No Sermão da Montanha, para mim o
núcleo central do ensinamento de Jesus Cristo, há breve frase tão plena de
valiosíssima orientação para todos nós.
Diz Jesus Cristo:
“Seja o vosso sim, sim; e o vosso não, não”. (Evangelho de
São Mateus 5, 37).
Essa frase remete-nos a
nosso íntimo. Convida-nos a mergulhar no nosso próprio ser para descobrir o que
somos, e agir, então conhecendo a verdade, como somos.
Nós não fomos feitos
para os arranjos oportunistas, aliás não fomos feitos para arranjo algum porque
o arranjo é a mentira travestida em verdade.
Nós não somos feitos
para as concessões traiçoeiras com as quais nos acostumamos e delas sempre nos
valemos para, inescrupulosamente, barganhar vantagens, favores, cenário de
falsidades.
“Sede o vosso sim, sim;
o vosso não, não”.
Essa frase nada tem de
intolerância e nada tem de insensibilidade.
Essa frase liberta-nos.
Liberta-nos da padronização dos estereótipos, da massificação em que nos
dissolvemos, transformados em obedientes consumidores de estilo de viver
repetitivo, alienado, medíocre. Se temos o que nos ofertam materialmente, se
nos satisfazemos com os produtos do supérfluo erigidos em essenciais, de nós
desaparece o cuidar, expressão mais pura do voltar-se para o outro, do
envolver-se com o outro, do constituir o outro no seu próprio ser.
A arrogância
enclausura-nos. Gracejamos, menosprezamos, humilhamos.
As notícias das
degradações e das atrocidades em escala local, nacional e internacional são
simples registros de conversas, dotadas essas conversas da informalidade do
cotidiano ou da solenidade de foros maiores, que nada mais fazem do que
reproduzir passos burocráticos dos que governam, dos que legislam, dos que
julgam.
“Seja o vosso sim, sim;
e o vosso não, não” é a dignidade de afirmar e de negar na motivação única do
ato e do comportamento consciente, expressão lídima de quem desceu às próprias
raízes humanas e, então, reconheceu que não nos bastamos por nós mesmos, que
somos vocacionados a ir além de nós mesmos – e ir além de si mesmo é ser
fraterno -, que nosso fim não tem fim
porque por ele somos em Deus.
O Papa Paulo VI, na sua
maravilhosa Carta Encíclica “Populorum Progressio”, leitura fundamental para
nosso crescer pessoal e comunitário, ensina:
“42. É necessário promover um humanismo total. Que vem ele a
ser senão o desenvolvimento integral do homem todo e de todos os homens?
Poderia aparentemente triunfar um humanismo limitado, fechado aos valores do
espírito e a Deus, fonte do verdadeiro humanismo. O homem pode organizar a
terra sem Deus, mas sem Deus só a pode organizar contra o homem. Humanismo exclusivo é humanismo desumano.
Não há, portanto, verdadeiro humanismo, senão o aberto ao Absoluto,
reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exata do que é a vida humana. O
homem, longe de ser a norma última dos valores, só se pode realizar a si mesmo,
ultrapassando-se. Segundo a frase tão exata de Pascal: O homem ultrapassa infinitamente o homem.” (leia-se: Populorum
Progressio nº 42- pg. 35).
Que assim seja porque a
conversão de vida, o Deus-Amor nos oferece e propõe todo dia.
2 comentários:
Excelente reflexão, como de costume. Realmente esse ensinamento nos liberta, nunca havia enxergado dessa forma. Obrigada Professor.
Claudio,
Escreve sobre Francisco de Assis.
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