quarta-feira, 8 de junho de 2022

AMIZADE SOCIAL

 

                                    

 

É expressão fundamental que o Papa Francisco apresenta na sua Carta Encíclica “Fratelli Tutti”.

Devastados pela pandemia, assolados pelos conflitos armados, necessitamos estancar essa sangria social.

Os pessimistas de sempre que, consciente ou inconscientemente, beneplacitam esse estado de coisas, permanecerão comportando-se no descrédito, na ironia, no desestímulo.

Não me impressionam, porque viver é a possibilidade de fazer possível o que se tinha por impossível, assim como o mistério não é aquilo que jamais compreenderemos, mas sim aquilo que ainda não compreendemos.

Fazer possível o que se tinha por impossível é sair de si e oferecer-se ao diálogo porque “a ausência de diálogo significa que ninguém, nos diferentes setores, está preocupado com o bem comum, mas sim em obter as vantagens que o poder econômico proporciona ou, na melhor das hipóteses, em impor seu próprio modo de pensar. Assim, o diálogo será reduzido a meras negociações visando a obtenção de poder e de maiores vantagens possíveis, sem uma busca conjunta capaz de gerar o bem comum. Os heróis do futuro serão aqueles que saberão romper com essa mentalidade doentia, decidindo sustentar palavras cheias de verdade, para além das conveniências pessoais. Queira Deus que esses heróis estejam surgindo silenciosamente do meio de nossa sociedade”. (Papa Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 202 – pg. 106/107).

O diálogo aberto, sincero, incessante, disponível nos conduz ao encontro na verdade.

Verdade, palavra tão manipulada pelos que tudo relativizam no afã do exercício hedonista; pelos que tudo deformam na aparência do que é provisório, fugaz, mas que posto é como definitivo e derradeiro.

“Temos de ter prática em desmascarar as várias formas de manipulação, distorção e ocultação da verdade nas esferas pública e privada. O que chamamos de “verdade” não é só a comunicação dos fatos pelo jornalismo. É, em primeiro lugar, a busca dos fundamentos mais sólidos que sustentam nossas escolhas e nossas leis. Isso implica aceitar que a inteligência humana pode ir além das conveniências do momento atual e apreender algumas verdades que não mudam, que eram verdades antes de nós e sempre serão. Indagando sobre a natureza humana, a razão descobre valores que são universais, porque dela derivam”. (Papa Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 208 – pg. 109).

A verdade é, portanto, a descoberta de valores imutáveis, que a revelam.

A verdade é expressão do absoluto.

Se somos seres corporalmente limitados, todavia isso não nos impede de conhecer a verdade porque não nos limitamos à corporeidade.

Integrada à corporeidade e à racionalidade, a espiritualidade nos conduz à liberdade, que é o espaço aberto à nossa existência.

Eis porque disse Jesus: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (Evangelho de São João 8, 31-32).

Sim, a verdade desata-nos. Tira os nossos nós. Tira tudo o que nos amarra, nos aprisiona em nossos preconceitos e, por consequência, em nossas posturas hegemônicas porque todo aquele, toda aquela, preconceituoso, preconceituosa, centra-se em si mesmo, chamando a si a solução de tudo.

Soluções não radicam na exaltação do ego inflado.

Soluções, aconteçam no âmbito comunitário que for, hão de revelar o esforço coletivo do dispor-se a ouvir aquilo que me diz o que é diferente de mim; a fazer do dissenso a possibilidade do consenso; a envolver-se, concreta e incansavelmente na tarefa da promoção do bem comum; a vivenciar, portanto, a amizade social.

Diz o Papa Francisco:

“223. São Paulo designa um fruto do Espírito Santo com a palavra grega chrestotes (Gl 5, 22), que expressa um estado de ânimo não áspero, rude, duro, mas benigno, suave, que sustenta e conforta. A pessoa que possui essa qualidade ajuda os outros para que a sua existência seja mais suportável, sobretudo quando sobrecarregados com o peso dos seus problemas, urgências e angústias. É um modo de tratar os outros, que se manifesta de diferentes formas: amabilidade no trato, cuidado para não magoar com as palavras ou os gestos, como tentativa de aliviar o peso dos outros. Supõe “dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem, consolam, estimulam” em vez de “palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam” (AL, nº 100).

224. A amabilidade é uma libertação da crueldade que às vezes penetra nas relações humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros, da urgência distraída que ignora que os outros também têm direito de ser felizes. Hoje raramente se encontram tempo e energia disponíveis para tratar bem os outros, para dizer “com licença”, “desculpe”, “obrigado”. (Papa Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 223/224 – pg. 115/116).

Que possamos, onde quer que estejamos, ser artífices da amizade social.   

 

                                                       Paz e Bem.

 

 

 

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