segunda-feira, 13 de março de 2017

DE NETA E NETOS; FILHAS E FILHO; GENROS; ÂNGELA E EU



A voz não é mais infantil. Está em mutação, como todo o seu corpo. É Rafael, 12 anos, chegando aos 13, idade em que comecei a me dar por mim, adolescente, em 1960, com pai, mãe e irmã, aqui em Brasília, recém- chegados do Rio de Janeiro.
Rafael é emotivo, mas sereno.
Com 9 para 10 anos, seu irmão André. Entre o menino e o adolescente. É pensativo, introspectivo, discreto.
E, ainda, da união de Flávia, a filha, e Gilmar, o genro, Lucas e os seus 8 anos de muita energia, correria.
De Fernanda, a filha do meio, e Martin, o outro genro, nasceu Heitor, 6 anos, de boas gargalhadas, tremendo gozador, e Artur, 3 anos, ainda cauteloso, mas com a verve ensaiando o ser curtidor no gingado do andar e do batuque na mesa, no almoço dos sábados.
Claudia, a outra filha do meio, no meu coração sempre, não importando seus breves dias comigo.
Gabriel, nosso filho, ainda na dele.
Ângela, amada e companheira sempre, é amada e companheira sempre e isso é o amor: a certeza do infinito no caminhar juntos, entre lágrimas e sorrisos, da mulher e do homem.
Dessa brevíssima e muito simples descrição, desponta algo, para mim, de tão surpreendentemente belo: o “engenho e a arte” de Deus para conosco.
Não nos criou em formas; não nos fez em série de produção.
Não.
Deus criou-nos únicos e irrepetíveis.
Para cada um de nós, Deus nos fez artífices de nossa própria história de vida, que não é idêntica a de ninguém, não para que nos exaltemos, nos ambicionemos no que só em nós se identifica, mas para que o que nos identifica e é só nosso, nós não o reservemos para nós, mas o façamos frutificar em partilha com os outros que, também para nós, nos entregam o que deles é específico.
A isso, chamamos solidariedade, ou seja, dar-se continuadamente.
“Todo amor é extático”, disse alguém num belo dia. Com efeito, amar é extasiar-se, ou seja, sair de si para ir ao encontro: êxtase.
Mas “o engenho e a arte” de Deus para conosco patenteia-se, também, na família por isso, e no meu caso, dei a este artigo o título, que o apresenta: “De neta e netos; filhas e filho; genros; Ângela e eu”.
Com efeito, o Papa Paulo VI, na sua sábia Encíclica Populorum Progressio, para mim é definitivo ao analisar o significado de família. Diz:
“Porém, a família natural, monogâmica e estável, tal como o desígnio de Deus a concebeu e o cristianismo a santificou, deve continuar a ser esse lugar de encontro de várias gerações que reciprocamente se ajudam a alcançar uma sabedoria mais plena e a conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social”. ( leia-se: Populorum Progressio nº 36 – pg. 31).
Sim, a família radica nesses três fundamentos: ser natural, monogâmica e estável: natural reconhecida na união da mulher e do homem, que na sua diversidade ontológica, na sua heterogeneidade, por essa definitiva razão propicia a complementaridade, estampada na unidualidade pela qual duas vidas, permanecendo cada qual em si, abrem-se ao mais íntimo de si para ofertá-lo, continuadamente, a quem, assim, adentra em si: “Por isso, deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à sua mulher e eles serão uma só carne” (leia-se: Gênesis 2, 24); monogâmica porque ela e ele, sem terceiros ou terceiras, na construção diuturna, sem dúvida de fadiga, de dúvida, de pranto, mas por isso mesmo que de crescimento, perseverança e harmonia, que só o amor-entrega em totalidade é capaz de possibilitar; estável porque não se é, nem se caminha, no que é transitório, precário, passageiro, alimento fugaz do relativismo mundano.
Sim, “a família é o lugar de encontro de várias gerações”. Encontram-se para que o “eu” não se absolutize no egocentrismo, mas se torne partilha, vivencie o “nós” e, então, seja expressão real, clara, viva “do conciliar os direitos pessoais com as outras exigências da vida social” (trecho da transcrição feita acima da Carta Encíclica Populorum Progressio).

Se Rafael, no hebraico a significar “Deus cura”, inicia este artigo, Maria Clara, a neta que às vésperas de completar 7 anos não se fez mais visível entre nós, culmina toda essa reflexão porque é presença constante em minha vida, certeza, assim, de que a morte não tem a palavra final porque a vida, acolhida em família, e nela vivida, ainda que por  segundos, não é lembrança, mas presença inextinguível. 

2 comentários:

José Carvalho disse...

Uma ótima mensagem para nossa reflexão.Obrigado Dr.Fonteles .

José Carvalho disse...

Uma ótima mensagem para nossa reflexão.Obrigado Dr. Fonteles.