Diante de mim, a face e o sorriso tão harmônicos na serenidade e firmeza da Irmã Dorothy Mae Stang, covardemente assassinada porque ousou dedicar-se a resgatar irmãs e irmãos da exploração cotidiana, estimulando-os a traçar o caminho comum, a construir a própria história, a viver com dignidade.
Angustio-me porque passados já seis ( 6 ) anos, o mandante de seu hediondo homicídio, cuja alcunha é “Taradão”, caminha livre, sobrepairando à justiça dos homens.
Meus olhos vão e voltam, no percurso incessante dos dias, às cinco ( 5 ) frases, extraídas do Salmo nº 1, postas abaixo da face e do sorriso de Dorothy Mae Stang:
“Feliz quem confia no Senhor!
Ela é como uma árvore
Plantada junto ao rio
Suas folhas são sempre verdes
Ela dá seus frutos no tempo certo.”
Meu pensamento escapa, e deparo-me com o desvairio de Realengo: vidas juvenis abortadas.
Tanta solidão e desencanto nas mãos assassinas.
Tanto cinismo e frieza nos que, magoados e feridos de outrora, escondem-se de si mesmos e, portanto, da própria verdade, homiziando-se no tudo relativizar, até a própria constituição natural, sob o viés manipulador do mero sentimento, transitório e fugaz, afeiçoado como razão de ser.
Por essa vida vivida, tenho dito sempre que: “a única certeza que tenho é a morte; não sei o que me reserva o dia de amanhã.”
Considero por essa vida, que vivo, e por Dorothy Mae Stang, pelos adolescentes de Realengo, e por tantas e tantos, que “a única certeza que tenho, é a vida.”
A morte é só um episódio e, porque episódio, jamais definitivo, ainda que muito sofrido.
Afinal: “a árvore plantada à beira de um riacho sempre dá fruto no devido tempo, e suas folhas nunca murcham.”
Isso é a ressurreição: não estancar na aridez da decepção; não temer testemunhar valores diante de quem quer que os queira travesti-los; experimentar no finito, o infinito.
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