É expressão fundamental que o Papa
Francisco apresenta na sua Carta Encíclica “Fratelli Tutti”.
Devastados pela pandemia, assolados
pelos conflitos armados, necessitamos estancar essa sangria social.
Os pessimistas de sempre que,
consciente ou inconscientemente, beneplacitam esse estado de coisas,
permanecerão comportando-se no descrédito, na ironia, no desestímulo.
Não me impressionam, porque viver é a
possibilidade de fazer possível o que se tinha por impossível, assim como o
mistério não é aquilo que jamais compreenderemos, mas sim aquilo que ainda não
compreendemos.
Fazer possível o que se tinha por
impossível é sair de si e oferecer-se ao diálogo porque “a ausência de diálogo
significa que ninguém, nos diferentes setores, está preocupado com o bem comum,
mas sim em obter as vantagens que o poder econômico proporciona ou, na melhor
das hipóteses, em impor seu próprio modo de pensar. Assim, o diálogo será
reduzido a meras negociações visando a obtenção de poder e de maiores vantagens
possíveis, sem uma busca conjunta capaz de gerar o bem comum. Os heróis do
futuro serão aqueles que saberão romper com essa mentalidade doentia, decidindo
sustentar palavras cheias de verdade, para além das conveniências pessoais.
Queira Deus que esses heróis estejam surgindo silenciosamente do meio de nossa
sociedade”. (Papa Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 202 – pg.
106/107).
O diálogo aberto, sincero,
incessante, disponível nos conduz ao encontro na verdade.
Verdade, palavra tão manipulada pelos
que tudo relativizam no afã do exercício hedonista; pelos que tudo deformam na
aparência do que é provisório, fugaz, mas que posto é como definitivo e
derradeiro.
“Temos de ter prática em desmascarar as várias formas de
manipulação, distorção e ocultação da verdade nas esferas pública e privada. O
que chamamos de “verdade” não é só a comunicação dos fatos pelo jornalismo. É,
em primeiro lugar, a busca dos fundamentos mais sólidos que sustentam nossas
escolhas e nossas leis. Isso implica aceitar que a inteligência humana pode ir
além das conveniências do momento atual e apreender algumas verdades que não
mudam, que eram verdades antes de nós e sempre serão. Indagando sobre a
natureza humana, a razão descobre valores que são universais, porque dela
derivam”. (Papa Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 208 – pg. 109).
A verdade é, portanto,
a descoberta de valores imutáveis, que a revelam.
A verdade é expressão
do absoluto.
Se somos seres
corporalmente limitados, todavia isso não nos impede de conhecer a verdade
porque não nos limitamos à corporeidade.
Integrada à
corporeidade e à racionalidade, a espiritualidade nos conduz à liberdade, que é
o espaço aberto à nossa existência.
Eis porque disse Jesus:
“Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos e
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. (Evangelho de São João 8,
31-32).
Sim, a verdade
desata-nos. Tira os nossos nós. Tira tudo o que nos amarra, nos aprisiona em
nossos preconceitos e, por consequência, em nossas posturas hegemônicas porque
todo aquele, toda aquela, preconceituoso, preconceituosa, centra-se em si
mesmo, chamando a si a solução de tudo.
Soluções não radicam na
exaltação do ego inflado.
Soluções, aconteçam no
âmbito comunitário que for, hão de revelar o esforço coletivo do dispor-se a
ouvir aquilo que me diz o que é diferente de mim; a fazer do dissenso a
possibilidade do consenso; a envolver-se, concreta e incansavelmente na tarefa
da promoção do bem comum; a vivenciar, portanto, a amizade social.
Diz o Papa Francisco:
“223. São Paulo designa um fruto do Espírito Santo com a
palavra grega chrestotes (Gl 5, 22),
que expressa um estado de ânimo não áspero, rude, duro, mas benigno, suave, que
sustenta e conforta. A pessoa que possui essa qualidade ajuda os outros para
que a sua existência seja mais suportável, sobretudo quando sobrecarregados com
o peso dos seus problemas, urgências e angústias. É um modo de tratar os
outros, que se manifesta de diferentes formas: amabilidade no trato, cuidado
para não magoar com as palavras ou os gestos, como tentativa de aliviar o peso
dos outros. Supõe “dizer palavras de incentivo, que reconfortam, fortalecem,
consolam, estimulam” em vez de “palavras que humilham, angustiam, irritam, desprezam”
(AL, nº 100).
224. A amabilidade é uma libertação da crueldade que às vezes
penetra nas relações humanas, da ansiedade que não nos deixa pensar nos outros,
da urgência distraída que ignora que os outros também têm direito de ser
felizes. Hoje raramente se encontram tempo e energia disponíveis para tratar
bem os outros, para dizer “com licença”, “desculpe”, “obrigado”. (Papa
Francisco, Carta Encíclica Fratelli Tutti, nº 223/224 – pg. 115/116).
Que possamos, onde quer
que estejamos, ser artífices da amizade social.
Paz e Bem.
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