quarta-feira, 23 de novembro de 2011

TESTEMUNHO

         O que me é pedido faz-se em testemunho pessoal no plano da dimensão sócio-política.

         Exerci, em meu País, o cargo de Procurador-Geral da República nos anos de 2003 a 2005.

         A questão mais importante, que surgiu nesse período, centrou-se na defesa da vida.

         Com efeito, o Parlamento brasileiro autorizou, sob o pretexto de cura possível de doenças degenerativas, e outras mais, a pesquisa com células-tronco embrionárias.

         Questionei a constitucionalidade dessa lei, porque utilizar embriões humanos em tal tipo de pesquisa significar matar o embrião humano, matar a vida humana em seu estágio inicial pela simples e definitiva razão de que na concepção há a vida humana porque na concepção, no exato instante da união dos gametas masculino e feminino, define-se o código genético do ser concebido, que não se altera enquanto viver.

         Pelo olhar da religião, em perfeita sintonia com o da ciência – e na ciência jurídica o primeiro de todos os princípios constitucionais é o da inviolabilidade da vida humana -, tem-se no Evangelho de S. João, no capítulo 10, versículo 10, que: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.”

         Portanto, a presença do Deus-Amor na história humana é de nos ensinar a primazia da vida em todas as suas dimensões – humana, animal e ambiental – e sobre toda e qualquer construção sócio-política e cultural.

         Nos dias de hoje, a ciência volta-se para outra linha de pesquisa, valendo-se das chamadas células-tronco adultas, ou seja, as que são obtidas da própria pessoa, sem o sacrifício de sua vida, e resultados positivos vão sendo obtidos, passo a passo, nessa abordagem.

         O próprio Vaticano associou-se com a sociedade biofarmacêutica NeoStemInc., em maio de 2010, para, em conjunto, incentivarem a pesquisa e sensibilizarem a opinião pública sobre os tratamentos terapêuticos com células-tronco adultas.

        Por ocasião dos debates sobre essa questão vital, aqui no Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil instituiu a “Semana Nacional em Defesa da Vida”, celebrada de 1 a 7 de outubro, a cada ano, e o dia 8 de outubro como o “Dia Nacional do Nascituro”.

         Convido a todas as irmãs e a todos os irmãos, presentes neste Capítulo Geral que, nos seus respectivos Países, promovam junto às respectivas Conferências Episcopais a instituição de Semana e do Dia em Defesa da Vida e do Nascituro.

         O seguimento de Francisco conduziu-me a outra atitude em minha vida.

         Terminado o meu mandato como Procurador-Geral da República, e passado breve período, não permaneci no desempenho de funções públicas oficiais.

         Com minha esposa Ângela, fomos compartilhar da vida das irmãs e dos irmãos dependentes químicos, sob a perspectiva do método chamado “amor exigente”, nas comunidades conhecidas como “Fazenda do Senhor Jesus”.

         Nesses anos todos pude descobrir o que, para mim, é o verdadeiro sentido da alteridade.

         O outro não está fora de mim. O outro é dentro de mim, por isso posso envolver-me (= movimentar-me para dentro) com ele.

         Creio que essa foi a forte percepção de Francisco de Assis, a principiar com o beijo no irmão leproso, a respeito do amor incondicional de Jesus, até culminar na morte de cruz, por todos nós.

         Somos seres relacionais, como relacional é sempre a manifestação da Trindade Santa, que impede que Deus seja solidão, mas eternamente é comunhão.

         Não devemos desanimar, mas sempre caminhar, e no caminho acolher e convidar continuadamente.

         Encerro oferecendo-lhes a “Oração da Serenidade”, que aprendi com minhas irmãs e meus irmãos da Fazenda Senhor Jesus, e de quem me tornei feliz dependente:

“Senhor conceda-me a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar. Coragem para modificar aquelas que eu posso. Sabedoria para distinguir umas das outras.”


                                                                               Paz e Bem!

        

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Capítulo Internacional Franciscano

         Dádiva de Deus, Ângela e eu, termos participado ativamente do Capítulo Geral Internacional Franciscano da OFS, em S. Paulo.

         Irmãs e irmãos de tantas partes do mundo: dos continentes africano, asiático, europeu e das Américas do sul, central e norte.

         Procedeu-se à avaliação do triênio cumprido pelo atual Conselho Internacional – 2009/2011 – com vistas ao triênio seguinte – 2012/2014 – pois que ao nível de Conselho Internacional o mandato é de 6 anos.

         Esse foi o 13º Capítulo Internacional pela primeira vez acontecido na América do Sul e sediado no Brasil.

         De par com o natural enriquecimento causado pelo encontro de diversas culturas, impressionou-me a vitalidade das irmãs e irmãos seculares da África, Ásia, Europa oriental e América latina no viver a mensagem de Francisco de Assis.

         Muitos os desafios porque passam, até perseguições, mas permanecem firmes, impulsionados pela vivência da fé e pelo carisma franciscano em testemunho claro de pertença à forma de vida abraçada.

         Zelosos, alegres, firmes, elas e eles não se detêm.

         Realmente, suas mãos estão no arado, e não olham para trás.

         O local que desfrutamos nos 7 dias era retirado. Propiciou-nos o recolhimento, celebrações litúrgicas, apresentações temáticas e manifestações culturais, tudo integrado à natureza, espaçosa e em flor.

         Testemunhos eloquentes foram partilhados. As misérias da guerra civil em terras de Angola e Ruanda. O desastre incomensurável no Haiti. A missão do franciscano secular.

         Conto-lhes, leitores, algo tão denso: irmãzinha secular francesa – e digo irmãzinha porque tão doce, suave e dedicado o seu ser – mostrou-me foto de uma mulher de Ruanda, acamada em um hospital, padecendo dores tantas e em grave quadro de saúde, causado pela AIDS, cega em seu leito. Pois essa mulher de Ruanda, em conversa com nossa irmãzinha francesa, que dela cuida com desvelo, porque assessora internacional do CIOFS justamente para os países africanos de língua francesa, poucos dias antes da realização do Capítulo, baixinho dissera-lhe: “tenho falado com Deus para que as dores, que padeço, ofereço-as ao bem do Capítulo, que vai acontecer.

        De minha parte, e relato minha intervenção por último, eis que mesmo pequena diante do que acabo de narrar, o que falei dividi em duas reflexões: uma sobre o empenho na defesa da vida, principalmente do nascituro; e a outra pelo desapego a cargos e títulos públicos porque, para mim, em minha vida, o seguimento de Francisco de Assis a isso conduziu-me, e me sinto tão feliz.

         Feliz também fiquei quando, ao citar o acontecido com nossa Conferência episcopal, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB -, que, por ocasião dos debates sobre o uso dos embriões humanos para fins terapêuticos, instituiu a Semana Nacional em Defesa da Vida, de 1 a 7 de outubro, e o Dia Nacional do Nascituro, dia 8 de outubro, o Capítulo Internacional decidiu que todas as fraternidades seculares devem, junto às suas respectivas conferências episcopais, adotar ações concretas para que, também em cada país de que são nacionais, institucionalize-se a Semana Nacional em Defesa da Vida e o Dia do Nascituro.

                                                          Paz e Bem!