21 de setembro e, com ele, os pingos, que são gotas, que se fazem sucessivas, a chuva, então, anunciada pelos solenes, e ritmados, trovões e os relâmpagos, que clareiam o céu de Brasília.
O telefone toca e André, meu neto de 5 anos, do outro lado da linha: “Vovô, viva a chuva! Ela chegou!”.
Sim, ela chegou, e o chegar, para mim, ganha sentido tão mais proveitoso quando não significa acabar, mas sim surgir.
Nós não nos vocacionamos como seres acabados, seja porque terminados, ou porque liquidados.
Ainda que a aridez queira ressecar nossos dias, mesmo que a secura nos entorpeça e nos faça vacilar, a respiração ofegante, o ar que não está límpido, há sempre, em nós, a voz infantil, que não se sujeita a critérios de conveniência protocolar; que não abafa a espontaneidade, como expressão honesta do que se sente; que celebra o novo tempo, porque viver é realizar, de novo, o novo.
A história não se repete, simplistas e superficiais são os corifeus dessa visão, porque não há o fim da história.
Quem chega, quem surge, mesmo que o faça em tempo previsível, jamais chega como antes chegara.
A possibilidade deixa sempre em aberto a permanente construção da existência e impede o ponto final.
Na verdade, a possibilidade é a certeza da infinitude, a garantia de se estar além dos limites, e transcender.
Tantas e tantos que se arvoram nas ramificações do desvairado egocentrismo e da uniformizada truculência na ilusão de se constituírem nos supremos árbitros dos demais, mergulhados estão no círculo hermético em que se encerram, e então terminam.
Primavera: surgem flores, pela vez primeira; ressurgem flores, de tantas vezes e modos. A natureza surge e ressurge na profusão de cores, alegria da heterogeneidade, encanto do que se faz diverso, profusão de vida nascente.
“Vovô, viva a chuva! Ela chegou!”
Paz e Bem!
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