segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Perguntas para final de domingo em final de ano


Acabo de assistir Vinicius de Moraes por suas músicas, tantas e belas, e trechos de entrevistas suas, no tempo, e me pergunto por que a poesia, expressão do encanto e da dor, anda tão distante e, quando chega, assume formas tão secas, quando não insossas?
Acabo de participar de missa, padre Luiz e a comunidade paroquial, reflexão tão apropriada e sábia, que ele enunciou sobre a formação da família; o encontro das gerações que disso resulta; o suportar o outro não como fardo, mas como apoio certo, porque confiável, eis que manifesta, concretamente, “o amor como vínculo da perfeição”; o Estado-Herodes, assassino por ação, ou omissão, dos mais fracos, dos que não contam porque representam estorvo, obstáculo à curtição ensandecida da materialização dos costumes, ou porque significam o inútil, o empecilho à produção e ao ganho, mais ainda, fonte de gastos incessantes no envelhecer, que se arrasta, e me pergunto por que padre Luiz, que nos concita a nos posicionarmos à luz da evangélica opção pela vida em abundância, não ficará mais entre nós, retornando que está a outro local?
Acabo, ao acaso, de ver Dilma Roussef na televisão em mais uma monótona aparição a desfilar a retórica da melhoria econômico-financeira das famílias brasileiras, e me pergunto por que as lideranças políticas são tão limitadas, incapazes de transcender o discurso das realizações-inaugurações e nunca se posicionam honesta, clara e objetivamente sobre o que, na verdade, importa: que valores pautam o nosso ser como pessoa; a nossa convivência em família, na vizinhança, na comunidade em que estamos inseridos, no País que construímos? Como tornar concreta a vivência desses valores, calcados na solidariedade, no respeito à divergência, na honestidade, na promoção da paz e do bem comum?
Acabo de retornar da simples e pequena gruta, construída no jardim daqui de casa, refúgio meu ante S. Francisco, que primo meu, artesão e franciscano de coração, como também eu tento ser, fez-me chegar no dia 3 de outubro – o trânsito de S. Francisco – e invadido por sentimento de paz, traduzo-o não em rancorosas, ou amargas, ou agressivas palavras, que estou a escrever, mas em perguntas como a que estou fazendo, e mais uma vez me pergunto por que as pessoas não tornam vivo, existencial, o testemunho de S. Francisco? Por que gostam de citar passagens de sua vida; aqui e acolá usam objetos de lembrança do poverello de Assis, mas tudo permanece no exterior, até mesmo suas orações, então meramente faladas e repetidas, e as pessoas não praticam o que S. Francisco praticou com a própria vida, cotidianamente?
Está para acabar mais um ano – 2013 – e sobre ele, portanto, perguntas não mais me motivam, mas como novo ano aí está – 2014 -, por um instante deixo de lado as perguntas e termino este texto com o desejo – porque é o desejo que nos move, nos faz viver – o desejo de que as perguntas, que fiz, a mim e a todos vocês tenham respostas que nos façam verdadeiramente felizes.


3 comentários:

  1. Adorei o texto e agradeço pelas reflexões, Cláudio! Feliz ano novo a você e toda a família!
    Beijo,
    Cris

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  2. Adorei o texto e agradeço pelas reflexões, Cláudio! Feliz ano novo a você e toda a família!
    Beijo,
    Cris

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  3. Valeu, Cris:

    Onde anda você para o vôlei? Tenha abençoado ano de 2014.

    Paz e Bem,

    Claudio.

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