O general chinês Wei Fenghe, ministro
da defesa da China, ao tratar do que conhecido ficou como o “Massacre na Praça
da Paz Celestial” – quão triste ironia – quando, segundo organizações humanitárias,
cerca de 3.000 pessoas, em sua maioria estudantes e trabalhadores foram
assassinados no dia 4 de junho de 1989, considerou que:
“Esse incidente foi uma turbulência política e o governo
central adotou medidas para deter as turbulências, o que é uma política
adequada”. (jornal Correio Braziliense – 3/6/19 – pg. 13).
Outra matéria
jornalística, publicada ao lado da que se vem de registrar, tem a foto do Papa
Francisco, mães e crianças ciganas à sua frente, seguida de palavras suas
endereçadas à comunidade cigana no findar sua visita à Romênia:
“Carrego um fardo: o peso das discriminações, das segregações
e dos maus-tratos sofridos por sua comunidade. A história nos diz que até mesmo
os cristãos, inclusive os católicos, não são alheios a tanto mal”.
O Papa disse ainda:
“Peço perdão em nome da Igreja ao Senhor e a vocês pelas
vezes em que, no curso da história, nós os discriminamos, maltratamos ou
olhamos mal”.
É o que se tem hoje.
A autossuficiência dos
que não admitem graves erros cometidos no passado; dos que, em deformado
espírito de corporação, tentam justificar barbaridades acontecidas, traduzidas
em torturas, desaparecimentos, mortes, tudo avalizando em quadro de necessidade
da segurança como “política adequada”, para rememorarmos as palavras do general
Wei Fenghe.
Essa postura é
inaceitável.
A hierarquia e a
disciplina jamais podem autorizar a legitimação de toda e qualquer forma de
menosprezo pela vida humana.
A vida humana é sagrada
porque sopro de Deus que faz o acontecer humano como ápice da criação: “Façamos
o ser humano a nossa imagem e segundo nossa semelhança” está no versículo 26,
capítulo 1, do Livro do Gênesis.
“Ápice da criação” não
para que a mulher e o homem disponham a bel prazer de tudo o mais, criado por
Deus, mas “ápice da criação” porque o Deus-Amor, porque não é solidão,
necessita comunicar-se; quer amar e ser amado e, assim, oferece à mulher e ao
homem esse convite à descoberta e à permanência no amor.
Agora e assim, plenas de
sentido as palavras e as atitudes do Papa Francisco.
Pedir perdão.
Pedir perdão é
desfazer-se da autossuficiência; abrir o coração e, então, tornar-se humilde.
Humilhar-se é
abaixar-se; nivelar-se com a terra (= húmus, que é a raiz da palavra humilde) e
não mais exaltar-se; segregar; zombar; violentar; mutilar; eliminar.
Dias recentes marcam, em
culminância de estado evidente de desestruturação vivencial, o comportamento de
casal homoafetivo feminino a torturar; mutilar, decepando o pênis, e
assassinar, esquartejando brutalmente, o menino Rhuan Maycon, filho de uma
delas.
Por que tanto desatino?
A ruptura.
A ruptura consigo mesmo
que conduz ao desvario, que se expressa em comportamentos pessoais e coletivos
de destruição.
Já não sou; já não me
possuo; já não me conheço; já não me domino. Entrego-me, com outras e outros,
como estou: perdido porque sem raízes.
Lis e Mel, duas
gemeazinhas siamesas, unidas pelo crânio, após mais de um mês no Hospital da
Criança de Brasília, acabam de ter alta hospitalar e voltam ao seu lar com sua
mãe e seu pai.
Disse o Dr. Benício
Oton, coordenador de neurologia do Hospital da Criança:
“Conheci a família no ano passado e nós enfrentamos tudo
juntos. Na quinta-feira da última semana, quando vimos as crianças sorrindo na
enfermaria, nossa equipe também sorriu”. (jornal Correio Braziliense – 4/6/2019
– pg. 22).
Sim, solidarizar-se no “enfrentamos
tudo juntos” e olhar as crianças como a fonte dos sorrisos e sorrir, também,
torna impossível qualquer ruptura existencial.
Rhuan Maycon, o menino
de 9 anos, poderia estar sorrindo, também.
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