“Avança para águas mais profundas” é
a tradução livre da expressão latina: “duc in altum”.
É, para mim, a expressão central do
Evangelho de São Lucas para o 5º domingo do tempo comum (Lc. 5, 1-11).
Nos dias de hoje, estamos
paralisados.
Paralisados por incessante bombardeio
de informações falsas, informações superficiais, informações secundárias,
jorradas pelas chamadas redes sociais.
Cabeças abaixadas ao teclado, dedos nervosos
a teclar incessantemente, somos sugados em ciclos viciosos, não contemplamos.
“Avança para águas mais profundas”
significa, de imediato, romper com a inércia e seguir adiante.
Seguir adiante ergue nossas cabeças.
Erguidos, contemplamos.
O ato de contemplar coloca-nos em
sintonia com tudo o que acontece. Não é ato de recolhimento à moda de
alhear-se, à moda de alienar-se, mas é ato de interação, é ato de encontro
porque somos seres vocacionados ao encontro, a despeito da lúcida constatação
do poeta Vinicius de Moraes de que: “a vida é a arte do encontro embora haja
tanto desencontro pela vida”.
Contemplamos para que nos
posicionemos. Definamos, ante as opções que assim surgem, para onde avançar.
Assumimos caminhos.
Todo caminho é meta. Todo caminho tem
significado. Andar ao léu é perambular.
“Avança para águas mais profundas” é
meta. Tem significado.
Significa o valor do conhecimento.
Não podemos ficar à margem, tampouco
na superfície das águas.
Importa pesquisar, ler, refletir,
construir, fundamentadamente, alicerçados em valores absolutos, que não passam
ao sabor do instante, que não se desfazem no provisório, mas valores que a
contemplação nos motiva a eles aderir, nos impele a sempre vivenciá-los.
Não somos seres da brutalidade, da
bestialidade, do horror estampados no noticiário do cotidiano.
Somos seres da Palavra, do Logos, de
Jesus Cristo.
Eis porque no texto lucano que estou
a meditar, Simão Pedro a despeito de dirigindo-se a Jesus ter realçado –
“Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos” -, não hesita em
lançar-se à meta porque atento esteve à
Palavra e, assim, por ela deixou-se conduzir: “Mas, em atenção à Tua palavra,
vou lançar as redes”.
É do que necessitamos.
Abrirmo-nos, também, para nossa
dimensão espiritual, onde a Palavra habita em nosso ser, propiciando conviva
ela, em perfeita harmonia, com a dimensão intelectual e a dimensão corpórea,
porque somos seres da integralidade, não da fragmentação, não da divisão.
Seres da totalidade harmônica. Seres
da paz, portanto.
Avancemos, sempre, para águas mais
profundas.
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