“Vida que segue”, expressão tantas
vezes ouvida quando dissabores, infortúnios e fortes tristezas acontecem.
Sim, “vida que segue”, mas necessário
se faz que o que passou não seja, simplesmente, descartado como algo inútil, ou
que se deva esquecer.
“Vida que segue”, mas a partir do
aprendizado do que se viveu.
Bem recentemente, todos quantos
gostam de esporte, especificamente de futebol, experimentaram grande dissabor.
Em competição a nível mundial, nossa,
dita seleção, foi medíocre, avassaladoramente medíocre.
Reflitamos, portanto.
O comando do futebol, a melhor dizer,
de todas as modalidades esportivas em nosso País, é confiado a associações
privadas cujos mandantes – creio que o melhor termo seja mesmo esse: mandantes
– são pessoas que mandam e desmandam arbitrariamente; perpetuam-se no mando,
por décadas; utilizam-se dessas entidades para o enriquecimento pessoal em
inescrupuloso compadrio. Apesar de manejarem verbas públicas e desenvolverem
atividades que atingem patamar nacional não
se sujeitam a qualquer controle.
Permanecendo esse o quadro, nos
contentaremos com espasmos de vitoriosas conquistas dentro de realidade marcada
pelo desempenho ruim, quando não pífio, situação típica de País desorganizado e
amador.
Urge que se fixe período único, vedada a recondução, período definido
no quadriênio, findo o qual tais pessoas necessariamente retirem-se da direção
dessas entidades, e aconteça, então, a imprescindível e contínua renovação de
pensamento e ação.
Urge que a direção monocrática dessas
entidades – a presidência – seja desfeita e, em seu lugar, a direção das mesmas
passe a consolidar-se em colegiado – comissão diretora – integrado por um
representante dos atletas da modalidade esportiva; um representante dos
técnicos e um representante das associações esportivas em causa: a direção em triunvirato.
Urge que se legitime o Ministério Público, dada a inserção de verbas públicas a
subsidiar ações dessas entidades e a emigração descontrolada de jovens
brasileiros para o exterior, para o exercício do controle externo sobre essas
entidades, com todos os consectários disso decorrentes, ou seja, a provocação
do Poder Judiciário sempre que necessária a adoção de medidas judiciais a que
seja sanado o descontrole, a irresponsabilidade e a má-fé na gestão dessas
entidades.
Reflitamos, ainda:
O culto, provocado pelo
sensacionalismo midiático, ao egocentrismo, ao chamado craque – e quantos craques
mensais, e mesmo quinzenais, grande parte da mídia esportiva não se cansa de
“produzir” -, traduzido na máxima: “a seleção é Fulano e mais dez”; esse culto,
quase que idolátrico a ocupar mentes desavisadas, propicia eloquente desserviço.
Trago, aqui, porque as tenho por
oportunas e sábias, palavras do Papa Francisco, na sua Exortação Apostólica: “A Alegria do Evangelho”:
“2. O grande risco do mundo atual, com sua múltipla e
avassaladora oferta de consumo, é uma tristeza individualista que brota do
coração comodista e mesquinho, da busca desordenada de prazeres superficiais,
da consciência isolada. Quando a vida interior se fecha nos próprios
interesses, deixa de haver espaço para os outros...” ( consulte-se: A Alegria do Evangelho – pg. 3/4 ).
Aí está: certamente
que nos esportes coletivos – futebol, vôlei, basquete, etc. – um, ou mais de
um, atleta se sobressai dos demais por sua qualidade técnica, mas esse dado,
até óbvio dada a especificidade das aptidões entre as pessoas, que felizmente as impedem de serem tratadas
massivamente, em bloco supressivo das individualidades, esse dado, repito, jamais há de autorizar o endeusamento, o
estrelato superficial, vazio e inútil do “herói da partida”.
Heróis são todos os
que se dispuseram ir ao campo, ir à quadra, e, praticando sadiamente o esporte,
buscar a vitória.
A expressão, aqui já
mencionada sob o enfoque futebolístico – “a seleção é Fulano e mais dez” – é
superada, e desaparece irrefragavelmente diante da sabedoria popular que dita:
“ uma andorinha só não faz verão”.
Mister se faz que
tenhamos sempre em mente a equipe, o
conjunto de atletas, o esforço coletivo, e se se tem a necessidade da
escolha do melhor, que a escolha se faça como que a premiar o que melhor refletiu o conjunto, e o escolhido se sinta como a síntese de todos os demais
companheiros no jogo realizado.
Quem sabe assim, de
par com o desejo, natural e válido, a animar o atleta de obter proveito pessoal
para si, e para seus familiares, mais das vezes a que consiga ultrapassar nível
da crônica desigualdade econômica e social em que está inserido, esse mesmo
atleta possa compreender o inestimável valor de ser em conjunto, do jogar coletivamente, da responsabilidade social
de suas ações. A propósito, nunca é demais rememorarmos as palavras do Papa
Francisco, presentes em outro trecho da Exortação Apostólica “A Alegria do Evangelho”, delas me
valendo para encerrar este artigo:
“Para
se poder apoiar um estilo de vida que exclui os outros ou mesmo entusiasmar-se
com este ideal egoísta, desenvolveu-se uma
globalização da indiferença. Quase sem nos dar conta, tornamo-nos incapazes
de nos compadecer ao ouvir os clamores alheios, já não choramos à vista dos
dramas dos outros, nem nos interessamos por cuidar deles, como se tudo fosse
uma responsabilidade de outrem, que não nos incumbe. A cultura do bem-estar anestesia-nos a ponto de perdermos a
serenidade se o mercado oferece algo que ainda não compramos, enquanto todas
estas vidas ceifadas por falta de possibilidades nos parecem um mero espetáculo
que não nos incomoda de forma alguma.”(
consulte-se: A Alegria do Evangelho –
pg. 49 ).
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