“Dizia São Boaventura que, através da reconciliação universal
com todas as criaturas, Francisco voltara de alguma forma ao estado de
inocência original. Longe desse modelo, o pecado manifesta-se hoje, com toda a
sua força de destruição, nas guerras, nas várias formas de violência e abuso,
no abandono dos mais frágeis, nos ataques contra a natureza”. (Laudato Si, nº
66, pg. 55 – edições Paulinas).
Tão apropriado esse
trecho, praticamente abrindo o Capítulo II, da Encíclica Laudato Si, capítulo
que se intitula: “Evangelho da Criação”.
Sim, “a Boa Nova”
(=Evangelho) é também saber que, com todas as criaturas, tal nós também o
somos, formamos a vida em integração
contínua, por isso que a leitura da passagem do Gênesis a propósito da
Palavra de Deus: “Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a! Dominai
sobre os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que se movem pelo
chão” (Gn 1, 28 tradução da Bíblia da CNBB), não pode ser leitura
fundamentalista da supremacia prepotente da mulher e do homem sobre os demais
seres da natureza, mas leitura que
promova a incessante comunhão no “sentir-se reconciliado” e, assim, sem
divisões ou inimizades, sentir a paz
como expressão da inocência.
Sentir-se em paz é sentir-se acolhido e integrado.
É o que a vida nos pede: acolher e integrar todos e tudo.
Então, diz muito bem o
Papa Francisco:
“A melhor maneira de colocar o ser humano no seu lugar e
acabar com a sua pretensão de ser dominador absoluto da terra, é voltar a
propor a figura de um Pai criador e único dono do mundo; caso contrário o ser
humano tenderá sempre a querer impor à realidade as suas próprias leis e
interesses”. (Laudato Si, nº 75, pg. 62 – edições Paulinas).
O Deus-Amor, justo
porque é pleno amor, nada impõe.
O Deus-Amor, por sua
Palavra que é o Cristo Jesus – “E a Palavra se fez carne e veio morar entre
nós”, do Evangelho de São João, capítulo 1, versículo 14 – tudo criou, “não do
caos nem do acaso” (Laudato Si nº 77, pg. 63 – edições Paulinas), mas porque o amor não é solidão, necessariamente tem
que criar e tem que se comunicar, para propor, para oferecer às suas criaturas
– mulheres e homens – a vida em abundância, construída paulatinamente em atos
de livre opção. Por isso, São Paulo diz aos gálatas: “É para a liberdade que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos
deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão”. (Gl 5, 1).
E a liberdade cristã, se
define a mulher e o homem como seres
únicos e irrepetíveis, todavia não considera a nossa unicidade e a nossa
irrepetibilidade para a exaltação do egoísmo pessoal, enclausurado no self made man (=o homem feito
exclusivamente por si mesmo), mas como
atributos pessoais e próprios, justamente para que assim sejam
oferecidos aos demais, partilhados com os demais.
Torno às sábias palavras
do Papa Francisco:
“86. O conjunto do
universo, com as suas múltiplas relações, mostra melhor a riqueza inesgotável
de Deus. Santo Tomás de Aquino sublinhava, sabiamente, que a multiplicidade e a
variedade provem da intenção do primeiro
agente o qual quis que o que falta a
cada coisa para representar a bondade divina, seja suprida pelas outras,
pois a sua bondade não pode ser
convenientemente representada por uma só criatura”. (Laudato Si, nº 86, pg.
70 – edições Paulinas).
Toda a atitude de
açambarcar, todo comportamento de dominar, todo o conduzir-se que se centraliza no absoluto poder, no absoluto prazer, no
absoluto possuir é degradante e, no nosso Brasil, o cotidiano da corrupção
e do desprezo à vida, pelas mais variadas formas, é o eloquente retrato do
obscurantismo porque estampa o
servilismo à coisificação a ponto de alcançar a própria coisificação do ser humano.
Eu já não sou; eu compro e vendo, inclusive a mim mesmo.
Mais uma vez, o Papa
Francisco:
“Deixamos de notar que alguns se arrastam em uma miséria
degradante, sem possibilidades reais de melhoria, enquanto outros não sabem
sequer o que fazer com o que têm, ostentam vaidosamente uma suposta
superioridade e deixam atrás de si um nível de desperdício tal que seria
impossível generalizar sem destruir o planeta. Na prática, continuamos a
admitir que alguns se sintam mais humanos que os outros, como se tivessem
nascido com maiores direitos.” (Laudato Si, nº 90/91, pgs. 74/75 – edições
Paulinas).
Com toda coerência, o
ensino social da Igreja católica, consolidado no Compêndio da Doutrina Social
da Igreja, infelizmente desconhecido por expressiva quantidade de leigos e
religiosos católicos – se o lessem e o
pusessem em prática, certamente nossa casa comum estaria em condições muito
melhores – enfatiza o princípio do bem comum como um dos seus pilares na
construção de sociedade verdadeiramente humanista.
Pelo princípio do bem
comum: “a responsabilidade de perseguir o bem comum compete não só às pessoas
consideradas individualmente, mas também ao Estado, pois o bem comum é a razão de ser da autoridade política”.
(Compêndio da Doutrina Social da Igreja nº 168 – pg. 103).
No Brasil, e já há bom
tempo, quão longe estão nossos representantes políticos desse fundamental
ensinamento. Nós, e está em nossas mãos, pelo contínuo exercício da
participação política consciente, devemos exercer a cidadania ativa porque, se não o fizermos, os que nos
representam sentir-se-ão como nossos
senhores, e não o são. Aqui, o tema é vasto e propiciaria novo artigo, mas para
que eu próprio não incida na crítica que faço ao imobilismo de nossa cidadania,
a vocês, amigas e amigos leitores, nos espaços de atuação de cada qual, eu
proponho que nos engajemos na adoção de primeira, e concreta, medida: que todos nos irmanemos pelo fim da
reeleição em todos os níveis – municipal, estadual e federal – e pelo fim da
sucessão familiar de quem foi eleito para um único mandato.
Sábias palavras...O ser humano nasce
ResponderExcluirdo amor,é conectado ao universo e a todos os seres.
Não está só, pois dentro em seu espírito é repleto de luz.
O mundo ilude a pessoa a viver fora no mundo externo...esquece a alma.
Mas a vida é encontrada dentro, somos feitos perfeitos no espírito
conhecendo sua própria natureza o
homem conhece a natureza do seu semelhante e respeita a si mesmo,
consequentemente respeita a todos por que sabe que somos iguais e a
vida é toda interligada com o universo,então a pessoa olha para o céu a noite e sente conexão com a lua e estrelas,sente compaixão pelos animais e toda forma de vida crescendo sempre interiormente se sentindo parte do criador... Se tornando íntimo dele.