“Toda corrupção cresce e, ao mesmo tempo, se expressa em
atmosfera de triunfalismo. O triunfalismo é o caldo de cultura ideal de
atitudes corruptas, pois a experiência diz que essas atitudes dão bom
resultado, e assim a pessoa se sente ganhadora,
triunfa. O corrupto se confirma e ao
mesmo tempo avança nesse ambiente
triunfal. Tudo vai bem. E nesse respirar
o bem, usufruir o vento em popa, reordenam-se e se rearranjam as situações
em valorações errôneas.” ( pg. 31 – grifos do original ).
Inicio com essa transcrição,
presente no opúsculo “Corrupção e pecado”, escrito pelo então arcebispo de
Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aos 8 de dezembro de 2005, por ocasião de
Assembléia Arquidiocesana.
Palavras verdadeiras.
É o processo que há mais
de 50 anos o Brasil vem padecendo, entremeado, por mais de uma vez, de golpes
sofridos na busca da formação e consolidação democrática de nosso País, golpes
que, ironicamente, brandiram o combate à corrupção como sua impoluta bandeira.
Os tempos midiáticos de
hoje ufanam-se em vendavais intermitentes. Necessitam de espetáculo fantástico,
como “show da vida”. Seduzem personagens ao topo de seu ego e, então,
inebriados pelo poder, pelo prazer e pelo possuir tais personagens assumem-se
como inexpugnáveis, inatingíveis por deles emanar o padrão a ser seguido.
Torno ao Papa Francisco:
É justamente esse triunfalismo, nascido de sentir-se medida de todo juízo, que lhe dá
vaidade para rebaixar os outros à
sua medida triunfal. Explico: em um
ambiente de corrupção, uma pessoa corrupta não deixa crescer em liberdade. O
corrupto não conhece a fraternidade ou a amizade, só a cumplicidade. ( pg. 32 – grifos do original ).
O triunfalismo é o
método mais eloquente de mascarar a verdade porque o triunfalismo não busca a
verdade, vez que a reduz a objeto passível de manipulação.
O triunfalismo desperta
e motiva a auto-suficiência, que não tolera questionamentos, que abdica do
diálogo, alimentando-se de “slogans” preconcebidos e preconceituosos como que a
tranquilizar a precariedade, por certo não as tem, de suas convicções. Prossigo
com o Papa Francisco:
“O corrupto costuma se perseguir de maneira inconsciente, e é
tal a raiva que lhe causa essa perseguição que a projeta nos outros, e, de
autoperseguido, transforma-se em perseguidor. São Lucas mostra a fúria desses
homens (cf. Lc 6,11) diante da verdade profética de Jesus: “Mas eles
encheram-se de furor e indagavam uns aos outros o que fariam a Jesus”.
Perseguem impondo um regime de terror a todos aqueles que o contradizem (cf. Jo
9,22) e se vingam expulsando-os da vida social (cf. Jo 9,34-35). Têm medo da
luz porque sua alma adquiriu características de verme: vive nas trevas e
debaixo da terra. O corrupto aparece no Evangelho jogando com a verdade.” ( pg.
10 ).
A violência pessoal,
coletiva, ou institucionalizada é, também, manifestação do ser corrupto.
No entanto, avizinha-se
o solstício de verão em nosso hemisfério: o dia 25 de dezembro expressa-o.
O que era trevas, fez-se
luz. E a luz veio habitar entre nós para nos convidar a sermos: filhos da luz,
como se exprimia o evangelista João, que com Jesus conviveu, intensamente.
Para mim, esse o sentido
forte do Natal: a possibilidade de, apesar dos pesares, ser luz e então: reunir a família nas gerações presentes, e orar;
orar e ampliar a oração a que envolva amigos e tantos outros mais, para que, de
verdade, se possa celebrar a presença de Jesus em nós, para que sejamos
melhores na vivência da paz e do bem; portanto, esperando contra toda a
esperança e tornar concreta, real, a esperança porque, como aprendo com o Papa
Francisco:
“O corrupto não tem esperança. O pecador espera o perdão; o
corrupto, no entanto, não porque não se sente em pecado: triunfou.” ( pg. 32 ).
Eis porque lhes desejo: Feliz Natal, pleno de esperança.
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