sábado, 13 de dezembro de 2014

CORRUPÇÃO

                                          
“Toda corrupção cresce e, ao mesmo tempo, se expressa em atmosfera de triunfalismo. O triunfalismo é o caldo de cultura ideal de atitudes corruptas, pois a experiência diz que essas atitudes dão bom resultado, e assim a pessoa se sente ganhadora, triunfa. O corrupto se confirma e ao mesmo tempo avança nesse ambiente triunfal. Tudo vai bem. E nesse respirar o bem, usufruir o vento em popa, reordenam-se e se rearranjam as situações em valorações errôneas.” ( pg. 31 – grifos do original ).
Inicio com essa transcrição, presente no opúsculo “Corrupção e pecado”, escrito pelo então arcebispo de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, aos 8 de dezembro de 2005, por ocasião de Assembléia Arquidiocesana.
Palavras verdadeiras.
É o processo que há mais de 50 anos o Brasil vem padecendo, entremeado, por mais de uma vez, de golpes sofridos na busca da formação e consolidação democrática de nosso País, golpes que, ironicamente, brandiram o combate à corrupção como sua impoluta bandeira.
Os tempos midiáticos de hoje ufanam-se em vendavais intermitentes. Necessitam de espetáculo fantástico, como “show da vida”. Seduzem personagens ao topo de seu ego e, então, inebriados pelo poder, pelo prazer e pelo possuir tais personagens assumem-se como inexpugnáveis, inatingíveis por deles emanar o padrão a ser seguido.
Torno ao Papa Francisco:
É justamente esse triunfalismo, nascido de sentir-se medida de todo juízo, que lhe dá vaidade para rebaixar os outros à sua medida triunfal. Explico: em um ambiente de corrupção, uma pessoa corrupta não deixa crescer em liberdade. O corrupto não conhece a fraternidade ou a amizade, só a cumplicidade. ( pg. 32 – grifos do original ).
O triunfalismo é o método mais eloquente de mascarar a verdade porque o triunfalismo não busca a verdade, vez que a reduz a objeto passível de manipulação.
O triunfalismo desperta e motiva a auto-suficiência, que não tolera questionamentos, que abdica do diálogo, alimentando-se de “slogans” preconcebidos e preconceituosos como que a tranquilizar a precariedade, por certo não as tem, de suas convicções. Prossigo com o Papa Francisco:
“O corrupto costuma se perseguir de maneira inconsciente, e é tal a raiva que lhe causa essa perseguição que a projeta nos outros, e, de autoperseguido, transforma-se em perseguidor. São Lucas mostra a fúria desses homens (cf. Lc 6,11) diante da verdade profética de Jesus: “Mas eles encheram-se de furor e indagavam uns aos outros o que fariam a Jesus”. Perseguem impondo um regime de terror a todos aqueles que o contradizem (cf. Jo 9,22) e se vingam expulsando-os da vida social (cf. Jo 9,34-35). Têm medo da luz porque sua alma adquiriu características de verme: vive nas trevas e debaixo da terra. O corrupto aparece no Evangelho jogando com a verdade.” ( pg. 10 ).
A violência pessoal, coletiva, ou institucionalizada é, também, manifestação do ser corrupto.
No entanto, avizinha-se o solstício de verão em nosso hemisfério: o dia 25 de dezembro expressa-o.
O que era trevas, fez-se luz. E a luz veio habitar entre nós para nos convidar a sermos: filhos da luz, como se exprimia o evangelista João, que com Jesus conviveu, intensamente.
Para mim, esse o sentido forte do Natal: a possibilidade de, apesar dos pesares, ser luz e então: reunir a família nas gerações presentes, e orar; orar e ampliar a oração a que envolva amigos e tantos outros mais, para que, de verdade, se possa celebrar a presença de Jesus em nós, para que sejamos melhores na vivência da paz e do bem; portanto, esperando contra toda a esperança e tornar concreta, real, a esperança porque, como aprendo com o Papa Francisco:
“O corrupto não tem esperança. O pecador espera o perdão; o corrupto, no entanto, não porque não se sente em pecado: triunfou.” ( pg. 32 ).
Eis porque lhes desejo: Feliz Natal, pleno de esperança.