O jornal católico “O Lutador”, em sua
edição semanal de 21 a 31 de outubro do mês de outubro, recém findo, em seu
Editorial destaca que, segundo a Organização das Nações Unidas, nosso Brasil
“reduziu a fome em 50%; a extrema pobreza em 75% e alcançou a meta dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio com mais de um ano de antecedência”.
Também a pobreza foi reduzida em 65%
embora 16 milhões de brasileiros ainda figurem nesse quadro.
Cabe aqui avivar recentes palavras do
Papa Francisco, proferidas no dia 28 de outubro passado a todos os
participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares:
“Solidariedade que nem sempre cai bem, eu diria que algumas
vezes nós a transformamos em uma palavra má, que não se pode dizer; todavia é
uma palavra, muito mais que alguns atos de esporádica generosidade. Significa
pensar e atuar em termos comunitários, de prioridade da vida de todos sobre a
apropriação dos bens por parte de alguns. Também é lutar contra as causas
estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, de terra, de
moradia, a negação dos direitos sociais e trabalhistas. É enfrentar os efeitos destrutivos do Império do dinheiro: os
deslocamentos forçados de pessoas, as emigrações dolorosas, o tráfico de
pessoas, a droga, a guerra, a violência e todas essas realidades que muitos de
vocês sofrem e que todos somos chamados a mudar. A solidariedade, entendida em seu sentido mais profundo, é um modo de
fazer história e é isso que fazem os movimentos populares.” ( trecho do Discurso do Papa Francisco ).
Sim, solidariedade como
compromisso cotidiano e concreto de vida, que não se pode reconhecer em vagas e
ocasionais atitudes de lembrança e auxílio, mais das vezes estimuladas por
episódios midiáticos; ou para apascentar exigências formais da moral
estritamente subjetiva, que se reduz a mero cumprimento de preceitos
religiosos.
A solidariedade encarnada que nos impulsiona e, assim, nos leva ao envolvimento
real com a irmã, ou o irmão, que necessita dialogar, que necessita conhecer,
que necessita de saúde física e mental, que necessita ser protagonista de sua
história, que necessita também participar do usufruto dos bens do banquete da
vida.
Mais uma vez, o Papa
Francisco no evento citado:
“Não se pode abordar o escândalo da pobreza promovendo
estratégias de contenção que unicamente tranquilizem e convertam os pobres em
seres domesticados e inofensivos. Como é
triste ver quando, por detrás de supostas obras altruístas se reduz o outro à
passividade, negando-se-lhe, ou pior, escondem-se negócios e ambições
pessoais. Jesus lhes diria: hipócritas.
Que lindo é, por outro lado, quando vemos os Povos em movimento, sobretudo os
seus membros mais pobres e os jovens. Então sim, sente-se o vento da promessa
que aviva a ilusão de um mundo melhor.
Que esse vento se transforme em vendaval de esperança. Esse é o meu desejo.
Este encontro nosso responde a um anseio muito concreto, algo
que qualquer pai, qualquer mãe quer para seus filhos: um anseio que deveria
estar ao alcance de todos, mas com tristeza vemos hoje estar cada vez mais
distante da maioria: terra, teto e
trabalho. Curioso, se falo assim, para alguns tem-se que o Papa é
comunista.
Não se compreende que o
amor aos pobres está no centro do Evangelho. Terra, teto e trabalho é por isso
que vocês lutam, são direitos sagrados. Reclamar por isso não é nada
extraordinário, é a doutrina social da Igreja. (trecho do Discurso do Papa
Francisco).
A palavra grega metanoia significa conversão, mudança.
Nós não podemos ser
sempre os mesmos.
Não somos pedras
monolíticas, herméticas, impenetráveis, bloqueadas num sistema fechado de
idéias a pretexto de, assim, termos segurança para existir.
Somos pássaros, e nos
movimentamos sempre, e assim: conhecendo o desconhecido, clareando o escuro,
partilhando com o que é diferente, construindo com o que é diverso, tornamos
possível e realizamos a fraternidade local, nacional, mundial, vale dizer: a fraternidade sem rótulos.
Os totalitarismos, tomem
as colorações que tomem, fracassam sempre porque se assentam na falsa crença da
dissolução, dissimulada ou crua, do que nunca pode ser dissolvido, porque não se pode formatar a pessoa
humana em molde único de ser.
A vida gestada é sempre,
e em si mesma, novidade. Eis porque, também por essa perspectiva, a vida é
inviolável.
A propósito, o Papa
Francisco no discurso aqui já mencionado:
“A respeito do descarte também temos que estar atentos ao que
acontece em nossa sociedade. Estou repetindo coisas que disse e que estão na Evangelii Gaudium. Hoje em dia
descartam-se crianças porque o nível de natalidade em muitos países da terra
diminuiu, ou descartam-se crianças por não ter alimentação ou porque são mortas
antes de nascer, descarte de crianças.
Descartam-se anciãos porque, bem, não servem, não produzem,
nem crianças, nem anciãos produzem, então por formas mais ou menos sofisticadas
são abandonados lentamente e agora, como nessa crise é necessário recuperar
certo equilíbrio, assistimos a um terceiro descarte muito doloroso, o descarte
dos jovens. Milhões de jovens, eu não quero dizer a cifra porque não a conheço
exatamente e a que li me parece um pouco exagerada, mas milhões de jovens
descartados do trabalho, desocupados.” (trecho do Discurso do Papa Francisco ).
O Natal se aproxima.
Dele não façamos ocasião feérica de gastos e consumos.
O Natal descubro-o como
momento forte a avivar, em mim, a espiritualidade, no meu caso religiosa, mas
não que assim o seja necessariamente, a
espiritualidade que, tal como o
pássaro, nos move para além de nós, não como fuga ou distanciamento, mas para
que possamos nos descobrir em nossa totalidade perfeita – espírito, razão e
corpo – e, então, vivenciarmos os bens que não passam, dons com que Deus nos
presenteia, porque tanto nos ama, dentre eles: a solidariedade.
Termino com o Papa
Francisco, verdadeiro líder, em mundo tão carente de verdadeiras lideranças:
“Falamos da terra, de trabalho, de teto... falamos de
trabalhar pela paz e cuidar da natureza... Mas, porque em vez disso nos
acostumamos a ver como se destrói o trabalho digno, se desaloja a tantas
famílias, se expulsa camponeses, faz-se a guerra e se degrada a natureza?
Porque nesse sistema excluiu-se o homem, a pessoa humana, do centro e ela foi
substituída por outra coisa. Porque se
rende culto idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença: para
mim não me importa o que acontece com os outros desde que eu defenda o meu.
Porque o mundo esqueceu-se de Deus, que é Pai; o mundo está órfão porque deixou
Deus de lado. ( trecho do Discurso do Papa Francisco ).
Leitoras e leitores que
têm lido o que escrevo, com benevolência para comigo, dou-lhes presente de
Natal. É simples indicação de leitura: a leitura do Discurso do Papa Francisco
aos participantes do Encontro Mundial de Movimentos Populares.
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