Pedem-me que escreva sobre Francisco
de Assis.
Tantos já o fizeram e tantos o farão
porque Francisco de Assis nos desperta de nossa mesmice. Então, cada qual, de
alguma forma, tocado por esse irmão não se guarda mais, e escreve. Afinal,
escrever é revelar-se.
Pensava sobre que diretriz imprimir
neste escrito, quando meus olhos pousaram sobre as “Fontes Franciscanas” e o
marcador desse livro indicou-me a página 444, precisamente no trecho, que
reproduzo:
“Senhor, responde Francisco, que queres que eu faça”? E o
Senhor para ele: Volta para tua terra, eis que a visão que viste prefigura um
feito espiritual a ser cumprido em ti, não por disposição humana, mas divina.
Tendo-se feito manhã, voltou com pressa para Assis, seguro e alegre; e já,
exemplo de obediência, esperava pela vontade de Deus.” (São Boaventura –
Legenda Maior de São Francisco – em Fontes Franciscanas – pg. 444 – Editora
Mensageiro de Santo Antônio – 2005).
Aí está: a centralidade
da pergunta que, portanto, se torna pergunta-chave: “Senhor que queres que eu faça?”
Eis que nesse mundo de
tanto barulho, tumulto, correria, preocupações e ocupações, tal indagação não
tem lugar em nossas vidas. Consequência: ansiedade e stress, aliás quadro que
estou experimentando, agora.
“Senhor que queres que eu faça?” não é abdicar da ação; não é
refugiar-se em Deus, mas é ter a sabedoria de dialogar com Deus, torná-lo
cotidiano em nossas vidas justamente como o Pai que, respeitando nossa
liberdade, sempre convida-nos a caminhar com Ele. Não por acaso os primeiros
seguidores de Jesus Cristo chamavam-se e tratavam-se como: “os do Caminho”.
“Volta para tua terra” é a resposta de Deus, ou seja, que nos façamos presença efetiva
no mundo para ensiná-lo a transcender – “feito
espiritual” – não em antagonismo ao mundo, não em ruptura com o mundo, mas,
inseridos no mundo, elevá-lo por atitudes concretas de desapego e de
solidariedade.
Eis porque Francisco,
superando a primeira batalha, que é contra si mesmo, foi viver com os leprosos
– condição de saúde humana que lhe causava asco nos seus tempos de fausto -,
dizendo no seu Testamento:
“Como estivesse ainda em pecado, parecia-me deveras
insuportável olhar para os leprosos, mas o Senhor me conduziu para o meio deles
e eu tive misericórdia com eles.” (Tomás de Celano – Primeira Vida de São
Francisco – livro citado – pg. 196-197).
Que a leitora, que o
leitor, que me acompanham neste itinerário escrito não se sintam incapazes de
gestos tão largos.
Para Deus, não há
medidas ou proporções aferíveis quantitativamente.
Basta que se faça manhã
– “tendo-se feito manhã” – em nossas
vidas.
Basta, portanto, que
abramos o nosso ser para o que é simples, para o que é além de nós, não porque
está fora de nós, mas porque nos elevamos a partir de nós – a isso eu chamo
“conversão”, que é ultrapassar esquemas e sistemas preconcebidos e predispostos
e, como diz o Papa Francisco, “deixar que Deus nos surpreenda” – e “obedientes” (= sabendo ouvir), por
certo somos “seguros e alegres”.
Paz
e Bem.
Muito obrigado. Suas palavras são como um bálsamo, Dr. Claudio Fonteles. Vejo-o como um dos "loucos" do seráfico pai Francisco de Assis. Paz e bem. Escreva sempre...
ResponderExcluirClaudio,
ResponderExcluirExcelente artigo. Escreva mais sobre o POVERELLO... Tens um jeito muito bom para a escrita.