segunda-feira, 10 de agosto de 2020

100.000 MORTES

   

 

“Lamento todas as mortes. Tá chegando em 100 mil talvez  hoje..., mas vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se  safar disso aí”. (Correio Braziliense de 9 de agosto – pg. 18). 

Assim, o presidente Jair Bolsonaro reage à impressionante cifra de irmãs e irmãos brasileiros mortos na pandemia. Número que continua a subir. 

Nenhuma atitude real; nenhum gesto concreto; nenhum pronunciamento a nós, brasileiras e brasileiros, manifestando sua dor, sua solidariedade, seu empenho no estancar tamanho absurdo. 

Mero e apático lamento, solto ao vento e, praticamente 5 meses após o início da pandemia, ter o desplante de dizer “vamos tocar a vida e buscar uma maneira de se safar disso aí”. (grifei) 

Ainda o presidente Jair Bolsonaro está “a buscar uma maneira de se safar disso aí”. 

Absoluta ausência de liderança, de protagonismo, que se quer e se espera de verdadeiro líder de uma Nação em situação de tamanha calamidade pública. 

Nada. 

O ministro da Saúde é interino. Não se conhece programa algum de concreto combate à pandemia. Não se presta contas à Nação. 

Tão desastrosas condutas do presidente da República Jair Bolsonaro - chega a correr atrás de uma ema, empunhando caixa de hidroxicloroquina, nos jardins do Palácio da Alvorada – significam a reiteração de sua mais completa irresponsabilidade e despreparo para o cargo que exerce. 

No acontecer da pandemia, qualificou-a de “gripezinha; resfriadinho; histeria”. 

Em 20 de abril, indagado sobre o número de mortes, já expressivo, diz: “Ô cara, quem fala de... Eu não sou coveiro, tá certo? 

Uma semana depois, crescendo o número de mortos, diz: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias mas não faço milagres”. 

Completa insensatez. 

Como insensato é quando, buscando livrar-se de sua óbvia responsabilidade na condução de política governamental para enfrentar tamanha crise na saúde pública, quer transferir a governadores e prefeitos o ônus do que está a acontecer. 

O verdadeiro líder, em quadro de crise nacional a séria e gravemente afetar a saúde de todas as brasileiras e de todos os brasileiros, haveria de promover, chamando a si, estimulando e perseverando, ação conjunta com todos os governadores e prefeitos, pouco importando a filiação político-partidária dos envolvidos. 

Como bem dizem os Bispos católicos brasileiros na Carta ao Povo de Deus: 

“3. É nesse horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do Brasil. Não temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos, ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor. 

4. O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma tempestade perfeita que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança. 

5. Esse cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exigem de suas instituições, líderes, e organizações civis muito mais que discursos ideológicos fechados. Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença”. (Carta ao Povo de Deus – itens 3/5, grifo do original). 

A postura do presidente Jair Bolsonaro é de brutal insensibilidade; frieza extrema; absoluto desprezo pelo ser fraterno e misericordioso. 

Quão longe ele está, digo mesmo, quão divorciado ele está de palavras tão significativas e plenas de sentido do Papa Francisco, a propósito da misericórdia como nosso compromisso de vida: 

“Na Sagrada Escritura, como se vê, a misericórdia é a palavra-chave para indicar o agir de Deus para conosco. Ele não Se limita a afirmar o seu amor, mas torna-o visível, palpável. Aliás, o amor nunca poderia ser uma palavra abstrata. Por sua própria natureza, é vida concreta: intenções, atitudes, comportamentos que se verificam na atividade de todos os dias. A misericórdia de Deus é a sua responsabilidade por nós. Ele sente-Se responsável, isto é, deseja o nosso bem e quer ver-nos felizes, cheios de alegria e serenos. E, em sintonia com isto, se deve orientar o amor misericordioso dos cristãos. Tal como ama o Pai, assim também amam os filhos. Tal como Ele é misericordioso, assim somos chamados também a ser misericordiosos uns para com os outros”. (Bula Misericordiae Vultus da Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia). 

100.000 mortos, e tantos outros que estão a morrer nessa cornucópia macabra de números, não podem ser, insensivelmente, deletados. 

A cidadania clama porque seja dada resposta “para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça”.   

4 comentários:

Anônimo solidário disse...

A cidadania clama e as instituições calam, quando não são coautoras de tantos e permanentes crimes contra o país e seu povo. O que fazer com elas?

Unknown disse...

Um grito na noite escura...uma luz na escuridão.
Soltemos nossa voz! acendamos a luz da fé e do compromisso.
Parabéns, Claudio!
Ir. Vilani

Unknown disse...

O País está órfão de presidente...
Paz e Bem Cláudio!
Cláudio Yamin

Unknown disse...

Muito propícia a Reflexão, o cenário é triste, é crítico, não podemos olhar de forma indiferente, parabéns Dr. Claudio. Paz e Bem