quinta-feira, 14 de abril de 2022

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO

 

                                             

 


Como ainda posso enunciar essa frase, olhando o que acontece aqui, em nosso Brasil, e também no mundo?

Quando não atingidos, direta ou indiretamente, pelas catástrofes de qualquer espécie, expostas no disparar insano de arma em ambiente público ou no disparar incessante dos artefatos bélicos, que dizimam cidades e geram formas, tantas e várias, de desprezo enlouquecido à vida humana, reduzimo-nos a espectadores inúteis porque adstritos a deglutir o noticiário, sempre sensacionalista e superficial ou, em espasmos emocionais, aqui e ali, uma ou outra atitude assumimos.

Assim mesmo: nem tudo está pedido.

Nem tudo está perdido porque sempre há de acontecer a Semana Santa.

Tantas são as lições, portanto fundamental o aprendizado que se nos abre por esses dias.

Há o Domingo de Ramos em prenúncio do que virá: quem, Deus em pessoa, abdica de cetros, estandartes, garbosos e disciplinados desfiles e, simples e humildemente, numa torrente de alegria comunica-se com todos, mulheres e homens que, livremente, vão ao Seu encontro e O saúdam com ramos em festa e mantos ao chão a expressar reverência porque todos, mulheres e homens, sabem que Nele está “o caminho, a verdade e a vida”, jamais no ego inflado de cada qual.

Há a Quinta-feira Santa: quem, Deus em pessoa, rejubila-se por promover a comensalidade com todos nós. À mesa partilhada, não há piramidal verticalidade. Todas e todos importam. Estão irmanadas e irmanados na magnífica comunhão com o Deus-Amor, comunhão que é a expressão viva da unidade na diversidade. Eis porque assim narra o evangelista João os momentos que antecedem a prisão de Jesus pelo “batalhão romano e os guardas dos sumos sacerdotes e dos fariseus”:

“Eu não rogo somente por eles, mas também por aqueles que vão crer em mim pela palavra deles. Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós a fim de que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes dei a glória que tu me deste para que eles sejam um como nós somos um: eu neles, e tu em mim para que sejam perfeitamente unidos e o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste como amaste a mim”. (Jo. 17, 20-22).

Ainda na Quinta-feira Santa: quem, Deus em pessoa, não se exalta. Antes, é o servidor de sua própria criatura, lavando-lhe os pés, assim nos ensinando e motivando ao contínuo encontro, à contínua solidariedade, ao contínuo compromisso comunitário.

Eis tão eloquente cena demonstrando, de modo irrefragável, a total inutilidade, o completo desvario no conduzir-se impelido pelo hostilizar, pelo discriminar, pelo violentar quem quer que seja.

Há a Sexta-feira Santa: quem, Deus em pessoa, entrega-se, sem reservas, por nós.

Antes do suspiro final, suas palavras permanecem relevando que não nos vocacionamos à solidão, à ausência, ao abandono. Eis que do alto da cruz, olhando sua mãe e o discípulo que sempre o acompanhou, disse:

“Mulher, eis o teu filho”! Depois disse ao discípulo: “Eis a tua mãe”! A partir daquela hora, o discípulo a acolheu junto de si”. (Jo 19, 26-27).

É o firme convite a construirmos a sociedade acolhedora, que cuida, que se desvela para que em situação alguma haja excluídas e excluídos, mas, todas e todos, não importam dificuldades e obstáculos que surjam, jamais estejam sós.

Há o Sábado Santo: quem, Deus em pessoa, ressuscita. Ressuscita em luz plena porque ressuscitar é abrir os olhos, ainda que cansados, ainda que amedrontados, ainda que entorpecidos e, abrindo os olhos, conhecer, para assumir; e assumir, para a diuturna construção da sociedade fraterna.

Os tempos obscuros, marcados pela mentira, pela corrupção,  pelo desrespeito, pela vileza nunca triunfarão.

 Acontecem, mas não têm a palavra final.

Eis o preâmbulo do Evangelho de São João:

“No princípio era a Palavra e a Palavra estava junto de Deus e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la”. (Jo 1, 1-5).

Que nossa Semana Santa seja plena de luz para que, em nossas vidas, jamais se apague a Luz e construtores sejamos, todas e todos nós, da Paz e do Bem.

Afinal: nem tudo está perdido!

 

 

 

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