FASCISTAS E DEMOCRATAS USAM A MESMA
TOGA”
São palavras do Desembargador do
Tribunal de Justiça de Santa Catarina e Professor da Universidade Federal no
mesmo Estado, magistrado Lédio Rosa de Andrade, pronunciadas em discurso em
homenagem a seu amigo-irmão Luis Carlos Cancellier, reitor da Universidade
Federal de Santa Catarina, que terminara com sua própria vida, no dia 2,
próximo passado.
Estamos em tempos obscuros.
Obscuros porque as ditas elites, que
tem a responsabilidade maior na condução de todos os assuntos pertinentes ao
bem comum, na especificidade de como se apresentam – seja no governar, no
legislar e no julgar – divorciaram-se, por completo, de tão valorosa missão.
O que se assiste é a prática
reiterada e desavergonhada do corporativismo a engendrar “pactos”, “soluções de
ocasião”, “arranjos”, que espelham a covardia no assumir posições concretas,
objetivas, comprometidas com a verdadeira adoção de medidas para,
paulatinamente, construírem a sociedade fraterna, porque justa.
Não, nada disso se objetiva.
Familiariza-se e eterniza-se a
representação popular; o jogo de palavras e gestual estudado formatam o quadro,
assim manipulado, para o exercício da administração pública; o desequilíbrio
verborrágico incessante atropela, letalmente, a serenidade e a imparcialidade
de todos quantos decidem.
Torno ao Professor e Desembargador
Lédio Rosa de Andrade a dizer:
“É claro que um Estado Democrático de Direito precisa de
imprensa livre. É claro que um Estado Democrático de Direito precisa de independência
do Judiciário. Que o Judiciário e os juízes julguem, livremente, sem pressão.
Só que, também, é claro que essas instituições absolutamente importantes para a
democracia a cada dia, a cada momento, são deturpadas. Em nome da liberdade de
imprensa, se exerce a liberdade da empresa privada para impor desejos privados
à coletividade. Em nome da liberdade de julgar, neofascistas humilham,
destroem, matam”. (Jornal do Brasil: publicação eletrônica do dia 07/10 às
13h.24).
E, com pleno acerto
encerrou o Professor e Desembargador Lédio Rosa de Andrade:
“Bertolt Brecht já nos disse. Já estão levando não só os
vizinhos, já estão levando nossos amigos próximos e vão nos levar. A vida é
isso, companheiros. É luta permanente. E a democracia não permite descanso. Não
permite descanso. Eu, hoje, como professor da UFSC sou uma pessoa que tem
orgulho e alegria. Como desembargador, tenho vergonha. Porcos e homens se
confundem. Fascistas e democratas usam as mesmas togas”. (publicação citada).
Trago, aqui e agora,
porque tão oportunas e sábias, as palavras do Papa Francisco, na mensagem
quaresmal para o corrente ano, motivadas pela cena evangélica do pobre Lázaro e
o homem rico:
“O apóstolo Paulo diz que a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro (1 Tm 6, 10). Esta
é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e
suspeitas. O dinheiro pode chegar a dominar-nos até ao ponto de se tornar um
ídolo tirânico (cf. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, 55). Em vez de
instrumento ao nosso dispor para fazer o bem e exercer a solidariedade com os
outros, o dinheiro pode-nos subjugar, a nós e ao mundo inteiro, numa lógica
egoísta que não deixa espaço ao amor e dificulta a paz. Depois a parábola
mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso. A sua personalidade vive de
aparências, fazendo ver aos outros aquilo que se pode permitir. Mas a aparência
serve de máscara para o seu vazio interior. A sua vida está prisioneira da
exterioridade, da dimensão mais superficial e efêmera da existência (cf. ibid.,
62).
O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba. O
homem veste-se como se fosse um rei, simula a posição dum deus, esquecendo-se
que é um simples mortal. Para o homem corrompido pelo amor das riquezas, nada
mais existe além do próprio eu e, por isso, as pessoas que o rodeiam não caem
sob a alçada do seu olhar. Assim o fruto do apego ao dinheiro é uma espécie de
cegueira: o rico não vê o pobre esfomeado, chagado e prostrado na sua
humilhação”. (mensagem quaresmal do Papa Francisco para o ano de 2017).
Comecei este escrito,
dizendo: “Estamos em tempos obscuros”.
Sim, estamos.
Aos 16 anos de idade, e
esta semana chego aos 71, sonhando e me empenhando com tantas e tantos mais por
nosso Brasil, brasileiro; por nosso Brasil honesto, justo, fraterno e vi-me,
então aos 18 anos de idade, derrotado, destroçado, sofrido, mas permaneci fiel
ao sonho, que sonhei. Não o abandonei, e o dia amanheceu porque nuvens obscuras nunca impedirão que o sol sempre nasça, e ilumine.
Com muita alegria, venho
de ler palavras do Papa Francisco, ditas há pouco, na Audiência Geral da
quarta-feira, dia 20 de setembro, que me fazem tão bem, porque me entusiasmam a
não desistir. Diz Francisco:
“Cultiva ideais. Vive algo que supera o homem. E mesmo se um
dia estes ideais apresentarem uma conta alta a pagar nunca deixe de os
conservar no coração. A fé obtém tudo. Se erras, levanta-te: nada é mais humano
do que cometer erros. E aqueles mesmos erros não se devem tornar para ti uma
prisão. Não fiques preso nos teus erros. O Filho de Deus veio não para os
sadios, mas para os doentes: portanto, veio também para ti. E se errares ainda
no futuro, não temas, levanta-te! Sabes porquê? Porque Deus é teu amigo. Se a
amargura te atinge, crê firmemente em todas as pessoas que ainda trabalham pelo
bem: na sua humildade está a semente de um mundo novo. Frequenta pessoas que
conservam o coração como o de uma criança. Aprende da maravilha, cultiva a
admiração. Vive, ama, sonha, crê. E, com a graça de Deus, nunca te desesperes”.
(mensagem quaresmal mencionada).
Paz e
Bem.
Belissimo texto, meu querido irmão e filho de S. Francisco. Obrigado.
ResponderExcluirMeu professor querido, fico feliz por suas publicações. Agradeço a Deus por sua força e determinação em defesa do bem e na denúncia do mal.
ResponderExcluirAntes quero desejar ao Querido Professor um Feliz Ano novo juntamente com toda a famíia!
ResponderExcluirTrata-se de um belíssimo texto em que nunca eu havia pensado dessa forma, mas continuo pensando "o tempo não nos imobiliza?"