SÃO PAULO E ALBERT CAMUS:
frases ditas.
“Examinai tudo e guardai o que for
bom”.
É a orientação de São Paulo aos
Tessalonicenses, na primeira carta que escreveu para essa comunidade (1 Ts. 5,
21).
“Examinai tudo”.
Examinando tudo, de plano pomo-nos em
desacordo com qualquer atitude sectária.
Abdicamos, assim, de nossos
preconceitos e nos colocamos abertos à disposição de ouvir e refletir sobre o
que se ouve.
Nada de incessante loquacidade; nada
de usarmos palavras e expressões chulas na ilusão de agradar público caracterizadamente medíocre por, justamente, alimentar-se de palavras e
expressões chulas.
Examinando tudo havemos de afirmar
princípios, que nos permitem estabelecer critérios e, então, assumirmos
posicionamentos sérios porque embasados e fundamentados.
Examinando tudo as fake news não resistem e se evaporam.
A superficialidade, tônica da
comunicação nos dias de hoje, é superada por manifestações culturais, que
trazem consistência no que expressam e, portanto, apresentam – indicando que
não se tem diante bando amorfo de indivíduos – pessoas capazes de revelarem,
porque se revelam sem subterfúgios, o para onde caminhar e como assim fazer sua
história pessoal e comunitária.
“A lucidez supõe a resistência às
tentações do ódio e ao culto da fatalidade”.
É a orientação de Albert Camus no
responder à sistemática censura ao exercício de sua profissão de jornalista
empenhado em libertar seu país, a Argélia, da subjugação colonial.
Resistir às tentações do ódio é
renunciar à violência, sobrepujando-a com a serenidade e a paz. É despir-se do
comando autoritário, grosseiro, truculento, assumindo a acolhida, a gentileza,
a fraternidade.
Resistir às tentações do ódio é
educar-se na perseverança da mística de ser
para e com o outro como compromisso irrenunciável porque não se pode
tergiversar na construção cotidiana do bem comum.
Resistir, em segundo momento, ao
culto da fatalidade é ser livre.
Expressa-o, muito bem, São Paulo
quando diz em carta aos Gálatas:
“É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e
não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (GL. 5, 1).
Sim,
a liberdade cristã radica na possibilidade infinita, enquanto vivermos, de conhecer o desconhecido; iluminar o que
está oculto; movimentar o que se tornou imóvel; desamarrar o que está
manietado.
Como
acrescenta o padre jesuíta Jean Yves Calvez no seu artigo “Utopia Social” sobre
o significado de ser cristão:
“Vivem no presente e é a partir do
presente que procuram construir, mas não aceitam satisfazer-se com ele. Para
eles, não há fim da história”. (in- Fonteles, Claudio – Três Momentos da
Doutrina Social da Igreja – pg. 15).
Não
podemos nos fechar em estruturas hierarquizadas. Não podemos nos reduzir a
seres de começo, meio e fim. Devemos transcender; ultrapassarmo-nos; deixar que
as surpresas aconteçam, percebendo o imperceptível. Assim, então, tudo ponderamos; ao ódio resistimos; não
nos cabe a fatalidade; o bem alcançamos.
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