sexta-feira, 14 de novembro de 2014

SOLIDARIEDADE

                                    
O jornal católico “O Lutador”, em sua edição semanal de 21 a 31 de outubro do mês de outubro, recém findo, em seu Editorial destaca que, segundo a Organização das Nações Unidas, nosso Brasil “reduziu a fome em 50%; a extrema pobreza em 75% e alcançou a meta dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio com mais de um ano de antecedência”.
Também a pobreza foi reduzida em 65% embora 16 milhões de brasileiros ainda figurem nesse quadro.
Cabe aqui avivar recentes palavras do Papa Francisco, proferidas no dia 28 de outubro passado a todos os participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares:
“Solidariedade que nem sempre cai bem, eu diria que algumas vezes nós a transformamos em uma palavra má, que não se pode dizer; todavia é uma palavra, muito mais que alguns atos de esporádica generosidade. Significa pensar e atuar em termos comunitários, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. Também é lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra, de moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas. É enfrentar os efeitos destrutivos do Império do dinheiro: os deslocamentos forçados de pessoas, as emigrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de vocês sofrem e que todos somos chamados a mudar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de fazer história e é isso que fazem os movimentos populares.” (  trecho do Discurso do Papa Francisco ).
Sim, solidariedade como compromisso cotidiano e concreto de vida, que não se pode reconhecer em vagas e ocasionais atitudes de lembrança e auxílio, mais das vezes estimuladas por episódios midiáticos; ou para apascentar exigências formais da moral estritamente subjetiva, que se reduz a mero cumprimento de preceitos religiosos.
A solidariedade encarnada que nos impulsiona e, assim, nos leva ao envolvimento real com a irmã, ou o irmão, que necessita dialogar, que necessita conhecer, que necessita de saúde física e mental, que necessita ser protagonista de sua história, que necessita também participar do usufruto dos bens do banquete da vida.
Mais uma vez, o Papa Francisco no evento citado:
“Não se pode abordar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em seres domesticados e inofensivos. Como é triste ver quando, por detrás de supostas obras altruístas se reduz o outro à passividade, negando-se-lhe, ou pior, escondem-se negócios e ambições pessoais. Jesus lhes diria: hipócritas. Que lindo é, por outro lado, quando vemos os Povos em movimento, sobretudo os seus membros mais pobres e os jovens. Então sim, sente-se o vento da promessa que aviva a ilusão de um mundo melhor. Que esse vento se transforme em vendaval de esperança. Esse é o meu desejo.
Este encontro nosso responde a um anseio muito concreto, algo que qualquer pai, qualquer mãe quer para seus filhos: um anseio que deveria estar ao alcance de todos, mas com tristeza vemos hoje estar cada vez mais distante da maioria: terra, teto e trabalho. Curioso, se falo assim, para alguns tem-se que o Papa é comunista.
Não se compreende que o amor aos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho é por isso que vocês lutam, são direitos sagrados. Reclamar por isso não é nada extraordinário, é a doutrina social da Igreja. (trecho do Discurso do Papa Francisco).
A palavra grega metanoia significa conversão, mudança.
Nós não podemos ser sempre os mesmos.
Não somos pedras monolíticas, herméticas, impenetráveis, bloqueadas num sistema fechado de idéias a pretexto de, assim, termos segurança para existir.
Somos pássaros, e nos movimentamos sempre, e assim: conhecendo o desconhecido, clareando o escuro, partilhando com o que é diferente, construindo com o que é diverso, tornamos possível e realizamos a fraternidade local, nacional, mundial, vale dizer: a fraternidade sem rótulos.
Os totalitarismos, tomem as colorações que tomem, fracassam sempre porque se assentam na falsa crença da dissolução, dissimulada ou crua, do que nunca pode ser dissolvido, porque não se pode formatar a pessoa humana em molde único de ser.
A vida gestada é sempre, e em si mesma, novidade. Eis porque, também por essa perspectiva, a vida é inviolável.
A propósito, o Papa Francisco no discurso aqui já mencionado:
“A respeito do descarte também temos que estar atentos ao que acontece em nossa sociedade. Estou repetindo coisas que disse e que estão na Evangelii Gaudium. Hoje em dia descartam-se crianças porque o nível de natalidade em muitos países da terra diminuiu, ou descartam-se crianças por não ter alimentação ou porque são mortas antes de nascer, descarte de crianças.
Descartam-se anciãos porque, bem, não servem, não produzem, nem crianças, nem anciãos produzem, então por formas mais ou menos sofisticadas são abandonados lentamente e agora, como nessa crise é necessário recuperar certo equilíbrio, assistimos a um terceiro descarte muito doloroso, o descarte dos jovens. Milhões de jovens, eu não quero dizer a cifra porque não a conheço exatamente e a que li me parece um pouco exagerada, mas milhões de jovens descartados do trabalho, desocupados.” (trecho do Discurso do Papa Francisco ).
O Natal se aproxima. Dele não façamos ocasião feérica de gastos e consumos.
O Natal descubro-o como momento forte a avivar, em mim, a espiritualidade, no meu caso religiosa, mas não que assim o seja necessariamente, a espiritualidade que, tal como o pássaro, nos move para além de nós, não como fuga ou distanciamento, mas para que possamos nos descobrir em nossa totalidade perfeita – espírito, razão e corpo – e, então, vivenciarmos os bens que não passam, dons com que Deus nos presenteia, porque tanto nos ama, dentre eles: a solidariedade.
Termino com o Papa Francisco, verdadeiro líder, em mundo tão carente de verdadeiras lideranças:
“Falamos da terra, de trabalho, de teto... falamos de trabalhar pela paz e cuidar da natureza... Mas, porque em vez disso nos acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se desaloja a tantas famílias, se expulsa camponeses, faz-se a guerra e se degrada a natureza? Porque nesse sistema excluiu-se o homem, a pessoa humana, do centro e ela foi substituída por outra coisa. Porque se rende culto idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença: para mim não me importa o que acontece com os outros desde que eu defenda o meu. Porque o mundo esqueceu-se de Deus, que é Pai; o mundo está órfão porque deixou Deus de lado. ( trecho do Discurso do Papa Francisco ).
Leitoras e leitores que têm lido o que escrevo, com benevolência para comigo, dou-lhes presente de Natal. É simples indicação de leitura: a leitura do Discurso do Papa Francisco aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares. 
 
    

           

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