O 15 de novembro, celebrado – será
mesmo? – pela proclamação da República, deste ano de 2013 é marcado pela prisão
de lideranças políticas e representantes do esquema financeiro-publicitário, esquema
costumeiro à eficácia dos detentores do poder, que nele desejam permanecer,
indefinidamente – o chamado projeto de poder -, ditado pelos comportamentos
personalistas e centralizadores, mascarados pela distribuição de bens materiais
à população, disso excluída.
Nada contra, antes pelo contrário, à
distribuição de bens materiais de consumo.
Isso, contudo, não pode constituir-se
na opção central de política governamental: apresentar-se como mera agência
provedora de consumo.
Pelo que se anseia, básica e
fundamentalmente, é a centralidade da educação, da saúde e do ambiente
ecologicamente limpo, porque se põem a serviço da centralidade da pessoa humana
para que se desenvolva integralmente.
É por isso que, espontaneamente,
eclodiu o que se resolveu chamar de “clamor das ruas”, acontecimento muito
importante, mas que não demorou a ser desvirtuado pela cumplicidade ocasional,
mas necessária a ambos, dos detentores do poder político, que se homiziaram no
silêncio, quando tudo tinham para propor e lutar pela aprovação de medidas que
terminassem com a degenerescência do “presidencialismo de coalizão”, marcada
pela barganha inescrupulosa dos cargos públicos e loteamento das instituições
públicas – herança maldita de maus políticos brasileiros, não de todos, mas de
muitos – e da chamada grande mídia que, e como sempre, encantada pela venda
sensacionalista do produto noticiado, priorizou, exclusivamente, o desvario das
explosões de agressividade irracional, deixando de, por incompetência ou
interesses outros, também priorizar o
debate sobre o papel da Sociedade na condução dos assuntos postos a cargo do
Estado brasileiro.
Aqui, o ponto.
Somos, brasileiras e brasileiros,
povo atrelado passivamente ao Estado na condução de assuntos nossos.
Nosso ato de votar não afirma nossa
cidadania. Transferimo-la aos chamados “representantes do povo”, que se colocam
acima de nós; se eternizam em infindáveis reeleições; não nos prestam contas do
que fazem, se é que fazem algo de concreto: antes eles se tornam
“profissionais” gananciosos da política, assim conspurcada em sua relevante
razão de ser: o compromisso único com o bem comum.
O formalismo da democracia representativa é a face branda e sedutora das
ditaduras civis.
Ou, como diz, magnificamente, Aldous
Huxley: “A ditadura perfeita terá as
aparências da democracia, uma prisão sem muros na qual os prisioneiros não
sonharão sequer com a fuga. Um sistema de escravidão onde, graças ao consumo e
ao divertimento, os escravos terão amor à sua escravidão”.
O nosso desafio está em participar,
ativa e perseverantemente – jamais desistir – na cotidiana construção da
sociedade, assim protagonista e construtora de sua própria história: a democracia participativa.
Urge mudar a mentalidade que tecla o
voto eletrônico, e vai para a casa com a ridícula sensação do dever cumprido.
Por que deixamos que as ruas fossem
palco de desvairados?
Por que não nos mantivemos
mobilizados em passeatas, cara à mostra, sem medo de arrostar o sistema, com
vozes, e cantos, e faixas a estampar as medidas concretas, que queremos, pela valorização da educação; pela atenção
incessante à saúde; pelo cuidado e preservação do meio ambiente, espaço
propício do existir e ser; pelo
incansável repúdio à corrupção, efetivado na condenação e cumprimento da
pena criminal, sem rodeios protelatórios, a que se acrescenta o necessário e
imediato ressarcimento pecuniário aos cofres públicos da lesão causada não só
por parte de episódicos protagonistas, alcunhados de mensaleiros, mas também
por todos quantos se apropriam, denigrem, conspurcam a res publica (= a coisa pública ).
Aí sim, a celebração do 15 de
novembro é verdadeira, e dela podemos nos orgulhar.
Caso contrário, tudo fica em mais uma
notícia sensacionalista que, logo e logo, vai para a cesta de lixo do
esquecimento.
Caro Claudio,
ResponderExcluirPor esta posicao eu esperei ate hoje. Seu texto é claro e reflete essa expectativa que ainda nao morreu em nos.
Abraco grande e parabens. Vania Serra