esse lugar de encontro de várias gerações que reciprocamente se ajudam a
alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as
outras exigências da vida social”. ( leia-se: Populorum Progressio nº 36 – pg.
31).
Sim, a família radica
nesses três fundamentos: ser natural,
monogâmica e estável: natural reconhecida na união da mulher e do homem,
que na sua diversidade ontológica, na sua heterogeneidade, por essa definitiva
razão propicia a complementaridade,
estampada na unidualidade pela qual
duas vidas, permanecendo cada qual em si, abrem-se ao mais íntimo de si para ofertá-lo, continuadamente, a quem,
assim, adentra em si: “Por isso, deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua
mulher e eles serão uma só carne” (leia-se: Gênesis 2, 24); monogâmica porque ela e ele, sem
terceiros ou terceiras, na construção diuturna, sem dúvida de fadiga, de
dúvida, de pranto, mas por isso mesmo que de crescimento, perseverança e
harmonia, que só o amor-entrega em totalidade é capaz de possibilitar; estável porque não se é, nem se
caminha, no que é transitório, precário, passageiro, alimento fugaz do
relativismo mundano.
Sim, “a família é o
lugar de encontro de várias gerações”. Encontram-se para que o “eu” não se
absolutize no egocentrismo, mas se torne partilha, vivencie o “nós” e,
então, seja expressão real, clara, viva “do conciliar os direitos pessoais com
as outras exigências da vida social” (trecho da transcrição feita acima da
Carta Encíclica Populorum Progressio).
Se Rafael, no hebraico a
significar “Deus cura”, inicia este artigo, Maria Clara, a neta que às vésperas
de completar 7 anos não se fez mais visível entre nós, culmina toda essa
reflexão porque é presença constante em minha vida, certeza, assim, de que a
morte não tem a palavra final porque a vida, acolhida em família, e nela
vivida, ainda que por segundos, não é lembrança, mas presença
inextinguível.
Uma ótima mensagem para nossa reflexão.Obrigado Dr.Fonteles .
ResponderExcluirUma ótima mensagem para nossa reflexão.Obrigado Dr. Fonteles.
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