“Um dos malfeitores suspensos à cruz
insultava Jesus, dizendo: Não és tu o Cristo? Salva-te a ti mesmo e a nós. Mas
o outro, tomando a palavra, o repreendia. Nem sequer temes a Deus, estando na
mesma condenação? Quanto a nós é de justiça; estamos pagando por nossos atos,
mas Ele não fez nenhum mal. E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando
vieres com teu reino”. (Lucas 23, 39-42. Bíblia de Jerusalém - edições Paulinas
– 1985).
Durante bom tempo esse texto me
intrigou.
Pensava: bastava uma declaração de
mudança de vida e ´pronto, tem-se a salvação.
Ainda hoje, muitas e muitos, focando
o arrependimento em si, a tal conduta atribuem o incontinenti efeito salvífico.
Não. Não é tão simples assim.
Importa, para a adequada compreensão
do ensinamento de Jesus, presente na transcrição evangélica acima, que se
examine bem a conduta de adesão a Sua pessoa e a Seus atos.
Primeiro Dimas – assim vamos chamar o
que se converte - não se põe em atitude omissiva, de mero espectador ante os
desafios verbais de seu camarada, na delinquência, à pessoa de Jesus.
Atalha seu camarada e o repreende: “...tomando
a palavra, o repreendia”.
Depois, reconhece positivamente que a
pena que receberam “é de justiça” pela vida delituosa que sempre
levaram.
Aqui surge dado central.
Dimas tem a coragem de repudiar,
tanto proclamando a seu camarada de tantos anos, o grande erro na forma como se
conduziram em vida.
Nós, na imensa maioria de mulheres e
homens, no nosso existir, muito dificilmente temos tanta coragem.
Escudamo-nos sempre em alguém, ou em
algo, ou em ambas as situações, para nos justificarmos.
A esse propósito, e valendo-me do
precioso ensinamento do Compêndio da Doutrina Social da Igreja sobre a
universalidade do pecado, reproduzo-o como posto em tal Documento:
“120. A doutrina do pecado
original, que ensina a universalidade do pecado tem uma importância
fundamental... Esta doutrina induz o homem a não permanecer na culpa e a não
tomá-la com leviandade, buscando continuamente bodes expiatórios nos outros
homens e justificações no ambiente, na hereditariedade, nas instituições, nas
estruturas e nas relações. Trata-se de um ensinamento que desmascara tais
engodos. A doutrina da universalidade do pecado, todavia, não deve ser
desligada da consciência da universalidade da salvação em Jesus Cristo. Se dela
isolada, gera uma falsa angústia do pecado e uma consideração pessimista do
mundo e da vida, que induz a desprezar as realizações culturais e civis dos
homens”. (CDSI nº 120 – pg.78 - edições Paulinas – 1985).
Estamos em tempos de manipulação das
consciências. Bem elaboradas técnicas de persuasão midiática e em redes sociais
conduzem-nos, ardilosamente, dando-nos a enganosa sensação de exercermos a
nossa liberdade, fazendo-o, sem limites, em nome da Democracia.
Mais uma vez, o magistério do
Compêndio da Doutrina Social da Igreja:
“Não se deve restringir o significado
da liberdade, considerando-a numa perspectiva puramente individualista,
reduzindo-a ao exercício arbitrário e incontrolado da própria autonomia pessoal:
Longe de cumprir-se em uma total autonomia do eu e na ausência de relações,
a liberdade só existe verdadeiramente quando laços recíprocos, regidos pela
verdade e pela justiça unem as pessoas”. (CDSI nº 199 - edições Paulinas –
1985).
Tornemos a Dimas.
O que fez?
Livre, uniu-se em “laços
recíprocos, regidos pela verdade e pela justiça” a Jesus porque Ele, Jesus:
“não fez nenhum mal”.
Ainda mais, em sua frase final -
“Jesus, lembra-te de mim, quando vieres com teu reino” -, nada barganha,
nada cobra. Simplesmente, e com toda a humildade, pede que Jesus dele se
lembre: é o bastante.
Jesus dele lembrar-se é
tornar eternamente presente - “quando vieres com tu reino” - o passado desfeito eis porque Jesus assim
conclui o diálogo: “Em verdade, eu te digo, hoje estarás comigo no Paraíso”.
Paz e Bem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário